De acordo com os entendidos na área da psicologia, as pessoas que se irritam com tudo sofrem de carência emocional, carregam problemas mal resolvidos, não acreditam que os outros as possam ajudar e, como tal, lidam sempre à defesa como forma de protegerem as suas emoções.
Quem lida com estas pessoas em casa, no trabalho, nos grupos de pertença, acaba por tornar-se “num saco de pancadas” a ponto de receber um conjunto de comportamentos tóxicos que envolvem más respostas, reações impulsivas, agressividade, mau humor e fraca empatia, o que dificulta o diálogo e o entendimento.
De acordo com os especialistas, é fundamental que entendamos as causas dessa raiva acumulada e que se liberta num simples cumprimento ou perante a pergunta: “como estás?”, mas que não aceitemos tudo, sob pena de prejudicarmos gravemente a nossa saúde emocional. Compreender é estabelecer limites, desapegar-nos da situação, ajudar se for possível e proteger-nos, recomendam.
Para melhorar a convivência com um pai, um marido, uma mulher, um amigo ou colega que se irrita facilmente e com tudo, siga estas orientações dos psicólogos:
1. Entenda que essa raiva não é para si, nem consigo
As pessoas que se irritam com facilidade lidam com muitas frustrações internas e altos níveis de stress que as impedem de pensar antes de reagir, de escolher a melhor postura a adotar nos vários momentos e, consequentemente, tratam mal os outros porque nem se dão conta do que fazem.
De acordo com um estudo da Current Opinion in Psychology, «as pessoas que se irritam facilmente tendem a reagir com mais raiva, já que muitas vezes interpretam o comportamento dos outros como uma ameaça, mesmo que não seja. Além disso, são indivíduos que têm dificuldade em controlar os seus pensamentos negativos e agem de forma hostil em situações que não os justificam». Nesse sentido, os estudos sugerem que, a melhor forma de reduzir o impacto dessa raiva é não nos deixarmos levar por ela e entendermos que nada tem a ver connosco. É a pessoa que não está bem consigo mesma e que precisa sim de olhar para dentro e resolver os seus conflitos internos. A melhor ajuda a dar-lhe é encaminhá-la para um apoio profissional ou simplesmente não alimentar essa fúria afastando-se ou tentando esperar que melhore o humor para tentar um novo contacto.
Um segredo importante que, em certos casos pode resultar, é dizer-lhe calmamente se a situação justifica todo o aborrecimento que está a manifestar, pois fazer com que a pessoa se aperceba do seu comportamento pode ajudá-la a reduzi-lo, aconselham os técnicos.
2. Mantenha a calma e não responda com mais raiva
O pior que se pode fazer a uma pessoa neurótica é responder-lhe na mesma moeda, no entanto, isso não quer dizer que tenha de “apanhar com tudo”, mas sim que deve afastar-se do problema e manter a calma. Sabendo que aquela raiva não é para si, o ideal é mostrar que a pessoa não está a agir da melhor forma e que a situação não reúne a gravidade que está a expressar. Uma chamada de atenção inteligente, pode tranquilizar, tal como uma palavra amiga, já que estas pessoas precisam muito de atenção e afeto, mas registe, «não tem de tolerar tudo, muito menos faltas de respeito e essa irritabilidade constante», enfatizam os psicólogos.
3. Estabeleça limites claros e respeitosos
Muitas vezes não sabemos como reagir perante um ataque de raiva de um amigo ou de alguém próximo, mas é fundamental que equilibremos duas posições. Por um lado, não devemos agir como se fosse um ataque pessoal e responder agressivamente e, por outro, não podemos aceitar qualquer falta de respeito. Assim, os especialistas sugerem que marquemos um encontro com a pessoa quando estiver mais calma, mais recetiva e disponível para conversar e dizer claramente que não vamos ultrapassar os limites do respeito. Se a pessoa aceitar, voltamos a tentar, caso contrário, teremos de desistir, pois não há muito mais a fazer com alguém que não nos respeita e que não se respeita a si mesmo.
4. Escolha o momento certo para falar sobre assuntos delicados
Confrontar uma pessoa com raiva não é uma boa solução, pelo que, idealmente devemos marcar uma hora e colocar condições para estabelecer uma conversa. Para isso, devemos dizer frontalmente o que não admitimos para que a pessoa se responsabilize pelo seu comportamento e que esteja disposta a conversar construtivamente e não a discutir futilidades e agressões de parte a parte. Ao mostrarmos segurança e autoconfiança, estamos a exigir que a pessoa também o faça e que seja mais consciente dos seus atos, explicam os entendidos nesta matéria.
5. Não aceite atitudes agressivas
Ouvir com calma não significa justificar maus-tratos. Sentir empatia não significa tolerar tudo, mas sim, dizer calmamente que a pessoa está a exceder-se e que, um diálogo respeitoso requer que ambos conversem no mesmo tom e de uma forma construtiva para os dois. Todos passamos por momentos difíceis, mas isso não nos dá o direito de tratar mal os outros e ainda menos recorrer a gritos, críticas, insultos e outro tipo de agressões. Se a pessoa não aceitar moderar o discurso, não insista e ainda menos aceite dialogar com ela.
6. Apresente-lhe uma reação adequada como exemplo
O simples facto de nos mantermos calmos, educados e respeitosos, pode fazer com que a outra pessoa se aperceba dos excessos que está a cometer. Ao não alimentarmos essa raiva, naturalmente fará com que a outra pessoa perca a força e tente controlar-se. Se tivermos de abandonar calmamente o local por não conseguirmos comunicar, isso também é um exemplo de diplomacia que o outro irá observar e entender que o seu comportamento prejudica os outros e a boa convivência social.
7. Cuide do seu bem-estar emocional
Não é egoísmo respeitar o nosso bem-estar e paz interior, por isso, por muito que gostemos de uma pessoa, atenda às suas necessidades e saúde mental, nem que isso implique desistir de tentar mudar quem não o deseja. Aconselhar um amigo, cônjuge ou familiar a pedir apoio psicológico é muito mais vantajoso do que tentar disfarçar o problema, tolerar tudo e sofrer com as reações negativas que lhe apresenta. Compreensão e empatia também têm limites quando percebemos que nada podemos fazer e que, alimentar um problema, agrava-o e não o resolve. Proteja-se, ajude até ao limite do razoável e não tenha medo de dizer que não se sente confortável numa convivência tóxica e destrutiva, sob pena de também entrar nessa espiral de raiva que não conduz a lado algum, aconselham os entendidos.