O psicólogo e doutor em medicina biofísica Peter Levine, tem estudado a relação entre o stress e os efeitos que provoca no corpo e apresenta algumas dicas para minimizar esses impactos.
De acordo com este investigador, «em algum momento das nossas vidas, todos podemos somatizar o sofrimento emocional e transformá-lo em dores físicas e problemas de saúde».
Nunca é demais lembrar que, a somatização é uma experiência na qual a pessoa sente um conjunto de alterações físicas sem que exista um motivo ou causa aparente.
Segundo o Journal of Psychosomatic Research, esses sintomas são muito angustiantes porque a pessoa não sabe o que tem e os médicos também não conseguem realizar um diagnóstico claro porque os exames não coincidem com as queixas do paciente, mas esta publicação alerta para a necessidade de se analisar as causas de uma forma mais abrangente e incluir os fatores psicológicos e psicossomáticos.
A somatização está relacionada a uma constante desregulação do sistema nervoso, podendo causar alterações no nosso equilíbrio interno e na saúde em geral. Assim, quando o cérebro se sente condicionado pelo stress, sendo que, qualquer evento traumático ou adverso, pode levar a que a pessoa reaja de forma desadaptativa, isso acarreta consequências físicas e mentais.
Todos esses processos traduzem-se em dor, desconforto físico e alterações na saúde, sendo estes os sintomas mais frequentes:
Dores de cabeça.
Queda de cabelo.
Cansaço contínuo.
distúrbios do sono.
Tensão da mandíbula.
Dores nas costas e pescoço.
Taquicardia e hipertensão.
Síndrome do intestino irritável.
Condições da pele, como dermatite ou erupções cutâneas.
Sintomas gastrointestinais, como dificuldades digestivas, gases ou dor de estômago.
Peter Levine, apresenta alguns exercícios que podem aliviar esta angústia e desconforto:
1. Desenvolva a consciência somática
Um dos objetivos mais importantes na prevenção e no tratamento da somatização é conectar-se com o seu corpo de forma a identificar o que sente e o que poderá estar a provocar-lhe esse mal-estar.
Assim, deite-se num local tranquilo e confortável, respire profundamente durante 5 minutos e observe como é que o seu corpo se sente, identificando as áreas em que sente tensão, dor ou desconforto. Concentre-se nesses pontos e tente perceber as emoções que podem estar associadas a essa dor. Muitas vezes, é medo, stress ou angústia que explicam esse mal-estar, explica o investigador.
2. Exercício de grounding ou aterramento
A técnica grounding, baseada na ativação corporal e sensorial, tem por base neutralizar o stress e a ansiedade corporal, desviar os pensamentos negativos, focar a mente no presente e induzir uma sensação de bem-estar.
Estes são os passos para que possa beneficiar dessa técnica:
Estimulação corporal: dançar, movimentar-se, caminhar, praticar uma atividade física;
Estimule a visão: observe cenários que relaxam ou que o inspiram;
Estimule a audição: coloque músicas de que gosta ou sons relaxantes;
Estimulação do paladar: experimente diferentes sabores, alimentos com várias texturas e desfrute-os lentamente;
Estimulação olfativa: ative o seu cérebro e os sentidos com fragrâncias naturais, como lavanda ou menta.
O tato, o prazer nas mãos: um exercício para deixar de somatizar é trabalhar com as mãos, fazer artesanato, tocar nas pessoas que ama, acariciar os animais, entre outros.
3. Exercício de comunicação expressiva
Para prevenir e tratar a somatização, é fundamental que se rodeie de pessoas com quem possa conversar, aprender, mas também desabafar aquilo que sente, mesmo que não receba o conforto desejado, mas que liberte as emoções com uma comunicação expressiva. Por outro lado, é importante considerar que a somatização costuma aparecer como efeito de um trauma subjacente que se apresenta com uma dor crónica em alguma área do corpo.
Para tal, é importante que melhore a linguagem emocional aprendendo a descrever o melhor possível os seus sentimentos, tentando utilizar a expressão: “sinto-me…”
Também pode adquirir um diário onde escreva aquilo que sente sem limitações ou medos. Analise o que escreve e procure encontrar respostas como se não fossem para si, mas para outra pessoa a quem está a dar um conselho e verá que se torna mais fácil ultrapassar um problema ou preocupação.
Faça-se rodear de pessoas que o respeitem, que o compreendam e acarinhem e afaste-se de quem o julga, critica, reclama de tudo ou ofende.
Com estas ferramentas, sentirá um bem-estar generalizado, ao mesmo tempo em que a paz será cada vez mais frequente, tal como o relaxamento da mente.
4. Exercícios de regulação emocional
Para fazer face aos desafios diários, é essencial que nos sintamos apetrechados com um conjunto de habilidades que nos vão permitir lidar melhor com a ansiedade, com o stress, com o mau humor dos demais e com as situações adversas, pelo que deve registar estas técnicas:
Técnica de relaxamento progressivo de Jacobson: consiste em exercer tensão em várias áreas do corpo e depois relaxar essas mesmas regiões. Pode começar com as mãos, continuar com a mandíbula, abdómen, pernas, etc.
Técnica de respiração profunda: respire fundo pelo nariz, segure o ar durante alguns segundos e sinta como o seu abdómen incha, e expire.
Mindfulness ou atenção plena: é um método que permite treinar a atenção para focá-la no presente, no que está a acontecer neste exato momento. Esta técnica é ideal para os estados de desregulação emocional e desconforto.
5. Estratégias de enfrentamento e autocuidado físico
Traumas e emoções difíceis permanecem na mente, mas também no corpo, resumindo-se a uma tensão acumulada exercida por um alto nível de cortisol e adrenalina que têm implicação em várias regiões corporais.
Peter Levine, recomenda as seguintes estratégias:
Realize exercícios físicos que lhe permitam enfrentar a dor. Exemplos disso são bater num saco de pancadas, correr intensamente por alguns minutos, gritar “não” bem alto, etc.
Realize práticas que lhe tragam calma e segurança psicofísica. Neste caso, pode ser útil abraçar ou ser abraçado, relaxar com água quente, caminhar na praia, receber uma sessão de massagem, entre outros.
Para finalizar, Peter Levin lembra que, mente e corpo estão tão interligados que, qualquer alteração pode afetar-nos e colocar-nos em desiquilíbrio, por isso, devemos manter um estilo de vida saudável, reservar um tempo diário para nós mesmos e, seguir as orientações acima descritas, sem esquecer a importância de cuidarmos da nossa aparência e do espaço que nos envolve, na medida em que, tudo está interligado. Uma pessoa organizada, vive menos stress, tal como alguém que cuida da sua aparência se sente mais livre e feliz, por isso, cuide-se diariamente!