Dicas

Espera muito de pessoas que não lhe retribuem? Este apontamento é para si

 
São muitas as pessoas que dizem que fazem tudo pelos outros e que não recebem nada em troca e que, dão tanto que se chegam a esquecer de si mesmas.

Se por um lado é importante ser capaz de cultivar o altruísmo; ter capacidade de dar sem receber algo em troca, por outro, temos de assumir que também não é saudável dar tanto sem que o outro nos retribua pelo menos o seu respeito e consideração. O simples ato de dar só porque se tem o coração cheio de boa vontade, é amplamente criticado por muitos psicólogos emocionais que nos recordam da importância de mantermos uma boa autoestima, equilíbrio e sanidade mental.
 
Há pessoas com tanta disponibilidade para os outros que se dão incondicionalmente até ao ponto de se sentirem frustradas e vazias, mas será que é isso uma forma positiva de estar na vida? Na posição dos mesmos psicólogos, essas pessoas tentam ao máximo agradar para que sejam aceites, amadas e acarinhadas, mas se o outro não estiver em sintonia ou se não for uma pessoa empática, de nada lhes serve dar tanto de si, pois não há relações saudáveis e equilibradas sem que ocorram trocas. Naturalmente que não estamos a falar de bens materiais, mas acima de tudo, de emoções. Alguém que dá o seu amor, não pode colher desprezo em troca, sob pena de comprometer a sua autoestima, o seu respeito pessoal e prazer pela vida.
 
De acordo com os mesmos especialistas, o amor para que se desenvolva precisa necessariamente de recetividade, razão pela qual não faz qualquer sentido entregar o nosso coração a pessoas que não são capazes de nos devolver sentimentos positivos, já que isso é uma perda de tempo, de energia e de bem-estar. «Conduz-nos ao sofrimento dar e não receber», sublinham os mesmos entendidos.
 
Neste sentido, «devemos amar o nosso parceiro ou parceira, devemos dar amor em troca dele a pessoas que tenham essa disponibilidade e, aprender a proteger-nos dessa grande vontade de dar indiscriminadamente, recomendam os mesmos psicólogos emocionais.
 
Devemos investir o nosso amor, carinho e atenção no nosso núcleo familiar e compreender que, fora dessa esfera, as relações devem ser mais livres e soltas para que não tenhamos de dar acima dos nossos limites e capacidades. No fundo, é de gestão emocional que se trata, pois aprendemos a dar com conta, peso e medida e não somente porque temos essa grande vontade dentro de nós.
 
Os mesmos especialistas lembram que é fácil ter esse grande desejo de dar amor aos outros, de fazer boas ações, de praticar o bem coletivo, mas quando temos um meio de expressar esse grande amor com aqueles que realmente estão ao nosso lado, conseguimos “dosear” esses desejos e torná-los mais realistas. Anotam os mesmos entendidos nesta matéria que, geralmente quando temos essa grande vontade de dar aos outros, é porque temos uma carência dentro da nossa célula familiar e emocional, pelo que devemos começar por aí a entender-nos. Quando estamos preenchidos, conseguimos dar com moderação porque também não nos preocupamos tanto em agradar aos outros, nem em ser aceites. Desligamo-nos mais, somos mais livres e mais felizes porque também contamos menos com retribuições.
 
Se pensarmos conscientemente no sofrimento que nos acarreta dar muito e não conseguir receber algo em troca, vamos certamente mudar de atitude, sublinham os mesmos entendidos. «Aprendemos a dar a quem nos retribui e, ainda vamos mais longe, só nos alimentamos para dar mais quando sentimos o reconhecimento e o valor dessa pessoa perante as nossas ações. Tornamo-nos mais exigentes, mas ao mesmo tempo, mais realistas e equilibrados».
 
Para finalizar, registe que, é importante mudar alguns conceitos que têm vindo a fazer parte da educação e que nos limitam o pensamento e as ações. No passado era normal ser “um escravo” dos outros, estar à mercê das suas vontades sem esperar algo em troca. No nosso país, por exemplo, era tradição acolhermos muito bem todas as pessoas que vinham de fora, mesmo que isso implicasse maltratar cônjuge e filhos. Era normal acolher bem “as visitas” que nos chegavam a casa e depois agredir a família. Naturalmente que os tempos mudaram e com essas alterações também temos de aprender a valorizar mais o que temos e o que somos. Hoje já ninguém aceita ser maltratado em detrimento de outrem, tal como o respeito se impõe como uma bandeira. É por essa razão que sublinhamos a importância de tratar muito bem as pessoas que nos são próximas, que nos tratam bem e sabermos colocar no devido lugar quem é conhecido e que merece o nosso respeito, mas não essa entrega incondicional.
 
Depois, é também preciso construir a autoestima e o amor próprio que são essenciais à vida e a garantia de que temos prazer em acordar diariamente para um novo dia e um novo desafio e, o facto de estarmos sempre a dar a quem não nos retribui, faz com que se perca essa motivação e entusiasmo. Antes de amarmos alguém, temos de nos amar a nós mesmos, temos de cuidar de nós carinhosamente, temos de estabelecer os nossos limites e de ponderar muito bem as nossas ações. Recorde-se que, até o amor, que aparentemente é inato em nós, tem de ser inteligente para que perdure. Dar algo a alguém também deve ser um ato refletido e inteligente, pois só assim evitamos dar acima da medida e estar permanentemente à espera de uma retribuição.
 
É natural que, no início sinta alguma dificuldade, pois passará a ter de agir de forma consciente e a ter de pensar antes de agir, mas aos poucos, irá perceber que, no fundo, os outros também não lhe pedem para dar tanto, você dá porque quer e porque tem essa disponibilidade e vontade interior, então das duas uma, ou dá e não procura algo em troca, ou aprende a dar menos. Este é o seu desafio a partir de hoje, boa sorte!
 
Fátima Fernandes