Apesar de a ciência afirmar que a crise dos 40 anos é “uma construção social”, muitas são as pessoas que relatam diferenças significativas no seu modo de estar e de pensar nessa faixa etária.
São muitos os homens e mulheres que, pelos mais variados motivos, afirmam que, a partir dos 40, se sentem mais nostálgicos, irritados, tristes e às vezes até deprimidos, com uma sensação de vazio, desmotivados, sem planos futuros, que pensam na finitude da vida e que sentem que podiam ter feito mais do que o que realmente concretizaram.
Segundo alguns psicólogos, a crise dos 40, ocorre em alguns adultos entre os 40 e os 60 anos e dá lugar a uma reflexão profunda, a uma procura de um novo significado para a vida, a uma reavaliação das suas conquistas, à dúvida face ao que já adquiriram, à sensação de que deixaram sonhos por concretizar o que, em muitos casos, deve ser entendido como uma oportunidade para definir novas metas e objetivos, enquanto que noutros, pode resultar num aperfeiçoamento do que se é, do que se tem e daquilo que ainda nos propomos realizar.
Uma crise implica sempre mudanças que podem ser mais ou menos profundas consoante a personalidade de cada pessoa, a sua disponibilidade e modo de pensar, registam os especialistas completando que, esta reflexão é sempre distinta entre homens e mulheres devido à cultura e ao próprio género, mas globalmente, deve ser entendida como algo positivo e que merece ser avaliado individualmente.
Naturalmente que, também se registam casos de homens e mulheres que, nesta fase de vida sofrem pelo peso da idade e ficam mais apáticos, enquanto que outros tentam recuperar o tempo perdido e adotam comportamentos menos apropriados, mais aceitáveis em etapas anteriores.
Há quem mude de vida, de emprego, de residência, casamento, adote hábitos menos corretos que envolvem consumos excessivos de substãncias aditivas, quem passe a frequentar locais que outrora não lhe despertavam interesse, quem altere o modo de vestir e daí por diante.
Ao mesmo tempo, há pessoas que aceitam muito bem esta etapa e que aproveitam para tirar mais partido da sua maturidade emocional e sabedoria e que orientam a sua vida para um sentido de crescimento pessoal, de autoconhecimento e de encontro de talentos que não tiveram oportunidade de surgir por falta de tempo, por exemplo.
Cada pessoa decide como quer delinear o seu percurso numa fase de transição para o envelhecimento mais acentuado sendo que, o importante é que o faça de uma forma plena, consciente e esclarecida, sugerem alguns entendidos na área da psicologia.
Os motivos dessa crise são diversos, mas os mais frequentes são a insegurança, o excesso de responsabilidade ou a rotina. Também figuram como motivos ter um parceiro conflituoso, instabilidade emocional e financeira, detetar erros do passado, tédio ou falta de objetivos claros de vida, a perda de alguém significativo, um divórcio, a saída de casa dos filhos, o desemprego ou o fim do percurso profissional, entre outros como, por exemplo, o medo de envelhecer e de morrer.
Para ultrapassar esta fase delicada, os especialistas recomendam que se suporte nas amizades, na pessoa que tem ao seu lado, que desabafe o que está a sentir, que escreva essas emoções e que faça planos realistas para as etapas seguintes. Analise a sua vida com consciência e encontre dentro de si os recursos para delinear um novo rumo, sendo que, estas dicas podem ajudar:
1. Atualize os seus objetivos de vida sabendo que ainda há muito que pode fazer com a sabedoria e a experiência que possui neste momento;
2. Cuide si adotando hábitos positivos como praticar diariamente exercício físico, alimentar-se de forma correta e equilibrada, conviver com pessoas mais otimistas e não alimentar relações tóxicas com quem o desvaloriza ou desrespeita de alguma forma, procure dormir bem e relaxar a mente reservando um tempo diário para estar consigo mesmo;
3. Tente descobrir um hobbie que o satisfaça e que, ao mesmo tempo, lhe proporcione um contacto com outras pessoas com interesses comuns como por exemplo, uma modalidade desportiva, aprender uma arte, caminhar, frequentar um curso, reservar um tempo para a leitura e aproveitar para conhecer-se melhor e gostar mais de si;
4. Controle o stress, a ansiedade, as preocupações e a tristeza com a mudança no modo de pensar. Acredite que estar presente no “agora” é uma grande ajuda para valorizar mais e melhor as situações, o que possui e o que realmente é. Afaste pensamentos passados, evite alimentar desilusões e pense que a vida é um processo de contínua aprendizagem, que ninguém faz tudo bem, mas que, quando queremos, conseguimos mudar e fazer melhor. Pratique este pensamento no seu dia a dia.
5. Aceite as mudanças, sejam elas físicas, emocionais e na sua própria vida. Quanto mais admitirmos que envelhecemos eque mudamos a vários níveis, mais tiraremos partido daquilo que somos e temos hoje. Abrace o presente e tente preenchê-lo de atividades prazerosas. Se precisar, peça ajuda, mas não alimente estados prolongados de tristeza e de apatia. Se pensar no muito que tem, certamente que será mais grato e focado no que pode melhorar. Se lamentar a vida, certamente que pouco estará a contribuir para alterar o que for necessário. Pratique diariamente a gratidão e valorize-se pelo que é, pelo que tem e pelo que pode construir nesta ou em qualquer outra fase do seu percurso.
De acordo com um estudo publicado na revista: Motivation and Emotion “apenas 26% das pessoas com mais de 40 anos passa por esta crise e a mesma não é uma consequência da idade, mas sim, de acontecimentos significativos pelos quais podemos passar e que as crises podem ocorrre em qualquer fase da vida adulta, basta que nos aconteçam situações que a desencadeiem”.
Margie Lachman em 2015, destacou que, “ a crise da meia-idade não é mais do que uma construção social aproveitada pela indústria do entretenimento, pelo que, promovê-la pode levar a uma profecia autorrealizável”. Adianta ainda esta investigadora que, “alimentar a ideia de que todas as pessoas passam por umac rise de meia-idade, pode levar a comportamentos e a condutas desajustadas, uma vez que, estar triste ou com tédio, por exemplo, pode servir de desculpa para desencadear comportamentos erráticos”.
Quem passa por algo semelhante a uma crise nesta idade, «pode aproveitar para reinventar-se, para ser melhor pessoa para si mesma e para os outros, desenvolver habilidades novas numa fase em que tem mais tempo livre e até mais vontade de experimentar algo novo, sem no entanto, perder o equilíbrio, a motivação, o prazer e a alegria de viver, de lutar por algo em que se acredita e pelo seu bem-estar», concluem os especialistas nesta matéria.