É fácil para a maioria de nós identificar uma criança mal-educada num qualquer contexto social, na medida em que, são comuns as más respostas aos pais e demais adultos, é costume que estas crianças reajam de forma agressiva e impulsiva e que façam birras e dramas desproporcionais.
Se todos sabemos disso, como se explica que, muitos pais não tenham uma atitude?
Na posição dos especialistas em comportamento humano, os pais são sempre os últimos a ver a realidade, seja porque estão muito envolvidos na criação dos filhos e, por isso, não os conseguem ver de fora, seja porque é habitual permitirem que a criança ou jovem faça tudo, seja porque até lidam mal com a crítica alheia, na prática, estes adultos não assumem que estão a prejudicar os filhos com essa passividade.
Depois, é de ter em conta que, estas crianças ou jovens malcriadas e habituadas a fazer tudo o que lhes apetece, não desenvolvem habilidades fundamentais para que se tornem adultos saudáveis.
O cérebro precisa de disciplina e de relações sociais satisfatórias, mas estas crianças e jovens malcriados não conseguem adquirir competências para que possam conviver de forma sadia com os demais. Falta-lhes as regras, falta-lhes o respeito pelos outros, falta-lhes a empatia e, com todas essas carências, acabam por ser rejeitados pelos demais.
Como a maioria das pessoas não gosta de crianças e jovens malcriados e pouco capazes de respeitar os outros, estas crianças e jovens acabam por se sentir cada vez mais à margem da sociedade e, naturalmente a fazerem chamadas de atenção, pois precisam que alguém lhes ligue.
Os próprios pais que não lhes forneceram uma boa base de valores, tendem a rejeitar estes filhos quando chegam à adolescência porque dizem “não os suportar”, mas lamentavelmente não lhes forneceram uma boa educação no tempo devido. Como consequência, tornam-se adultos malformados e mal preparados para a vida. Não conseguem respeitar um chefe no emprego porque já não respeitaram nem os pais, nem os professores, não sabem conviver com os colegas porque já eram agressivos na infância e adolescência e, efetivamente, o problema vai sempre ganhando expressão.
Muitos pais nem pensam que, ao não darem uma boa educação aos filhos, acabam por torná-los extremamente infelizes, pois colhem problemas em todo o lado e a rejeição torna-os pessoas à margem do sistema social. Ao mesmo tempo, estas crianças ou jovens acabam por se envolver em problemas com outros e na sociedade em geral precisamente porque não sabem estar, não sabem respeitar, não sabem ouvir e reagir da forma mais adequada.
É importante evidenciar que, os filhos não nascem mal-educados muito menos interessados em prejudicar os pais ou a sociedade em geral, pelo que, é a educação parental, a falta de limites e de regras que dá lugar a essa criação insatisfatória e problemática.
É também de anotar que, todos os pais, de alguma forma, acabam por mimar os filhos, o problema são os excessos e a falta de rigor e de exigência que também deve estar ao lado desse amor, carinho, afeto e mimo. Educar também é um ato de amor, de respeito, de valorização e de entrega por parte dos pais, pelo que não devemos privar os nossos filhos de uma disciplina adequada e de uma autoridade firme, alertam os entendidos.
Eis os principais erros que os pais de crianças mal-educadas cometem:
1.Limites inadequados
As crianças precisam de limites para crescer emocional e psicologicamente saudáveis. Orientações tão simples como “não podes comer doces antes do jantar” ou “arruma os teus brinquedos quando acabares de brincar”, são um suporte para orientar e dar segurança.
Sublinhe-se que, esses limites devem ser claros, coerentes e consistentes. Pais que têm medo de chamar a atenção dos filhos porque temem que eles chorem, que façam uma birra e que tenham de andar em conflito, nunca dão uma boa educação. Pelo contrário, os pais devem exigir, vincar a sua autoridade e explicar à criança ou jovem a razão pela qual precisam de cumprir as regras. É também no momento em que a situação ocorre que deve acontecer a chamada de atenção, pois caso contrário, já não surte o efeito pretendido.
Definir limites claros e concisos para as birras infantis pode fazer a diferença entre um comportamento perturbador ou não a médio prazo, evidenciam os entendidos.
2.Superproteção
Alguns pais, para facilitarem a vida dos filhos, acabam por privá-los da oportunidade de aprender a tolerar a frustração. As crianças devem adquirir responsabilidades de acordo com a sua idade e aprender a assumir as consequências dos seus atos.
Por muito que possa e queira ajudar o seu filho, é importante ter em conta que, não poderá fazer tudo por ele, porque acima de tudo, ele precisa de aprender a ser responsável e capaz de enfrentar a vida e os desafios. Ensine-o, explique-lhe, mas deixe-o fazer e, acima de tudo, deixe-o errar para que possa aprender.
