Dicas

Eduque o seu filho para o amor-próprio e não para o orgulho

 
A linha entre o amor-próprio e o orgulho é muito ténue, razão pela qual é importante recordar as diferenças.

O amor-próprio permite que o seu filho respeite os outros enquanto que se respeita a si mesmo. Por sua vez, o orgulho leva a que a criança ou jovem esteja sempre num modo defensivo, que se torne agressiva e violenta, para além de não construir um bem-estar equilibrado e saudável.
 
Segundo os especialistas na área da psicologia, é complicada a tarefa de educar uma criança ou jovem para a dimensão emocional porque envolve ajudá-la a compreender, a gerir e a adequar as suas emoções nas mais variadas situações. Para além de uma tarefa árdua, é também uma enorme responsabilidade dos pais, alertam os mesmos entendidos.
 
Quando tentamos incutir valores nos nossos filhos, geralmente concentramo-nos em lembrá-los de serem educados, gentis e atenciosos com os outros. Ensinamo-los a desenvolver a empatia, a pedir perdão e a fazer favores. Mas, muitas vezes, esquecemo-nos de ajudá-los a desenvolver o amor-próprio e a criarem hábitos que promovam o bem-estar e o respeito por si mesmos.
 
Mais tarde, quando sentimos que eles se deixam levar demasiado  pela opinião alheia, insistimos que se “defendam”, pedindo que tenham mais orgulho. Mas, dessa forma, estamos a transmitir-lhes uma atitude errada, porque os estamos a incentivar a reagirem de uma forma agressiva e automática.
 
É importante lembrar que, uma criança orgulhosa provavelmente será respondona, desafiadora e com pouca capacidade de reflexão, uma vez que, apenas aprendeu a fugir das situações quando as mesmas não lhe agradam. Dessa forma, seja em casa, seja em sociedade, esta criança não terá capacidade de se proteger sem que recorra à violência.
 
Quando educamos os nossos filhos para o amor-próprio, estamos a prepará-los para  agir e reagir com mais calma, com mais ponderação e capacidade de se defenderem, mas através da reflexão acerca dos seus atos e das respetivas consequências e não do gesto automático.
 
Perante uma ofensa, uma criança com amor-próprio não reage com ataques ou insultos. Pelo contrário, ela será capaz de refletir que o mais conveniente é colocar limites ao outro ou simplesmente afastar-se.
 
Partindo do orgulho, as relações sociais são percebidas como lutas pelo poder. Alguém está acima e o outro abaixo. Logo, a maior prioridade é sentir-se e mostrar-se superior. Uma criança orgulhosa provavelmente será soberba, vai querer ter sempre razão e não será capaz de ouvir os pontos de vista dos outros. As suas relações com a família e com os amigos serão sempre baseadas numa luta para ver quem será o vencedor.
 
O orgulho será, ao mesmo tempo, o seu escudo e a sua espada e, por isso, a criança não hesitará em proferir palavras ofensivas para que se possa sair vitoriosa. Além disso, é provável que se mostre mais suscetível e que se sinta atacada com mais frequência.
 
Pelo contrário, uma criança com amor-próprio aprendeu a amar-se e a amar os outros. Esta criança aprendeu também a ver os relacionamentos como uma troca positiva e agradável e será capaz de identificar o lado mais gentil das pessoas. Além disso, não sentirá necessidade de estar acima dos outros, nem se vai sentir inferior aos demais porque se sente segura consigo mesma.
 
Para uma criança com amor-próprio, os outros são valiosos, ela é valiosa e não há necessidade de se viver num ambiente destrutivo de luta pelo poder porque simplesmente todos são distintos, mas com o seu valor pessoal. Esta criança é gentil e respeitosa, mas sabe proteger-se. Sabe expressar a sua opinião, sabe dizer “não” e sabe dar-se ao respeito de forma empática e assertiva.
 
É ainda de evidenciar que, uma pessoa orgulhosa não possui uma boa autoestima. Por muito que se esforce em querer demonstrar isso, na realidade, a pessoa orgulhosa usa uma armadura para se proteger dos momentos de insegurança. Tal acontece porque sabe que é frágil e que facilmente os outros a podem atacar, por isso, “acaba por construir um muro ou uma barreira em seu redor, mostrando-se inacessível”, explicam os entendidos.
 
Uma criança que desenvolveu um amor-próprio saudável, sente-se tranquila, sabendo que é valiosa, suficiente e capaz, pelo que não precisa de menosprezar os outros para se sentir importante, porque sabe que já é importante por si mesma. Da mesma forma, esta criança não precisa de entrar em batalhas ou discussões porque não é tão vulnerável à opinião alheia. Possui uma base de autoestima sólida e saudável.
 
O amor-próprio é o que realmente nos permite estabelecer limites saudáveis para que os outros não nos prejudiquem, sem a necessidade de feri-los. Por isso, ajude  o seu filho a cultivar um amor forte e sincero por si mesmo. Lembre-se de que esta é uma tarefa que exige perseverança e que deve ser trabalhada diariamente. Para tal, é fundamental conversar muito com os mais novos, elogiá-los quando realmente realizaram algo importante e bem sucedido, dar-lhes amor, carinho e compreensão e, acima de tudo, transmitir-lhes noções de boa convivência social e um espaço de diálogo para que se expresse livremente e possa corrigir emoções menos adequadas.
 
O percurso é longo e exigente, mas acredite que vale a pena!
 
Fátima Fernandes