As relações humanas revestem-se de ilusões e desilusões, sendo que, as que mais nos magoam são as que se referem a pessoas próximas e por quem nutrimos emoções profundas.
Na posição dos psicólogos, é praticamente impossível que passemos pela vida sem que nos iludamos e que desiludamos. Faz parte da relação que estabelecemos com os outros. À medida em que passamos mais vezes por essa sensação, vamo-nos sentindo mais preparados para reagir e até para aceitar que as pessoas não correspondem exatamente ao que gostaríamos, que temos de aceitar as diferenças, os modos de atuação distintos e aprender a moderar as expectativas. Contudo, é praticamente impossível que não fiquemos desiludidos, magoados, tristes e sem saber o que pensar.
«Essencialmente, devemos dar tempo e espaço a nós próprios para que consigamos analisar o que aconteceu e o que nos desiludiu, que aceitemos o que estamos a sentir, que respeitemos os nossos pensamentos e necessidades nesse momento», realçam os especialistas em comportamento humano.
É fundamental ir ao fundo da dor, respeitar o nosso ritmo interno, as emoções desagradáveis para depois podermos pensar no passo seguinte. Para tal, os entendidos recomendam que não tomemos decisões precipitadas e ainda menos quando estamos com raiva ou outras emoções negativas, «uma vez que podemos arrepender-nos por não conseguirmos concretizar aquilo que desejamos e libertar-nos dessa dor».
Torna-se ainda muito importante que não se culpabilize pelas ações de quem o desiludiu, uma vez que isso só acarreta mais sofrimento e não faz qualquer sentido. Não temos de responsabilizar-nos pelas ações dos outros porque a cada um compete fazê-lo. Devemos sim concentrar-nos no que isso nos afetou e assumi-lo frontalmente para que depois possamos analisar mais friamente o ocorrido e ponderar uma atuação, recomendam os psicólogos.
Ao mesmo tempo, também não devemos imaginar que nós é que estamos sempre errados, que o outro agiu bem e que nós é que falhamos. O imperioso é que tentemos colocar-nos o mais possível fora do problema para que o possamos observar de fora e avaliar a dimensão do que deu lugar a essa deceção. É evidente que, muitas das nossas desilusões resultam de expectativas demasiado elevadas em relação às pessoas e às situações, mas nem sempre isso é assim.
Sabemos que há pessoas que nos enganam com ou sem intenção, que há quem se aproveite dos nossos sentimentos, vulnerabilidade e daí por diante, pelo que, quando pensamos em conversar com a pessoa que nos magoou, temos de incluir esta dimensão e avaliar se vale a pena arriscar uma segunda tentativa, alertam os entendidos.
Se chegarmos à conclusão de que a outra pessoa merece uma segunda oportunidade, devemos considerar:
1. Aceitar a realidade como ela é
Evitar a realidade apenas prolonga o desconforto. Olhe para o que ocorreu sem culpas ou julgamentos e pondere uma decisão consciente e realista.
2. Permitir-se sentir
Quando alguém coloca em causa a confiança que lhe depositamos, é natural que sintamos tristeza, raiva e desconfiança. Podemos sentir desconfortos físicos de vária ordem como: dor no peito, um peso difícil de suportar, um “nó na garganta” ou um vazio emocional enorme, instabilidade, excesso de fome ou falta de apetite, insónias, alterações de humor e daí por diante. Não fuja dessas manifestações que o seu organismo apresenta para mostrar que está a passar põe uma fase difícil e dolorosa.
3. Moderar as expectativas
Analise a situação avaliando se as suas expectativas são realistas, se exagerou no que esperava do outro ou se a pessoa em causa não é mesmo merecedora da sua confiança, carinho e atenção.
4. Desabafar com alguém da sua confiança
Procure alguém que não o julgue, que o ouça e que até lhe possa apresentar outras perspetivas de análise, já que isso irá abrir-lhe a mente e permitir que se ouça a si mesmo. O desabafo é um dos melhores aliados para ultrapassar situações dolorosas.
5. Admitir que pode aprender com essa experiência
Quando algo de menos positivo nos acontece, um dos desafios é aceitar que, numa próxima situação já não vamos passar pelo mesmo, nem da mesma forma. Aprendemos com as experiências, refletimos sobre elas e preparamo-nos para outras vivências com mais maturidade. Agarre esta ideia, uma vez que será uma boa maneira de aceitar o que aconteceu e de seguir em frente.
6. Ponderar falar com a pessoa que o desiludiu
Existem situações em que vale a pena conversar com a pessoa e tentar perceber o que aconteceu até para crescer emocionalmente, mas essa é uma decisão pessoal e deve ser ponderada, sob pena de se acrescentarem mais desilusões, caso a pessoa em causa não corresponda ao que gostaria.
Também é válido que não queira falar com a pessoa e que faça o seu próprio processo de cura, tal como se inclui a possibilidade de reatar uma relação quando ambas as partes estão interessadas, mas todas as decisões devem ser ponderadas, conscientes e assumidas, aconselham os especialistas.
Se decidir conversar com quem o desiludiu, tenha em conta a importância de manter uma comunicação calma, a disponibilidade para ouvir os argumentos do outro, escolher um ambiente convidativo e tranquilo, expressar o que está a sentir e avaliar o interesse e recetividade do outro. Tome as suas decisões depois de uma análise e de uma reflexão, sem julgamentos que o impeçam de ver a realidade, sem acusações, mas com consciência da pessoa que tem à sua frente, concluem os psicólogos, sublinhando a importância de colocar limites para que a situação não se repita nem com essa, nem com outras pessoas, «pois podemos e devemos sempre melhorar-nos de relação para relação».