De acordo com a especialista, «é importante que ouçamos o que nos dizem, mas que não exageremos no apego que damos a essas opiniões e comentários, sob pena de necessitarmos dos outros para nos vestirmos, calçarmos, tomarmos decisões, que lhes recorramos para escolher um emprego, uma casa, um parceiro, uma profissão e daí por diante».
Tentamos agradar para integrar um grupo e, efetivamente aprendemos com as diferenças e até com as sugestões dos outros, mas temos de ir construindo as nossas próprias opiniões, gostos, responsabilidades e individualidade, já que, é isso que nos torna pessoas e que nos diferencia dos demais, «mas nem toda a gente entende isso e acaba por estar sempre a tentar corresponder às expectativas dos outros sobre si mesmo», clarifica.
As referências dos outros, «jamais poderão estar acima das nossas vontades, gostos e interesses e, para isso, é essencial que analisemos o que nos dizem e fazem, mas que tenhamos sempre um espaço para pensar acerca de nós próprios», aconselha.
Quem passa uma boa parte do seu tempo preocupado com o que os outros dizem ou pensam a seu respeito, acaba por estar desajustado da sua própria realidade, por não ambicionar mais, por não sentir, seguir o que pretende e por estagnar, pois não é livre para criar, construir ou evoluir seja em si mesmo, seja na sua própria vida. Muitas vezes, basta pensar que o outro vai ficar mal impressionado para que uma pessoa não avance, não concretize ou simplesmente permaneça numa casa, local ou emprego de que não gosta. O mesmo também se passa com as relações: não convive porque acredita que os outros desaprovam ou está com uma pessoa de que não gosta por temer a crítica alheia. Como consequência, quase deixamos de viver para que não nos critiquem, «mas a verdade é que criticam-nos na mesma», sublinha.
Ao viver nessa espécie de “prisão”, é muito mais comum que a pessoa diga o que não quer, que faça o que não deve e que abdique daquilo que gostaria, acabando por sentir-se revoltada e insatisfeita com tudo e com todos ao seu redor.
Segundo a mesma psicóloga, «nada impede que as pessoas observem o que esperam de nós em situações onde há um certo protocolo, como por exemplo na igreja, onde cada templo tem o seu ritual que merece respeito. Considero este um exemplo onde seria saudável a preocupação em relação ao que esperam de nós». Contudo, existem consequências em vivermos prisioneiros das expectativas dos outros, são elas:
- Fobia social que resulta do medo de estar e de falar com outras pessoas, tal como a retração social, em que a pessoa até consegue ir aos locais, mas tenta passar despercebida.
- Perda da criatividade, na medida em que, alguém que se sente preso e que não pode expressar o que pensa e o que sente, dificilmente criará algo novo e seu.
- Ser vítima da moda e seguir “a linha dos media”, pelo medo de estar fora do que os outros consideram como aceite e “bem visto”, ainda que nada tenha a ver com a nossa postura e pessoa, mas “é o lugar seguro” onde estão os nossos conhecidos.
As causas deste tipo de comportamento estão ligadas à infância quando incorporamos as posturas de outras pessoas sem as avaliarmos ou entendermos se nos fazem ou não sentido. Com o passar do tempo, podemos ou não reformular esses padrões comportamentais. Se tivermos coragem, refletimos e modificamos aquilo que não condiz connosco, caso contrário, podemos passar longos anos a repetir e a dar continuidade ao que imitamos na tenra idade.
O excesso de preocupação com os outros também pode resultar de situações em que fomos desvalorizados, em que nos disseram algo de negativo acerca de um comportamento ou de uma característica, quando gabaram muito outra pessoa em detrimento do que somos e valemos, o que, no seu todo, dá lugar a sentimentos de inferioridade difíceis de ultrapassar e que podem acumular frustrações e medos pela vida fora.
Apesar de cada pessoa ter a sua história de vida e as suas razões para preocupar-se mais ou menos com os outros, a psicóloga Marisa de Abreu deixou algumas dicas que podem fazer muita diferença no seu comportamento:
Não considere a opinião alheia uma verdade inquestionável.
Crie as suas referencias e construa a sua personalidade baseada tanto nas opiniões dos outros como nas suas conclusões.
O seu sucesso resultará sempre de si e não dos outros. Tem uma ideia, desenvolva-a.
Não confunda elegância com a necessidade de agradar aos outros. A elegância é algo pessoal, tal como o carisma e a simpatia, pelo que, ser igual a si mesmo será a sua grande virtude.
Ninguém consegue agradar sempre ou desagradar sempre, por isso, seja igual a si mesmo, mas participe, corrija, melhore o que desejar, sem imitações.
A crítica faz parte da convivência social, tal como o elogio. Umas vezes acertamos, outras falhamos.
Aprenda a analisar a crítica de forma a ver o que lhe faz ou não sentido e aquilo que deve acatar ou descartar. Não tem de aceitar tudo.
Uma pessoa não deixa de gostar de si por ser diferente. Se o fizer é porque não gosta de si, logo, não vale a pena preocupar-se.
Haverá sempre quem nos valorize e desvalorize. Decida o que quer fazer com quem não o aprecia, mas não é uma boa ideia dar-lhe muita importância e apego.
Para finalizar, é essencial que desenvolva uma boa autoestima, que cuide de si carinhosamente, que priorize os seus gostos, características e bem-estar e que conviva mais com pessoas que o aceitam, valorizam e gostam de si tal como é. Respeite as demais, mas não lhes dê muita importância.