Os trabalhos científicos demonstram que, a prática regular de exercício físico melhora a cognição, reduz os riscos de doenças psiquiátricas (como depressão e ansiedade) e o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas (como o Alzheimer).
Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, manter uma rotina diária de exercícios acarreta benefícios para a saúde física, mas também para a saúde mental. Há efeitos que se sentem logo após a prática do exercício como o grau de atenção e uma maior atividade física e mental, e outros que se vão revelando no tempo com uma prática diária e a mudança de hábitos de vida.
Esses efeitos podem ser potencializados quando combinados com outros hábitos saudáveis como não fumar, evitar o consumo excessivo de álcool, ter um sono regular e uma alimentação saudável - indica o médico neurologista Marcel Simis, diretor da Associação Paulista de Neurologia, (Brasil).
O neurologista explica que a prática regular de exercícios físicos pode modificar e melhorar a função cerebral por induzir a modificação da atividade de neurotransmissores, e também resultar na mudança da estrutura do cérebro, com o aumento do volume de regiões cortical (local onde estão muitos dos neurónios), melhorando a conexão entre diferentes áreas do cérebro.
Os investigadores acrescentam que, quando praticamos regularmente atividade física, estamos a reduzir as possibilidades de sofrer de depressão e de ansiedade.
Marcel Simis completa que, o exercício físico reduz a libertação de substâncias pelos músculos, promovendo a expressão de neurotransmissores e induzindo um efeito anti-inflamatório, resultando na melhoria de transtornos mentais.
O mesmo especialista resume os 10 benefícios da prática regular de exercício físico:
1. Sensação de bem-estar
Através da libertação de neurotransmissores que nos fazem felizes tais como:
Endorfina – hormona do bem-estar e relaxamento, é produzida pela hipófise, no cérebro;
Dopamina - Neurotransmissor ligado à comunicação das células nervosas, ao prazer e à coordenação motora, te sintetizada pelos neurônios dopaminérgicos no cérebro (na área da substância negra) e, principalmente, no intestino;
Serotonina – a hormona da felicidade, que melhora o humor e a memória, tem produção pelos neurónios serotoninérgicos no sistema nervoso central (cérebro e medula) e no intestino.
2. Sono de qualidade
A atividade física diária ajuda a regular o ciclo circadiano, contribuindo para termos um sono com maior qualidade, reparador e relaxante, o que é fundamental para o bom funcionamento cerebral e para a saúde mental.
O médico alerta, no entanto que, há pessoas que podem ficar mais relaxadas com a prática de exercício físico à noite, enquanto que outras, não. Assim, cada pessoa deve ajustar o mais possível o horário, pois em alguns casos, fazer exercício físico noturno pode provocar insónia, sendo sugerido o período da tarde ou manhã para realizá-lo.
3. Mais ânimo e motivação
A libertação de endorfina ajuda a aumentar a capacidade produtiva e intelectual, além de melhorar os níveis de ânimo e de motivação, sobretudo em quem pratica exercício físico matinal.
4. Memória e aprendizagem
A atividade física estimula a produção e a libertação de neurotransmissores. Essas hormonas, fabricadas pelos neurônios, atuam nas sinapses (comunicação entre essas células) e participam na regulação de funções ligadas à memória e aprendizagem, como uma maior capacidade de recordar factos e gravar novas informações.
5. Atenção, concentração e foco
O exercício físico melhora a atividade do lobo frontal , permitindo um foco maior nas atividades que exigem concentração e mais destreza na resolução dos problemas diários.
6. Autoconfiança e autoestima
Com uma maior sensação de bem-estar e mais humor, sentimo-nos mais confiantes e com uma autoestima mais positiva, o que é excelente para desfrutar de mais qualidade de vida e de melhores relações com os outros.
7. Antidepressivo natural
A depressão tem um componente químico, e o papel da atividade física na regulação da produção de neurotransmissores pelo organismo assume um papel importante na química cerebral. Além disso, quando nos sentimos bem, com energia, bom humor e autoestima, reduz-se significativamente o risco de depressão.
8. Menos ansiedade
A atividade física também reduz a produção do cortisol, que contribui para o controle do stress e a redução da inflamação, e também é secretado pelas suprarrenais. Com bom ânimo, energia, vitalidade, autoconfiança e autoestima, controlamos melhor os impulsos, regulamos melhor as emoções e organizamos os pensamentos, o que proporciona um bem-estar generalizado e uma maior sensação de tranquilidade.
9. Controle dos impulsos e mais disciplina
O controle inibitório ajuda-nos a desenvolver uma maior disciplina, facto que se reflete nas mais variadas áreas de vida, como sendo, por exemplo, o cumprimento de obrigações ou seguir um plano alimentar diário porque conseguimos parar, pensar e só depois agir.
10. Melhor processamento cognitivo
A prática de exercícios melhora a circulação sanguínea no cérebro, alterando assim a síntese e a degradação dos neurotransmissores. Este é considerado o efeito direto da atividade física na melhoria da velocidade do processamento cognitivo, aumentando a capacidade de rapidez de respostas e protegendo o cérebro ao longo dos anos.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a OMS recomendam que adultos façam atividade física moderada de 150 a 300 minutos, ou de 75 a 150 minutos de atividade física intensa, quando não houver contraindicação.
As orientações atuais das entidades destacam que adultos podem superar a marca dos 300 minutos moderados ou 150 vigorosos.
Já crianças a partir de 5 anos e adolescentes devem praticar exercícios físicos, em média, 60 minutos por dia com intensidade moderada a alta.
Para pessoas com mais de 65 anos as orientações são similares, mas acrescentando atividades que enfatizem o equilíbrio funcional e o treinamento de força para melhorar a capacidade funcional e prevenir quedas.
Caso a pessoa seja sedentária, a orientação médica é incluir a atividade física como um hábito de forma gradual. Pode iniciar, por exemplo, com apenas 10 minutos por dia e gradualmente ir aumentando para 30 minutos. Esses 30 minutos totais podem ser distribuídos em períodos de alguns minutos ao longo do dia.
Por fim, os especialistas recomendam que, encare o exercício físico como algo essencial para a qualidade de vida e que o mesmo deve incluir-se na implementação de hábitos alimentares saudáveis, num ambiente social positivo, pois o corpo tem de ser encarado como um todo que implica saúde física, mental e emocional.