Dicas

Como lidar com a falta de aprovação dos pais

 
Os pais que hoje criticam os filhos por tudo e por nada, são aqueles que igualmente cresceram nesse tipo de ambiente e que carregam as marcas desse sofrimento.

Na verdade, não é fácil mudar um padrão que se herdou por força das circunstâncias e se não tomarmos consciência de que o mesmo está errado.
 
Na posição dos especialistas na área da psicologia, é muito doloroso crescer com uma mãe que critica a forma de vestir da filha, os seus traços físicos, os seus comportamentos e, o pai que desaprova tudo o que o filho faz. A situação é de tal forma dolorosa que, mesmo depois de adultos, depois de se afastarem dos pais, os filhos ainda continuam a carregar essas mensagens que lhes ficaram arquivadas na memória.
 
Nunca é demais recordar que, o nosso cérebro arquiva tudo e que, aquilo que é doloroso assume uma posição privilegiada. Nesse sentido, mesmo passados anos sobre o que nos aconteceu, é natural que recordemos os nossos pais como alguém que nos condenava tudo o que fazíamos e que desaprovavam todas as nossas iniciativas.
 
Para dar a volta a isso, é fundamental ir ao fundo da questão e passar por um processo de tomada de consciência, sendo que, a única solução é a psicoterapia, pois a constante invalidação que os nossos pais nos fizeram, persegue-nos e compromete-nos a todos os níveis. Ficamos com baixa autoestima, inseguros, com medos desnecessários e sempre com a sensação de que não conseguimos agradar ninguém. Com esse permanente estado de alma, acabamos por maltratar aqueles que nos rodeiam, especialmente os nossos filhos que, sendo os mais vulneráveis, são quase sempre o alvo das nossas críticas.
 
Tendo por base a posição de especialistas na área da psicologia, listamos um conjunto de conselhos que nos ajudam a sobreviver à desaprovação dos nossos pais.
 
Idealmente, os pais devem oferecer carinho, empatia e, acima de tudo, validar os filhos, uma vez que, isso reverte diretamente no  bem-estar dos miúdos e dos próprios pais. Isso foi evidenciado num estudo da Arizona State University (Estados Unidos) que afirmou que a aprovação e a expressividade materna positiva otimizam as habilidades sociais das crianças.
 
No entanto, é de considerar que, a desaprovação é uma dinâmica frequente na criação dos filhos e na educação. São atitudes para invalidar o que a criança faz, diz ou sente. Aspetos próprios são questionados e criticados, incluindo as suas necessidades, pelo que, é natural que surjam duas consequências dessa situação.
 
Por um lado, a criança ou adolescente sentirá a necessidade de procurar a aprovação dos pais como único meio de validação e fonte de bem-estar. Por outro, é comum que acabem por se desligar de si mesmos, que se questionem e que procurem fontes externas de validação para se sentirem bem. Tudo isso costuma levar a transtornos de ansiedade e depressão.
 
Os especialistas alertam que, a maior parte das crianças e jovens que passaram por esta situação de desaprovação dos pais, chegam à idade adulta ainda com a mesma vulnerabilidade e necessidade de aprovação dos demais, o que ilustra muito bem a dimensão do problema e os prejuízos dessa desaprovação.
 
Os mesmos especialistas reforçam a necessidade de estabelecer limites desde cedo. É fundamental que as crianças ou jovens comecem a enfrentar os pais mesmo sabendo que os vão desiludir pela sua diferença e necessidade de afirmação. Neste sentido, os filhos não devem temer dizer o que pensam e o que sentem. Quando não reuniram essa coragem no tempo devido, é importante que o façam nem que seja na idade adulta, já que, só dessa forma é que vão conseguir libertar-se de uma boa parte desses pesos. Os filhos não devem entender esta colocação de limites como um ato de desafiar os pais, mas sim a lei da vida, pois os mais novos vão ter de crescer com autonomia e independência.
 
Um outro ponto importante é que os filhos tenham coragem para desapontar os pais, ou seja, deixarem de se ajustar ao que os pais esperam deles e assumirem uma posição individual. Ter a coragem necessária de dizer aos pais que não concordam com algo, que não pensam da mesma maneira e que entendem a vida de outra forma. Isso é um processo normal e natural.
 
Depois, é importante que os filhos se concentrem nos seus objetivos e interesses para poderem eliminar o condicionamento tóxico que receberam dos pais.
 
«Sofrer a desaprovação dos pais pode ter sido o nosso medo mais incapacitante. Passamos muitos anos presos com esse condicionamento tóxico que nos atordoou, desacelerou e se apoderou de nós. É natural que, após esse longo processo, os filhos sintam que chegou o momento de procurarem outras referências, outros valores, outras pessoas e situações que os possam ajudar a viver de outra forma». A melhor alternativa para nos libertarmos daquilo que nos incomoda é focar-nos nos nossos desejos e interesses, por isso, seja em que idade for, um filho que cresceu num ambiente de desaprovação, vai precisar de lutar por essa liberdade pessoal.
 
Os especialistas lembram que, há uma altura na vida em que se impõe saber o que é nosso e o que estamos a imitar dos nossos pais. É nesse preciso momento que tomamos consciência daquilo que queremos e do que não desejamos para nós e, normalmente é aí que tomamos uma decisão mais drástica colocando os nossos interesses em primeiro plano. No fundo, é uma necessidade que se foi adiando devido ao medo de ferir os pais que nos desaprovavam mesmo com todos os nossos esforços em agradá-los.
 
Para terminar, anote que, o caminho não é fácil porque, ao longo de todo o processo de desenvolvimento predominou a narrativa da desaprovação sobre tudo o que se dizia, pensava ou fazia, mas um bom psicólogo pode ajudar nessa tarefa, por isso, não hesite em pedir ajuda se este é o seu caso.
 
Fátima Fernandes