Dicas

Crianças criadas numa família tóxica

 
Uma família tóxica ou disfuncional assume um conjunto de comportamentos prejudiciais aos seus membros, sem esquecer as implicações negativas que exerce sobre os filhos.

Por norma são famílias que não respeitam a individualidade dos restantes elementos, que vivem num ambiente agressivo, seja verbal ou fisicamente e em que as relações se processam de forma destrutiva.
 
As crianças criadas neste tipo de ambiente começam desde muito cedo a desenvolver uma ideia errada da sociedade, das relações e da vida em geral, o que lhes faz acumular um conjunto de características destrutivas e negativas que se vão refletindo ao longo do seu percurso.
 
Sendo as crianças “o elo mais fraco”, são elas o alvo da maior parte das agressões físicas e psicológicas que, na maioria das vezes passa por nomes, humilhações e ofensas de todo o tipo.
 
Tendo por base uma publicação da revista A Mente é Maravilhosa, vamos listar as principais características destas famílias para que possa tomar consciência do “certo” e do “errado”:
 
1. A ausência de individualidade
 
As famílias tóxicas não sabem respeitar a individualidade dos seus membros, pelo que lhes é muito fácil «querem tudo à sua maneira». Os filhos são propriedade dos pais, têm de fazer tudo como estes desejam, têm de ter comportamentos semelhantes, linguagem comum e agir como se de um clã se tratasse. Neste “modelo”, não há espaço para que cada pessoa se desenvolva com as suas características, qualidades positivas e negativas, porque simplesmente tem de ser como os pais. Não há liberdade afetiva, muito menos qualquer expressão de afetividade entre os seus membros, o que até chega a ser entendido como perda de tempo e considerado uma patetice. As pessoas unem-se por obrigação e não por sentimentos genuínos.
 
Como consequência deste ambiente familiar, as crianças acabam por não se sentirem seguras, por acumularem medos e por estarem sempre à espera da aprovação dos outros para poderem fazer alguma coisa ou tomar uma decisão. Estas crianças crescem sem qualquer tipo de responsabilidade, pois ora são praticamente abandonadas pelos pais que não lhes ligam, ora são tão protegidas pelo clã que não conseguem ter qualquer autonomia. Estes progenitores são ambivalentes e acabam por baralhar os filhos com tais atitudes, o que inviabiliza um desenvolvimento saudável.
 
2. Superproteção ou negligência total
 
Na sequência do ponto anterior, estas famílias não têm um meio termo nem na convivência, nem na educação dos filhos, pelo que, oscilam entre o excesso de acompanhamento em tudo o que a criança faz, não lhe dando espaço e liberdade para pensar e, noutros momentos, desligam-se de tudo e  atiram-lhe todas as responsabilidades para cima, mesmo as que não são próprias para a sua idade. É fundamental ter em  conta que, a superproteção é o polo oposto da autonomia e da liberdade, razão pela qual gera grande dependência e danos emocionais.
 
«Se resgatarmos os nossos entes queridos de todo o mal, estamos a privá-los da oportunidade de crescer e de aprender a desenvolver as suas próprias estratégias de resolução. Isso gera uma intensa e devastadora sensação de inutilidade». No entanto, estas famílias sabem que ganham muito em proteger excessivamente os filhos, uma vez que, dessa forma, acabam por conseguir manipulá-los muito mais facilmente, já que os tornam vulneráveis e dependentes dos pais, o que permite que os mais velhos lhes controlem tudo.
 
No plano oposto, temos a situação em que estes pais se colocam numa posição de descarte dos filhos, em que praticamente negligenciam tudo e não assumem as suas responsabilidades. Desta forma, os mais novos crescem com uma terrível sensação de abandono e começam a desenvolver uma ferida emocional que os vai acompanhar pela vida fora. No fundo, é como se estes pais dessem e tirassem tudo ao mesmo tempo e, o problema é que o fazem no seu quotidiano, o que acarreta muito sofrimento nos filhos, sem esquecer os danos graves para a sua saúde em geral.
 
3. A regra do “o que não se fala não existe”
 
Evitar abordar um problema é uma das características mais comuns e prejudiciais destas famílias tóxicas. Estas pessoas não conversam, não ouvem os seus membros e, o pior de tudo, não assumem que existe um problema. Passam os dias com necessidade de descomprimir, de “descarregar” a sua fúria, mas nunca são capazes de sentar a família à mesa e de conversar abertamente sobre os problemas; sobre aquilo que se está a passar  seja com elas mesmas, seja com os filhos. Isto é uma ilusão de que “está sempre tudo bem” e, ao mesmo tempo, “uma bomba relógio” capaz de explodir a qualquer momento e que dá lugar a muita violência física e verbal.
 
Como não conversam abertamente sobre os mais variados assuntos, estas pessoas ainda se tornam mais agressivas e prontas a disparar para a escalada de violência. Naturalmente que, aqui reside o principal motivo da agressão, do mal-estar e do mau ambiente familiar. Estas crianças crescem sem saber comunicar, a sofrer os maus-tratos, a acumular tensões e sem poderem desabafar ou dialogar com alguém que os apoie e compreenda.
 
4. Falta de flexibilidade e limites difusos
 
A falta de flexibilidade em todos os aspetos impacta na ausência de limites saudáveis. Se um dos membros da família muda, o drama aumenta exponencialmente. Claramente, os membros da família acionarão todos os alarmes se alguém começar a amar-se e mudar de atitude. Nestas famílias tóxicas, os papéis são estabelecidos por meio de regras não escritas, de modo que tudo o que põe em risco o conforto ou  a calma familiar provocará atitudes extremas e dramáticas. Ao mesmo tempo, existe uma total e absoluta ausência de limites, o que produz uma falta de regulação emocional dos membros. Novamente encontramos a tendência ao drama, quer isso ocorra de forma velada ou não.
 
5. Abusos
 
Logicamente, todas essas disfunções na comunicação, na afetividade e na responsabilidade levam os familiares a cometerem abusos. Dentro da família costumam ser vistos como conflitos habituais num núcleo como este, mas estão longe de ser normais. Esses abusos podem ser contra os outros, como abuso físico ou emocional, ou contra si mesmo. É neste último caso que aparecem os vícios e a automutilação, por exemplo.
 
Como se percebeu, muitas destas famílias vivem de forma tão intensa o seu modelo que quase vivem à margem da sociedade, sendo que, nem se apercebem dos erros que cometem e do quanto estão a prejudicar o futuro dos seus filhos e a coabitar num ambiente tóxico e destrutivo.
 
É importante ter em conta que, estas características se afastam muito daquilo que é considerado normal e saudável pelo que, estes alertas podem ajudar na decisão de pedir ajuda para encontrar um novo rumo.
 
Muitas vezes, só o facto de se perceber que se está no caminho errado, pode servir de base para tomar consciência de que se merece uma vida melhor e um ambiente familiar mais positivo. É esse o objetivo deste apontamento.
 
Fátima Fernandes