O ministro da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor, considerou hoje que o lançamento ao mar, no Algarve, de uma embarcação para validação e teste de tecnologias marítimas é “especial” por ter sido feito em Portugal e não importado.
A embarcação Mar Profundo, orçada em 869.000 euros, foi hoje lançada ao mar em Vila Real de Santo António, nos estaleiros navais da empresa Nautiber, que construiu o navio por encomenda do INESC TEC - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, numa colaboração que, segundo o governante, deve ser replicada por outras empresas e instituições nacionais.
“Esta obra tem um significado muito especial, é uma infraestrutura científica construída por uma empresa portuguesa e isso não pode ser esquecido, particularmente no dia de hoje, que é o dia internacional da inovação e da criatividade”, afirmou Manuel Heitor, antes do lançamento bem-sucedido da embarcação à água.
O ministro recordou que Portugal entra numa “nova fase” com o “novo plano de recuperação e resiliência” e afirmou que a colaboração demonstrada neste projeto “é o verdadeiro exemplo” de como “uma infraestrutura científica” pode ser “construída em Portugal, em vez de importada do estrangeiro”.
A embarcação foi financiada Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do Programa Operacional Regional do Norte, bem como pela Fundação para a Ciência e tecnologia (FCT), através de fundos nacionais, e deve servir “para mobilizar a indústria nacional” para um dos seus “desígnios, que é o conhecimento”.
“O INESC TEC tem agora como função equipar o navio para que possa ser posto ao serviço da comunidade científica de uma forma geral, mas para valorizar Portugal no mundo”, afirmou ainda Manuel Heitor.
Eduardo Silva, investigador do INESC TEC, explicou que a embarcação tem 19 metros de comprimento e sete de largura, ainda vai para fase de acabamentos, mas o lançamento ao mar realizado hoje teve “um significado e vai permitir dar um salto muito grande na investigação científica e tecnológica” no mar.
“Este navio é para validar e testar o desenvolvimento de tecnologia no mar, não é um navio oceanográfico”, frisou o investigador, precisando que a embarcação permitirá testar “se o que foi feito no laboratório está ou não funcional” no mar, embora possa também dar “apoio na oceanografia” e a outras entidades ligadas à investigação e desenvolvimento científico.
Eduardo Silva exemplificou que o laboratório do INESC TEC conta com um tanque, mas a embarcação vai agora permitir fazer testes em cenário real, com computadores de bordo, sensores, duas plataformas para aceder ao mar ou grua, que permitirão testar, por exemplo, veículos robóticos que têm de operar no mar ou detetar minerais no fundo marinho.
Por seu turno, o responsável da empresa naval construtora, que emprega 70 pessoas, fatura sete milhões de euros e produz 10 a 12 embarcações por ano, considerou que a construção do navio Mar Profundo “pode abrir perspetivas de outros mercados” que até aqui não olhavam para indústria naval portuguesa para este tipo de trabalhos.
“Esta oportunidade que o INESC TEC nos deu é importante para indústria naval, porque estamos a criar um produto específico, vendável lá fora, e que pode criar novas oportunidades de trabalho”, afirmou Rui Roque, reconhecendo que o trabalho foi “um desafio em termos tecnológico” e “obrigou a criar novas competências”.
A construção foi também feita “em plena pandemia”, com “falta de equipamentos e materiais e custos mais elevados”, mas a “resiliência” fez com que a empresa conseguisse cumprir o caderno de encargos e lançasse hoje o navio ao mar, congratulou-se o empresário naval.