Dicas

Quando as pessoas sensíveis crescem numa família tóxica

Quando as pessoas sensíveis crescem numa família tóxica
Quando as pessoas sensíveis crescem numa família tóxica  
Freepik
As famílias negligentes em termos emocionais tendem a desvalorizar e a criticar a sensibilidade de quem não pensa e não age como os restantes membros.

As crianças sensíveis que crescem nesse tipo de ambiente sofrem muito com a rejeição, com a ridicularização, minimização e desvalorização das suas habilidades e sentimentos porque sentem-se incompreendidas e até abandonadas emocionalmente.
 
Na maioria das vezes, estas crianças acabam por sentir-se pouco aptas para as tarefas que lhes são propostas só porque as sentem e pensam de outra forma e, os próprios pais e ou cuidadores lhes transmitem essa noção, o que pode influenciar negativamente o desenvolvimento que se quer saudável, respeitoso e equilibrado do ponto de vista físico e emocional.
 
Também é comum que as crianças sensíveis se sintam sozinhas porque nem os pais, nem os irmãos partilham desse tipo de personalidade e mostram-no da pior forma na convivência diária com depreciações que as levam mesmo a acreditar que estão erradas e que não podem permanecer com níveis de sensibilidade mais elevados e ditos “fora do normal, mas a realidade científica ilustra que, «ao invés destas crianças permanecerem num mundo de dúvidas e de incompreensão, devem, desde cedo, aprender a proteger-se, a valorizar-se, a desenvolver a autoestima e autoconfiança para que possam afirmar-se no mundo aceitando-se tal como são».
 
Carl Jung descreveu a personalidade altamente sensível como alguém que processa a sua realidade de uma maneira diferente, graças a uma sensibilidade inata e muito particular. O que quer dizer que, «não há nada de negativo nesses 20% da população que sente a vida e a realidade de uma forma distinta».
 
Além disso, estudos realizados na University of British Columbia e na Cornell University explicam que os cérebros  destas crianças «são um pouco diferentes do que os da maioria das pessoas, na medida em que,  tem uma variação genética designada por ADRA2b».
 
Essa particularidade influencia um tipo muito específico de neurotransmissor: norepinefrina que dá lugar a um sistema nervoso mais sensível, assim como a empatia e a sua capacidade de conexão e reação a qualquer estímulo.
 
Até ao momento, «não existem evidências científicas de que se trate de um traço de personalidade hereditário. O que se pode perceber é que muitas crianças sentem-se incompreendidas desde muito cedo porque existem poucas famílias que sabem atender, nutrir e responder a essa linguagem claramente emocional», registam os investigadores.
 
Pelo contrário, são recorrentes as famílias que, ao não entenderem que estas crianças são mais sensíveis e que precisam de uma atenção e afeto especiais, acabam por tratá-las de forma exatamente oposta, o que dá lugar a traumas profundos e a uma infância triste e muito dolorosa.
 
Em muitos casos, estas crianças são ignoradas, punidas, desrespeitadas e emocionalmente abandonadas, o que dá lugar a algum isolamento, tristeza e a níveis de elevada proteção emocional para conseguir suportar essa forma de tratamento negligente. Fazem de tudo para evitar o castigo, a violência, a crítica, mas a falta de compreensão parental não as ajuda ou protege.
 
De acordo com Jonice Webb, especialista nesta matéria, muitos pais veem esses pequenos traços como algo que deve ser corrigido. Para eles, a sensibilidade é uma espécie de fraqueza, portanto, não hesitam em punir, repreender ou comparar com irmãos ou outras crianças. Na sua opinião, os irmãos, por não apresentarem essa sensibilidade, são mais adequados para o mundo: choram menos, não sonham acordados e são mais fortes.
 
A alta sensibilidade é um traço genético, pelo que, não pode ser alterado. As pessoas que o possuem são mais sensíveis à dor, aos sons intensos e fortes, a alguns estímulos visuais, ao ruído de multidões ou de salas onde as pessoas se juntam e que falam muito alto. Também não lidam bem com a televisão ou a música alta, por exemplo. Neste sentido, cabe aos pais, entender, respeitar, acarinhar e, se necessário, optarem por ambientes mais tranquilos onde possam conversar calmamente, onde se encontre o prazer de estar e não somente de absorver sons desagradáveis que incomodam estas crianças mais sensíveis. É tudo uma questão de respeito e de adequação à personalidade e características de cada pessoa, pois afinal, não somos nem temos de ser todos iguais, mas temos o dever de respeitar-nos, alertam os especialistas, realçando que, «as emoções e a maneira como cada pessoa entende e se relaciona com o seu ambiente não pode ser vetada ou sancionada».
 
Em regra, estas crianças quando são negligenciadas emocionalmente sofrem de:
 
• Baixa autoestima.
 
• Problemas em estabelecer relacionamentos.
 
• Retraimento social (introversão).
 
• Maior vulnerabilidade ao bullying.
 
• Problemas em aceitar a própria identidade e para o desenvolvimento de uma personalidade segura e madura, entre outros pontos não menos relevantes.
 
Concluem os investigadores que, sentir o mundo de uma maneira diferente é um dom que deve ser respeitado, evidenciado e não criticado ou punido.
 
Respeitar os filhos sensíveis é um ato de amor, de aceitação e de respeito, pelo que, os pais que não sabem lidar com a situação, devem informar-se, pedir ajuda, mas de modo algum «devem desvalorizar, castigar ou tentar mudar quem tem o direito de ser exatamente como é».
 
Por seu turno, estas crianças, à medida em que vão crescendo, devem sentir coragem para afirmar-se, para aceitarem-se tal como são e entender que, somos todos diferentes e que há um espaço para todos neste mundo, temos é de saber encontrá-lo respeitando os demais e, acima de tudo, a nós próprios.