Esta realidade é mais comum do que parece e requer uma tomada de consciência para que possa ser ultrapassada.
Existem pais que sentem ciúmes dos filhos e os motivos são variados. Na posição de muitos psicólogos, este problema, que chega a alcançar a inveja doentia, está relacionado com traumas passados, com uma baixa autoestima por parte do progenitor, problemas mal resolvidos no seio do casal, medos, inseguranças, uma infância marcada por maus-tratos, sensação de desprezo ou abandono por parte dos pais e, inclusive uma má gestão emocional e uma criação pouco dada ao plano emotivo.
Estes ciúmes podem ocorrer quando o bebé nasce e o pai sente-se desconfortável relativamente ao seu papel; não sabe como ajudar a companheira a cuidar do recém-nascido e, muitas vezes, nem é chamado para essa função, não se sente preparado para a tarefa, não desejou ser pai, sente instabilidade na sua relação com a companheira, queixa-se da falta de atenção dela e daí por diante, mas a realidade é que a convivência familiar torna-se muito complexa, doente, chegando mesmo a poder resultar em violência doméstica, seja em relação à mulher e/ou ao filho.
Depois, também se evidencia o facto de o pai se sentir muito pressionado a “ter de ser perfeito e o melhor” e de exigir o mesmo ao filho. Como consequência, ou exige demasiado da criança e essa relação fica logo afetada com um vínculo frágil entre progenitor e filho ou resulta numa competição desenfreada que pode levar a que o pai queira prejudicar o filho para que não seja bem-sucedido, já que teme que o jovem seja melhor do que ele.
Trata-se efetivamente de uma convivência tóxica que, se não for acompanhada por uma terapia psicológica, não dará bons resultados no futuro próximo, com tendência para prolongar-se pela vida fora.
Muitos pais também se sentem tão frustrados com o seu percurso que não conseguem lidar bem com o sucesso dos filhos e acabam por desvalorizar-lhes o empenho, as conquistas, o êxito como forma de “os penalizar” por serem mais do que eles. Naturalmente que, esta posição parental deixa marcas muito profundas nos mais novos que, ou desligam-se dos pais, ou passam uma boa parte do seu percurso a fazer de tudo para que possam obter uma aprovação, reconhecimento e carinho. Quando não conseguem essa valorização, acabam por adoecer mentalmente ou por entrar em caminhos desviantes.
Também merece uma reflexão o facto de muitas mulheres quererem o filho só para elas, não deixarem espaço para que o companheiro participe nos cuidados e na educação e até que desprezem o marido em virtude do excesso de ligação à criança. Esta situação também dá lugar a um aumento dos ciúmes, a uma disputa pela atenção da mulher e um afastamento do filho, sem esquecer que pode levar a ofensas, críticas constantes e outras formas de violência que podem chegar à física.
Muitos pais acabam por afastar-se do lar, por sofrer em silêncio e por manifestar comportamentos pouco ajustados e respeitosos, seja em relação á criança, seja no que toca à sua ligação com a companheira.
Desde logo, é importante que o diálogo e a compreensão existam no seio do casal e que ambos entendam que é normal que precisem de um tempo de adaptação após a chegada do bebé e que é natural que ocorra alguma instabilidade e até confusão dentro de casa. Uma boa conversa dará lugar ao estabelecimento de regras, à organização de uma nova dinâmica familiar e, aos poucos, regressará a harmonia entre o casal.
O marido também se queixa da diminuição da atividade sexual após a chegada do bebé, situação que aumenta os ciúmes se não for interpretada como passageira e normal nessa fase de ajustamento familiar.
A atenção que se tem de dar ao filho também deve ser corretamente incluída e aceite por ambos, pelo que, a divisão das tarefas facilita muito o entendimento e a boa convivência familiar.
Os casais devem aproveitar o tempo em que o bebé está a dormir para namorar, para conversar, para manterem viva a chama do amor que os une e, assim evitar ciúmes desnecessários, pois se ambos estiverem satisfeitos na relação, os ciúmes acabam por perder o impacto.
Quando não se consegue encontrar esta estabilidade, harmonia e bem-estar, em situações em que o pai, mas também pode ser a mãe, não estão bem psicologicamente e não conseguem ultrapassar os desafios da melhor forma e conduzir a relação num sentido positivo, deve ser solicitada a ajuda de um profissional na área da psicologia. O mesmo se passa quando os traumas passados falam mais alto, quando os níveis de ansiedade e stress assumem proporções fora do normal, quando as pessoas não se sentem preparadas para cuidar do bebé ou da criança e, acima de tudo, quando não conseguem encontrar soluções para os problemas dentro e fora de casa.
É importante registar, em jeito de conclusão que, se estes problemas não forem ultrapassados no tempo devido, vão dar lugar a uma relação complicada entre pai e filho e, em muitos casos, afetar também a qualidade do casamento, pelo que a terapia é a chave para reduzir o sofrimento, tratar e curar as feridas e dar espaço para uma vida mais plena e feliz.