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Viver a perda de um ente querido

Viver a perda de um ente querido
Viver a perda de um ente querido  
Foto:Freepik
Todos nós, em algum momento das nossas vidas, temos de confrontar-nos com a perda de alguém que nos é querido.

Trata-se de um momento doloroso e que requer o desenvolvimento de um conjunto de habilidades que, não sendo capazes de minimizar a dor, acabam por ajudar a expressá-la e a permitir-nos passar por esse momento com mais aceitação e consciência.
 
Apesar de cada pessoa encarar o luto de uma forma muito própria, os especialistas afirmam que se trata de um processo que demora entre 6 meses e dois anos, marcado por altos e baixos e com a particularidade de ocorrerem retrocessos nas datas especiais, como sendo o aniversário, o Natal ou outros momentos em que era comum uma presença mais vincada.
 
Para aliviar um pouco a dor que se acentua nessas ocasiões, os cientistas recomendam um conjunto de orientações que cada pessoa pode ajustar ao seu contexto de vida:
 
Segundo os entendidos, «o luto nunca termina, simplesmente adaptamo-nos a viver sem essa pessoa», pelo que, manifestar o que se sente é sempre a melhor forma de lidar com a situação. Assim, nas datas especiais, é recomendado que se aceite que, o primeiro ano após a perda de um ente querido é sempre o mais desafiador e difícil porque temos de aprender a lidar com a ausência daquela pessoa e com todo o conjunto de memórias que a mesma encerra, sabendo que, nas ocasiões especiais é quando temos de aceitar que o nosso ente querido já não está naquele momento
 
Mesmo nos anos seguintes, é natural que esses dias do calendário desencadeiem as chamadas dores do luto. Este termo refere-se a uma série de sentimentos que ocorrem inesperadamente e, quando pensamos que o evento acabou, inundamo-nos de tristeza, angústia, medo ou vazio.
 
O problema reside não só no desconforto que essas emoções geram, mas também no facto de  nos sentirmos culpados pelo que sentimos. A pressão social é muita, tal como é comum que nos digam que isso vai passar e que temos de aproveitar a vida e seguir em frente, situação que parece aumentar a dor e a angústia que sentimos, pois queremos que a dor passe, não a conseguimos superar e sentimos que os outros já a consideram prolongada no tempo quando cada um de nós tem o seu ritmo natural de aceitação e, já se percebeu que, dificilmente alguém consegue ultrapassar a dor da perda de alguém que ama.
 
Também acontece com muita frequência que, os amigos e demais familiares façam de conta que nada se passa, tentando que consigamos vivenciar as festas com naturalidade, o que também não nos ajuda a lidar com a dor da ausência, explicam os especialistas. Na realidade, precisamos de recordar aquele que nos é querido, de falar sobre ele, de registar um ou outro momento que nos marcou e de desabafar a nossa dor. É importante que sintamos que se trata de um processo normal e que exige respeito por parte de quem nos convida para o Natal, para uma festa de aniversário ou para qualquer outra ocasião especial, por isso, seguindo as orientações de autocuidado propostas no Manual de Treinamento Fundasil e Unicef para Acompanhamento e Abordagem em luto , devemos
 
1. Expressar o que estamos a sentir
 
Não se culpe por sentir tristeza, medo, raiva ou saudade, não tente reprimir ou camuflar esse sentimento. É comum optarmos por essa estratégia, a fim de agradar ou não preocupar quem está ao nosso redor ou evitar reprovações de terceiros pela nossa atitude. No entanto, todos temos o direito de sentir e, só quando permitimos que a dor se liberte, é que conseguimos processá-la da melhor forma.
 
2. Ser assertivo com os demais
 
Diga exatamente o que sente, o que precisa e mostre que merece ser respeitado pelas suas emoções, mesmo que isso implique recusar um convite porque quer estar sozinho naquele momento.
 
Apesar de estar mais fragilizado, estabeleça limites e não permita certos comentários, mesmo que possam estar carregados de boas intenções, mas se não lhe apetecer estar ali ou ouvir algo sobre o assunto, reserve-se no direito de sair ou de não responder.
 
3. Tomar decisões conscientes
 
É provável que a tristeza e a saudade gerem um primeiro impulso para se isolar e fugir  daquela comemoração que o confronta com a dor. Mas evitar nem sempre é a melhor estratégia, pois pode perpetuar o desconforto e atrasar a recuperação.
 
Por isso, reflita sobre o que realmente precisa nesse momento e tome uma decisão consciente, sem se deixar levar pelo medo ou pelas pressões alheias. Lembre-se que é uma opção transformar as tradições existentes, fazendo algo novo, vincando uma forma diferente de encarar uma determinada etapa de vida e, isso é um direito que lhe assiste. Pode muito bem encontrar um novo estilo, uma nova forma de celebrar uma data especial que lhe seja benéfica, que respeite o que está a sentir e que não prejudique os demais, pelo que lhes deve apresentar a sua sugestão.
 
4. Honrar a memória do ente querido
 
Na posição dos cientistas, os rituais assumem especial relevo durante o processo de luto, porque permitem que honremos a memória de quem partiu, que dignifiquemos e valorizemos quem nos é especial e que nos sintamos mais aliviados durante as celebrações, por isso, pode colocar uma fotografia na mesa como forma de recordar o lugar que o seu ente querido ocupava, mostrar fotos ou outros objetos daquela pessoa para que todos possam recordá-la e abordar frontalmente o assunto, colocar o prato no lugar habitual, mostrando que, não estando fisicamente, essa pessoa está e estará sempre convosco. Não tenha medo de mostrar o quanto gosta dessa pessoa, o quanto é grato pelos momentos e vivências que desfrutou com ela e daí por diante. Tudo o que a imaginação lhe permitir e que lhe minimize o desconforto é bem vindo e deve ser respeitado pelos demais.
 
5. Aprender a encontrar uma nova forma de bem-estar
 
Não se sinta culpabilizado por, aos poucos, estar a conseguir encontrar alguns momentos de paz interior, calma e bem-estar. É comum que neguemos esse tipo de situação por nos sentirmos mal e até com culpa  por estarmos vivos quando alguém que nos é querido partiu, mas não está de forma alguma a trair aquele que já não está presente. Estar num momento agradável não minimiza a falta daquele que amamos, mas é uma forma de nos erguermos, de ganharmos força para prosseguir e até de honrarmos os desejos dessa pessoa.
 
Por fim, registe que, estas dicas são apenas um ponto de orientação numa área delicada e que requer uma atenção muito especial e que seja vivida da melhor forma possível por quem atravessa tamanha dor.
 
Em muitos casos, o apoio psicológico constitui um forte alicerce para que encontremos estratégias para aprendermos a viver com a ausência, por isso, se não está a conseguir ultrapassar sozinho um momento difícil, não hesite em pedir apoio.