Família

Filhos criados por pais psicopatas

 
Os filhos criados por pais psicopatas enfrentam, desde cedo, o que é estar na vida sem aconchego, proteção, carinho, compreensão e respeito daqueles que, não tendo planeado o nascimento dos seus descendentes, acabam por ver neles objetos para os servirem a seu belo prazer.

 
«Se ser filho de um pai psicopata já é muito doloroso para uma criança, imagine o que é ter uma mãe nessas condições», dizem os especialistas fazendo ver que, é na mãe que a criança procura o colo, o conforto, a compreensão, o carinho, a delicadeza e daí por diante. É muito difícil para um filho descrever, mesmo passados muitos anos, o que é viver com pais portadores desta patologia. Muitas vezes, já adultos, estes filhos continuam sem entender a razão pela qual os pais não os amam, não lhes ligam e só os usam a seu belo prazer, pelo que, um bom psiquiatra recomenda o afastamento total destes pais e a procura de um significado para a vida, pois caso contrário, é um percurso perdido à espera de alguém que é incapaz de amar até os próprios filhos.
 
O pai ou a mãe psicopata usa os filhos para ganhar dinheiro, para se exibir publicamente, para obter o que pretende. Não ama, não sente compaixão, não é capaz de cuidar e, num qualquer momento é capaz de colocar os filhos fora de casa, mesmo que estes não tenham condições para sobreviverem sozinhos. Estes pais não têm qualquer tipo de sentimento pelos filhos, pelo que lhes é fácil “deixar à sua sorte” ou entregá-los a alguém que cuide deles. Não apresentam remorsos, muito menos planos para que estes filhos cresçam com o seu projeto de vida, pois o mesmo resume-se a servir os pais infinitamente.
 
Quando se apercebem do que viveram, estes filhos procuram ajuda médica especializada e querem construir o seu percurso, o que é possível com muito apoio e com um trabalho intenso e empenhado por parte de um psiquiatra e de um psicólogo. Estes filhos vão ter de aprender a dar um significado às suas vidas, vão ter de “desintoxicar-se” de tudo o que passaram e, a partir daí, vão começar um novo caminho, mas em muitos casos, já olham para trás e deparam-se com um longo tempo perdido, o que torna a terapia mais dolorosa.
 
A título de curiosidade e, para que não restem dúvidas, importa saber que, a Tríada da Personalidade Obscura (TPO) inclui traços como narcisismo, maquiavelismo e psicopatia, que se manifestam em pessoas com amor próprio excessivo, atitudes manipuladoras e falta de empatia. Estima-se que, a nível mundial, exista cerca de 10% da população com esta patologia.
 
É de anotar que, as pessoas com estas características são muito narcisistas, e por isso não conseguem ver algo sob o ponto de vista dos outros, essa é a razão pela qual as suas relações são pautadas pela manipulação e pelo controle. Os seus parceiros tendem a ser manipulados, usados e enganados para acreditarem que estão loucos, antes de serem desvalorizados e descartados sem qualquer remorso.
 
Como já foi adiantado acima, estas pessoas são incapazes de amar os próprios filhos, a ponto de igualmente os darem como loucos e descartáveis quando não fazem aquilo que eles pretendem.
 
De acordo com Perpetua Neo, psicóloga terapeuta especializada em pessoas com TPO, “narcisistas, psicopatas e sociopatas não têm sensação de empatia, não experimentam e não desenvolverão essa habilidade de se colocarem no lugar do outro, pelo que, não podem realmente amar ninguém”. E isso não muda quando têm filhos, pois não possuem um instinto primitivo para proteger ou encorajar os seus descendentes, porque estes são vistos como uma mera ferramenta que está sempre à sua disposição.
 
“Os portadores desta patologia tendem a ver as crianças como uma extensão de si mesmos e com uma sensação de posse”, explicou Neo. “Então, ao invés de dizerem ‘cuido para que cresças e sejas a pessoa incrível que deves ser’, dizem que  deves crescer e fazer o que é pedido, já que és um troféu”.
 
Segundo a mesma especialista, este ambiente é muito diferente daquele que uma criança deveria ter numa família saudável, razão pela qual, estes filhos sofrem de muitos problemas de autoestima, de valorização pessoal e até de identidade. Ao invés de ser nutrida e ensinada, a criança de um TPO cresce sem conhecer o seu próprio valor e a sua essência.
 
É comum que estes pais entrem pela privacidade dos seus filhos a dentro. Mexem-lhes nos pertences, não os respeitam, não acatam a sua opinião e ainda menos são sensíveis ao seu sofrimento. Não têm limites emocionais, pelo que, os filhos crescem sem saber quais são os seus limites, podendo ser usados para qualquer função, chegando a ser “utilizados” como objetos de sedução e sexuais para que os pais angariem dinheiro e daí por diante.
 
Estes pais que, por norma, são profundamente infelizes, acabam também por usar os filhos para desabafarem as suas mágoas e dissabores perante a vida fazendo com que os mais novos igualmente sejam tristes e desde muito cedo. Basicamente estes progenitores “descarregam” tudo sobre os descendentes, o que também lhes altera a forma de ver a vida, as pessoas e as relações com os outros. Também incutem nos filhos a necessidade de cuidarem infinitamente deles e de estarem ao seu serviço para quando isso é necessário.
 
Os portadores de TPO não têm qualquer problema em dizer tudo o que lhes passa pela alma, fazendo com que os filhos dependam deles e estejam sempre prontos para os ajudarem. Esta é mais uma atitude egoísta e que destrói a autoestima, enquanto que limita os horizontes dos mais novos.
 
Na posição dos entendidos na matéria, a única forma de estes filhos se libertarem deste peso é com o afastamento destes pais, pois só dessa forma poderão encontrar a desejada liberdade, tranquilidade e paz para as suas vidas.
 
Fátima Fernandes