A forma como fomos educados determina, em grande parte, a nossa atitude perante a vida, as pessoas e as relações.
Ao longo dos anos, vamos dando aos outros aquilo que também recebemos e, nem sempre essa é a melhor maneira de encarar os relacionamentos, sobretudo se passamos por uma educação pouco dada ao afeto, à compreensão, ao respeito e ao diálogo.
Há muitas pessoas que chegaram a adultas a acreditar que se não corresponderem aos desejos dos outros, não são amadas, nem aceites, pelo que, esquecem-se de si mesmas, desvalorizam-se e colocam-se sempre num nível muito baixo de existência, o que faz com que arrisquem pouco, que dêem pouco de si, mas que exijam muito dos outros porque são emocionalmente frágeis.
Também há quem tenha sido habituado a só ser merecedor de amor à base do esforço, logo, a vida a dois torna-se “num inferno” e numa luta constante, uma vez que, tal como os pais lhes fizeram, estas pessoas acham que se não tiverem um nível de exigência elevado, não conseguem manter uma relação. É um facto que um relacionamento requer entrega, compromisso e responsabilidade, mas também precisa de liberdade para que se mantenha. Necessita que os parceiros sintam prazer em estar um com o outro e em serem iguais a si mesmos, o que não acontece com quem acredita que tem de dar sempre o máximo e esforçar-se para que tudo corra bem.
Os pais que só recompensam as boas ações dos filhos e que dão pouco afeto ou que só o fazem mediante um grande esforço, fazem com que os filhos se tornem escravos dos outros e que entrem nas relações com um espírito de sacrifício tão grande que se esquecem de amar e de ser amados.
Se numa fase inicial de vida isso funciona, à medida em que o tempo passa, a pessoa fica dependente dos outros, não faz nada sem a aprovação dos demais, sente-se infeliz e tão desvalorizada que, em muitos casos, se desliga de si mesma e projeta-se no outro como “tábua de salvação”.
Estas pessoas precisam muito de admiração, de reconhecimento, mas não se dão conta de que isso não é amor, mas sim, uma sociedade afetiva que pouco tem de verdade, de honestidade e de interessante. Com o tempo, os sentimentos confundem-se e a chama que os deveria unir deixa de existir.
É fundamental que, aos poucos, nos vamos libertando desta e de outras crenças sob pena de nunca encontrarmos pessoas que gostem mesmo de nós, mas sim que tenham algum interesse no que temos ou fazemos. Para isso, é preciso diferenciar admiração de amor, pois não são a mesma coisa, nem representam a mesma importância no seio de uma relação amorosa.
Podemos admirar uma qualidade ou outra na pessoa que amamos, destacá-la pelo que é, mas isso tem de traduzir-se em amor, em desejo, em vontade de construir um plano de vida com essa pessoa, em partilhar também o que somos e em valorizarmo-nos e aceitarmo-nos tal como somos para que gostemos de nós e para que nos permitamos amar alguém também.
Muitas pessoas também foram habituadas à imposição de provar que amam o outro para que ele se sinta seguro e confortável na relação. Crescemos com essa crença que nos aprisiona e que não nos deixa ser livres para soltar as palavras e os gestos que sentimos. Muitos pais transmitem essa regra que se prolonga pela vida fora e que chega ao namoro e ao casamento, mas isso traduz medo, insegurança e baixa autoestima, além de sufocar quem está ao nosso lado e a nós mesmos.
Cada um de nós tem de ser capaz de receber o amor do outro e dar o que sente sem que esteja preocupado com a “dose certa” de que o outro necessita. Damos o que somos e o que temos, damos com prazer, liberdade e disponibilidade afetiva, nãop sob a exigência ou imposição de alguém, pois só assim é amor.
É verdade que, à medida em que estamos mais seguros na relação, entregamo-nos mais e sentimos mais liberdade para nos mostrarmos, mas isso tem de sair de dentro, não pode ser imposto.
Quem quer evitar estes erros que são muito comuns, mas que destroem as relações, tem de abandonar as crenças que foi construindo e dando forma ao longo da vida e tentar substitui-las por pensamentos mais elaborados e menos carregados de imposições que conduzem ao sofrimento.
No topo dessa prioridade está a consciência de nós próprios, a nossa autovalorização, autoestima, autoconfiança que, são a base para que confiemos mais naquilo que somos, temos e que podemos dar ao outro.
A quem está ao nosso lado, cabe dar-se e assumir-se também como é para que juntos possamos enfrentar os desafios diários, mas com liberdade, confiança e estabilidade afetiva capazes de fazer crescer o amor.
Quem está connosco gosta de nós, do que realmente somos e não do que temos ou do que damos. Se esta não for a base da sua relação, então vale a pena reconsiderá-la e permitir-se viver algo novo e melhor.