É um facto que os pais são responsáveis pela educação dos filhos, que é a eles a quem cabe a função de transmitir os valores, as regras e as normas de bom funcionamento social, mas isso não quer dizer, de forma alguma, que sejam os donos dos seus descendentes.
Acima de tudo, os progenitores precisam de educar para o respeito de parte a parte, uma vez que isso é determinante para a boa convivência entre pais e filhos e uma garantia de que a relação será bem sucedida no futuro.
Quando os especialistas falam em respeito, referem-se à capacidade de os pais ouvirem a opinião dos filhos, de os apoiarem nas suas escolhas, mesmo tendo uma posição distinta e de assumirem que, os mais novos têm um conjunto de deveres por cumprir, mas também devem beneficiar de direitos; sobretudo da liberdade para serem iguais a si mesmos.
Quer isto dizer que, desde a infância, os pais se devem habituar a perguntar a opinião da criança e a dar-lhe a necessária liberdade para que se expresse contra ou a favor de algo.
A criança deve compreender as regras e, para isso, deverá ser-lhe dada uma explicação até para cumprir as orientações dos pais, já que isso facilita todo o processo de convivência e vai ajudar a determinar o adulto de amanhã.
Os pais não devem impor a profissão que os filhos vão seguir, muito menos o curso e ainda menos a escolha dos amigos, da parceria amorosa, entre outras opções que apenas devem ser orientadas, não uma imposição. Os progenitores precisam de transmitir as regras e os valores, mas não de escolher pelos filhos.
Quantos jovens e adultos se afastam dos pais porque os mesmos não respeitam a sua orientação sexual, a roupa que gostam de vestir, a religião que decidem seguir, o cônjuge e daí por diante?
Quantos filhos são infelizes porque não receberam dos pais o respeito pelas suas escolhas e acabam por fazer o que os pais determinam, mesmo que sintam o erro?
Quantos descendentes tiveram de mudar de país só para se poderem assumir tal como são?
Quantos filhos sufocam por não poderem afirmar a sua orientação homossexual só porque os pais não a aceitam?
Na posição dos entendidos nestas matérias, tudo começa no berço quando os pais se habituam a tomar as decisões pelos filhos e não se apercebem que, à medida em que os mais novos vão crescendo, são livres para aplicar o que aprenderam com os pais, mas também para seguirem o que sentem e o que gostam.
Pais que respeitam os filhos conseguem mantê-los perto mesmo depois de adultos e de estes terem a sua vida. Ao mesmo tempo, filhos que respeitam os pais gostam da sua presença, dos seus conselhos e ensinamentos porque sabem que, os mais velhos acatam as suas decisões mesmo que tenham uma opinião diferente. Isso é respeito mútuo e é a base da boa convivência humana, contudo, sabemos muito bem que nem sempre é assim, que se incutiu nos pais a ideia de que são eles quem decidem o futuro dos filhos, pelo que, muitos pais criticam os seus descendentes por não fazerem o que eles querem, cortam laços porque os mais novos seguiram uma determinada linha de vida ou alimentam conflitos, só porque não concordam com as escolhas dos filhos. Valerá a pena viver assim? Será este um modelo correto de educação? Certamente que, depois desta reflexão, muitos pais vão aprender a abrir a sua mente e o seu coração aos desejos dos filhos porque vão perceber que, nem sempre o que consideram de melhor para os mais novos o é na realidade. Os nossos filhos precisam de ser felizes acima de tudo e responsáveis pelas suas opções. Tal só acontece se viverem intensamente aquilo que sentem e em que acreditam.
Registe ainda que, pais “de mente aberta” também aprendem muito com os filhos e, é dessa reciprocidade que se alimenta uma relação saudável e duradoura.
Fátima Fernandes