Sociedade

Dado "primeiro passo" para que Algarve tenha Geoparque com selo da UNESCO

 
Foi assinado esta segunda-feira no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Loulé, o protocolo de colaboração entre os municípios de Loulé, Silves e Albufeira e o CIMA - Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Ualg, com vista à elaboração da candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO do aspirante Geoparque Algarvensis.

 
 
A sessão contou com a presença dos autarcas Vítor Aleixo, Rosa Palma e José Carlos Rolo, do Reitor da Ualg, Paulo Águas, Maria João Bebiano, diretora do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) e a Professora Cristina Veiga Pires, investigadora da Ualg e Coordenadora Cientifica do projeto.
 
Tratou-se de uma cerimónia que reuniu as três autarquias - pondo de lado cores políticas - em torno de um projeto comum com o objetivo de valorizar as potencialidades dos três concelhos, ao nível do seu interior e do "capital" que oferecem, em termos do seu património geológico que começou há quase 360 milhões de anos.
 
Fomentar a sustentabilidade do território com as comunidades locais através da sua cultura e vivências, juntando a riqueza geológica do interior, criando mais um ponto de interesse turístico e de conhecimento é o grande objetivo desta candidatura.
 
A Rocha da Pena, a grés de Silves ou o vale à volta do Castelo de Paderne, são apenas alguns sítios e referências que integram o futuro Geoparque Algarvensis.
 
Cristina Veiga Pires, Coordenadora cientifica do projeto, explicou que o trabalho, «ajuda a contar os vários capítulos da história da Terra, tonar o geossítio uma referência internacional, com base na economia verde e com ações contínuas relativamente à vertente ambiental».
 
A investigadora realçou que a ideia surgiu depois da descoberta de uma nova espécie de anfíbio, no concelho de Loulé, que viveu durante a ascensão dos dinossauros, um dos maiores predadores da terra há cerca de 200 milhões de anos atrás, com o nome dedicado à região, "Metoposaurus algarvensis".
 
Cristina Veiga Pires, adiantou que a submissão da candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO, será apresentada por volta de 2022, através de uma nova associação que deverá ser criada para esse fim, «uma entidade com uma marca e um estatuto que delineie todas as potencialidades do Geoparque Algarvensis».
 
 
Até lá, a população será informada, «para acolher a ideia, ajudando a concretizá-la e a mantê-la para o futuro». Para já está a ser criado um site "Algarvensis Geoparque", onde terá toda a informação relacionada com o projeto, numa vertente de sensibilização e de interatividade quer com as comunidades e visitantes quer com empreendedores que poderão ter aqui, uma "janela" de oportunidades, para projetos ligados à economia circular.
 
Neste trabalho a responsável cientifica, realçou a vasta equipa de técnicos dos três municípios que estão a trabalhar em "rede", nas mais variadas áreas, com o fim comum de preparar a candidatura ao selo da UNESCO.
 
Vítor Aleixo, referiu que este processo partiu de uma conversa com paleontólogo Octávio Mateus, Professor na Universidade Nova de Lisboa, que lhe indicou as potencialidades que o interior do concelho de Loulé tem em termos geológicos.
 
Foi nesta base que o autarca apresentou a ideia de se criar um Geoparque no Algarve, tendo feito a proposta aos concelhos de Albufeira e de Silves, «que a aceitaram de imediato».
 
O Presidente da Câmara de Loulé, reforçou a ideia de se tratar de um «projeto para gerações» e que só faz sentido com a participação das pessoas que vivem nos locais, «sem elas esta ideia não terá futuro, pois a cultura local e o seu conhecimento, numa forte vertente educativa, é um pilar fundamental para concretizar com sucesso o futuro Geoparque».
 
Rosa Palma, autarca de Silves, vincou a importância das pessoas falarem e reconhecerem «este território», relevando o conhecimento cientifico da Ualg, que está subjacente ao trabalho das três autarquias, «num processo que deverá envolver as pessoas para que seja ainda mais reforçada a candidatura à UNESCO».
 
José Carlos Rolo, autarca de Albufeira designou o projeto de «extraordinariamente interessante, pela vontade dos três municípios, que irá ajudar a contrariar a desertificação do interior, pela via económica, social e demográfica».
 
O responsável falou também de um projeto que irá «diluir a sazonalidade no Algarve», destacando a faceta educativa como «fundamental» para a sustentabilidade dos três concelhos. O Presidente da Câmara de Albufeira, disse que a candidatura é para ser feita com «tranquilidade porque é um processo sério», apontando 2022 ou mesmo 2023, para a sua submissão à UNESCO.
 
Paulo Águas, Reitor da Ualg, confirmou que a Ualg «vai contribuir para que o projeto dê certo», realçando que «temos aqui uma marca extraordinária, que irá criar no futuro melhores condições de vida para quem vive no interior».
 
O Reitor disse que o Geoparque já foi criado há muitos milhões de anos, «o que vamos fazer é utilizar o território e preservá-lo numa óptica de sustentabilidade ambiental e por arrastamento também turístico e económico».
 
Maria João Bebiano, Diretora do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Ualg, reforçou que o Centro com 100 elementos «tem já muitos jovens a trabalhar no projeto, até porque esse é o nosso objetivo transpor o nosso conhecimento além "muros" e portanto acho que aqui podemos também dar o nosso contributo». 
 
A Diretora do CIMA, deixou uma ressalva, referindo que o Centro tem uma comissão estratégica que é presidida pelo professor João Guerreiro «que no seu seio tem alguém, com fortes ligações à UNESCO, por aí se calhar poderá ajudar a tentar delinear alguma da estratégia da proposta que terá de ser apresentada».
 
Outro aspeto importante tem a ver com o facto do CIMA ser um único representante nacional nas Nações Unidas, para fazer a avaliação do estado do Oceano, «também essa experiência no âmbito da ONU, pode ser uma mais-valia para a proposta», registou Maria João Bebiano.    
 
 
Na sequência do protocolo agora assinado, no dia 7 de dezembro, a partir das 15h00, a Escola Secundária de Loulé recebe uma conferência com os intervenientes neste projeto, bem como de especialistas nesta matéria - Octávio Mateus, da Universidade Nova de Lisboa e investigador que liderou equipa internacional que escavou a jazida da Penina, onde se descobriu o Metoposaurus Algarvensis, e Artur Sá, da Universidade do Minho, que irão falar sobre os desafios e oportunidades da candidatura que reúne os três municípios algarvios. Pelas 17h15, é inaugurada a exposição itinerante "Vamos ser Geoparque Algarvensis: O que é isso? – Um território aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO", realizada no âmbito da candidatura do município de Loulé ao Fundo Ambiental "Educação Ambiental + Sustentável | EducarTe: Educar para o Território".