3.Autoritarismo
Há pais que apostam no autoritarismo como modelo educativo, o que também não resulta. Dar ordens umas atrás das outras, exigir sem dar algo em troca, criticar de forma fácil e leviana, humilhar, não ouvir o lado do filho também não são soluções para educar bem. Deixar fazer tudo é um erro, mas punir tudo também. Ameaçar, gritar e condenar não são de todo formas de educar corretas.
As crianças precisam de se sentir amadas, respeitadas, acarinhadas e levadas em consideração, pois caso contrário, torna-se muito difícil que recebam uma boa orientação e que cumpram o que lhes é pedido e, ainda mais que compreendam o objetivo de uma regra ou exigência. Quando a criança não percebe a razão de uma regra ou de um limite, não irá cumpri-lo adequadamente.
4.Mau exemplo
É importante que , de vez em quando, os pais façam uma análise para refletir e que pensem na forma como se dirigem aos filhos e até que ponto estão a fornecer um bom exemplo.
Pais que levantam a voz com os filhos, que dizem palavrões, que agridem, ameaçam, humilham, tecem críticas ferozes, não permitem um erro, não ouvem a opinião dos mais novos e dizem “não” a tudo, estão a fornecer um mau exemplo aos filhos e acabam por, mais cedo ou mais tarde, verem esses modelos reproduzidos nos mais novos.
Registe que, os pais são a principal referência para os filhos e que, quando essa relação não é baseada no respeito mútuo, muito dificilmente essa criança ou jovem vai respeitar também os outros adultos.
Muitos pais criticam a escola e os professores e, poucas vezes conseguem assumir que é o seu modelo educativo que está a falhar e que o seu filho não tem o comportamento mais adequado nas várias situações em que participa. Para que não restem dúvidas, veja se o seu filho apresenta estes sinais de má criação:
1.Acessos de raiva frequentes
As birras são comuns entre as idades de 2 e 4 anos. Porém, além dessa idade, a presença desse comportamento pode indicar excesso de mimo e de permissividade. Birras fora de tempo e de contexto, são recursos da criança para manipular os adultos e para obter o que pretende, por isso, os pais devem enfrentar esse facto como algo que precisam de resolver em conjunto e mostrar á criança que, não será por esse meio que terá o que deseja.
2.Crianças que não valorizam o que têm
As crianças muito mimadas não valorizam o que têm e nunca ficam satisfeitas. Esteja atento ao facto de o seu filho se cansar facilmente dos seus brinquedos e de estar sempre a pedir-lhe algo novo, pois isso quer dizer que se trata de uma criança muito mimada. As crianças muito mimadas também tendem a gozar com os pais. Pedem uma refeição e, quando chega a hora de a comer, dizem que não lhes apetece, pedem uma roupa nova, mas depois não a querem vestir, querem um brinquedo, mas quando o recebem já não gostam dele e daí por diante. Tornam-se a mal-educadas devido ao excesso de mimo e da falta de regras, pois se os pais lhes disserem que não podem comprar, que não podem fazer outra refeição porque vão todos comer o mesmo, acabam por entender que não há “benesses” para nenhum dos membros da família e aprendem a valorizar mais o que têm. À medida em que vão crescendo, vão aprendendo a valorizar o que são e o que têm e não andam á espera que os pais ou demais adultos façam sacrifícios em vão. Até neste ponto as regras precisam de ser claras e coerentes.
Quando a criança quer tudo, faz birras quando não é atendida, isso quer dizer que a sua educação não é saudável nem positiva.
3.Falta de educação
Para viver em sociedade, todos nos devemos tratar uns aos outros com respeito e consideração. Isso inclui pedir licença, agradecer ou dizer “por favor “, mas também evitar ser rude com outras pessoas. Esta é uma regra básica que todos os pais devem ensinar aos filhos, pois não só facilita a boa relação entre pais e filhos, como abre caminho para uma criança bem-educada em sociedade.
Por muito que estas regras pareçam estar “fora de moda”, na realidade, fazem parte da convivência social saudável. Nem todos os pais sabem como transmitir essa base, muitos nem pensam nisso e, muitos outros nem se preocupam com as mesmas, no entanto, quando começam a surgir as primeiras reclamações dos comportamentos dos nossos filhos, todos acabamos por nos lembrar do que não lhes ensinamos, por isso, não hesite e comece já hoje, pois como já dissemos, as regras fazem as crianças muito mais felizes do que se possa pensar. Uma criança bem-educada é bem aceite em todo o lado, é acarinhada, mimada e todos gostam de estar com ela. Será que os pais não querem isso para os filhos? Claro que sim, mas têm de se dar a esse trabalho, empenho e dedicação diários para que os efeitos sejam uma realidade.