Sentir-se sozinho não significa que não se tem companhia, mas sim, que estamos desligados de nós próprios.
A solidão é um sentimento que, mais cedo ou mais tarde, acaba por afetar-nos, sem distinguir idades, género, estatuto social, grupo de pertença ou outro. É comum que nos sintamos sozinhos mesmo no meio de uma multidão ou acompanhados numa qualquer ocasião. Num vazio que nos invade a alma e o coração, causa sofrimento e distanciamento social porque nos afastamos de nós mesmos, perdemos o sentido do nosso real valor, o nosso propósito e, consequentemente, isolamo-nos, o que nos torna ainda mais solitários.
Segundo alguns estudos, a solidão está relacionada a estados como abandono, tristeza, melancolia, nostalgia e falta de comunicação seja connosco próprios, seja com os outros, o que «afeta a alma e o coração e requer um apoio especializado», recomendam.
Um estudo levado a cabo no País Basco revelou que o sentimento de solidão indesejado afeta 23,3% dos homens e 29,7% das mulheres. É mais prevalente entre idosos, adultos jovens e grupos vulneráveis.
Os apontamentos científicos dizem que, por detrás da solidão estão causas como problemas mentais, baixa autoestima, uma doença crónica, incapacidade de resolver problemas, dificuldade em lidar com os obstáculos da vida, de enfrentar a realidade, de aceitar-se tal como é e de tentar entender o seu real valor no mundo.
Já a Revista Cuidarte informa que a solidão emocional está ligada a fatores psicológicos, como a presença de sintomas depressivos, altos níveis de stress, pensamentos pessimistas, ansiedade e baixa autoestima, sendo ainda de acrescentar a autocrítica constante e a falta de autoconfiança que parecem justificar o pouco interesse em conviver com os demais e em permitir que outras pessoas se aproximem de si, levando a um fosso cada vez maior de solidão.
Também a perda de um parceiro, de um emprego, uma mudança de casa, o fim de uma relação estão associados à solidão, dando lugar a um maior isolamento, à tristeza e falta de esperança em várias idades, mas essencialmente nas etapas mais avançadas de vida.
Na mesma sequência, muitas pessoas dizem sentir-se sozinhas porque não encontram satisfação nas relações que estabelecem, muitas delas até duradouras, mas que não lhes preenchem o ser, reduzindo a vontade de conviver em virtude de se tratarem de relacionamentos tóxicos e altamente prejudiciais.
Também o excesso de uso das redes sociais, está a tornar as pessoas cada vez mais isoladas e solitárias, apesar de fazerem parecer o contrário, porque preenchem o tempo, mas limitam muito o contacto presencial, além de nos sentirmos tão exaustos que não temos disposição e energia para estabelecer relações fora dos ecrãs, o que nos remete para o comodismo, para o vazio emocional e isolamento social, destacam os cientistas, alertando que, «quanto mais nos distanciamos dos outros presencialmente, mais difícil se torna o processo de voltar a estabelecer relações pelo medo da rejeição, da crítica, do abandono, entre outros sentimentos negativos».
Para superar a solidão, tenha em conta estas dicas:
1. Incentive as interações sociais
A socialização é vital para o cérebro humano. Manter comunicação constante com amigos próximos e familiares, bem como participar em atividades que promovam o conhecimento de outras pessoas (como um clube, voluntariado ou eventos locais), ajuda a estabelecer novos relacionamentos e a fortalecer os existentes.
2. Cuide de si e tente conhecer-se melhor
Cuidar da nossa aparência, reservar um tempo diário para dar atenção aos nossos pensamentos, praticar a atenção plena, são exemplos de ligação a nós próprios essenciais para melhorarmos a autoestima, autoconfiança e para encarar a vida, as pessoas e as situações numa perspetiva mais leve e alargada.
3. Mude a forma de pensar sobre si mesmo e sobre os outros
As crenças limitam-nos à convivência, ao bem-estar e à disponibilidade para olharmos para quem somos aceitando as potencialidades e as imperfeições. Aceite que não é perfeito e tente melhorar-se. Desenvolva habilidades que lhe permitam perdoar-se quando falha, corrigir os erros, melhorar os seus comportamentos porque, ao sentir-se bem consigo mesmo, naturalmente que vai sentir-se também com os outros.
4. Estabeleça metas realistas
Não tente fazer mudanças bruscas e rápidas. Estabeleça metas pequenas, mas alcançáveis e com as quais se sinta bem. Convide um amigo para tomar um café, sem criar expectativas elevadas. Deixe fluir o encontro. Vá a locais onde estão outras pessoas, como supermercado, padaria, entre outros e, aos poucos, trave pequenos diálogos. Quem sabe se, ao fim de algum tempo, já tem cumplicidade com algumas pessoas, já recebe “um bom dia” e se trava alguns minutos de conversa. Esta é a base para começar e para dar um pouco de si sem esperar algo em troca.
5. Peça ajuda a um psicólogo
O Clinical Journal of Family Medicine descreve que a solidão pode ter muitos efeitos negativos na saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, stress, psicose, demência, distúrbios do sono e pensamentos suicidas. Antes de deixar chegar ao limite, é essencial pedir ajuda, o que também é uma oportunidade para sentir-se vivo e ativo, para integrar a sociedade e, consequentemente, para começar a melhorar a sua autoestima e autoconfiança.
Registe que não temos, nem devemos acomodar-nos aos pensamentos e sentimentos negativos. Passamos por fases mais dolorosas, por momentos difíceis, mas tal como os bons têm uma duração, igualmente os maus acabam por passar se lhes dermos a devida atenção, transformação e se entendermos o que se passa.
O que pensamos ser o fim, pode muito bem ser o princípio de uma etapa que nos permite conhecer-nos melhor, valorizar-nos mais, desenvolver novas habilidades pessoais e de comunicação com os outros. O importante é que aceitemos que a vida tem altos e baixos e que todos os dias somos desafiados a lutar e a tentarmos melhorar quem somos e o que fazemos. Por muito que estejamos desencantados com algumas pessoas, isso não quer dizer que não encontremos outras que nos inspiram, motivam e que nos retiram desse vazio emocional, muitas vezes, apenas com a sua energia, respeito por nós e exemplo.