Uma amizade sincera é um espaço de partilha de sentimentos e de confidências. Descobrir que um amigo não é merecedor dessa entrega é algo muito doloroso e que precisa de ser tratado.
Assim à primeira vista, parece simples acabar com a amizade e seguir em frente, mas o problema é ter de lidar com a raiva, a tristeza, a desilusão e todo o conjunto de sentimentos negativos que esse desfecho acarreta.
Muitas pessoas optam pelo silêncio e por fazerem de conta que nada se passou, ainda que carreguem a angústia e um desejo crescente de vingança, outras, por seu lado, enfrentam o amigo traidor, discutem e a dor parece não passar, enquanto que também há quem converse com a pessoa em causa, confesse o que está a sentir e termine a amizade de forma diplomática.
Para os especialistas, cada um é livre de fazer aquilo com que se sente mais confortável, mas é fundamental que não alimente uma relação tóxica, sob pena de isso prejudicar a autoestima e a capacidade de voltar a confiar em alguém.
É de anotar que, na maior parte das vezes, a traição refere-se a um segredo que não foi guardado, a um ato de envolvimento com o/a parceiro/a do amigo, conversas divulgadas a outras pessoas e que prejudicam quem fez a confidência, inveja, falta de empatia e de recetividade, manipulação, interesse por algo que o amigo possui, falta de lealdade e de sinceridade.
Para que se reencontre o equilíbrio e a autoconfiança, os profissionais de psicologia deixam algumas dicas.
1. Assuma o que está a sentir
Depois de uma traição, é natural que sinta raiva, tristeza, confusão, baixa autoestima, desconfiança por tudo e por todos, instabilidade e desesperança. Para poder ir ao fundo dessa dor, é essencial que assuma o que está a sentir, que desabafe com alguém da sua confiança para que melhor possa extravazar essas emoções dolorosas e que aceite que nem todas as pessoas são merecedoras da sua confiança.
Uma boa técnica para superar e processar as emoções negativas é escrever num diário onde possa desabafar tudo. Se desejar, pode destruir as folhas que mais o angustiam ou mesmo deitar o caderno fora depois de desabafar essa dor.
2. Avalie a amizade e estabeleça limites
A traição pode ser um sinal de que é preciso avaliar a amizade. Reserve um tempo para refletir sobre o relacionamento e veja se houve algum sinal de alerta anterior ou padrões negativos de comportamento. Pergunte a si mesmo se a amizade foi equilibrada, se houve respeito mútuo e se os valores fundamentais foram partilhados.
Depois desta análise, pondere se essa relação continua a fazer-lhe sentido ou se a sua vida será melhor sem a presença dessa pessoa. Note que, uma amizade tóxica destrói-nos devagar, mas de forma violenta.
3. Procure pessoas em que consiga confiar
Num momento de muita dor, é essencial que se faça acompanhar por pessoas e relações saudáveis, pelo que deve procurar aqueles que ama e sentir-se o mais acarinhado possível. Desabafe tudo o que precisar, liberte essas emoções destrutivas e tóxicas para que se possa reencontrar e voltar a confiar seja em si mesmo, seja noutra pessoa.
4. Perdoe, mas reaja
O perdão pode ser um processo libertador, mas não significa que se deve manter a amizade ou permitir que a traição se repita. Avalie se a traição é perdoável com base nos seus valores e limites pessoais.
Perdoar não significa esquecer ou justificar a traição, mas libertar-se da carga emocional que ela acarreta. Se optar por perdoar, estabeleça limites claros e comunique de forma assertiva as suas expectativas. Dessa forma, estará a proteger-se e a evitar cenários semelhantes no futuro.
5. Encontre maneiras de curar e crescer
A traição de um amigo pode ser uma experiência dolorosa e difícil de superar, mas também pode dar-lhe uma oportunidade de curar a dor e de crescer como pessoa. Explore diferentes atividades, como meditação, exercícios regulares e tempo ao ar livre e cuide da sua saúde física e mental.
Procure atividades que lhe tragam alegria e que o ajudem a reconstruir a confiança nos outros. Use essa experiência como uma oportunidade para refletir sobre as suas próprias ações e comportamentos nas relações de amizade e procure crescer e melhorar-se também como amigo.
6. Aprenda a confiar novamente
Depois de uma traição, pode ser difícil voltar a confiar em alguém. No entanto, não devemos permitir que uma má experiência defina os nossos comportamentos e relações futuras. É preciso entender o que aconteceu, como e porque ocorreu para que se possa proteger e evitar cometer o mesmo erro.
Aprenda a dar tempo ao tempo e a não confiar logo nos primeiros contactos, não revele dados pessoais, nem faça confidências a pessoas que também não o fazem e, ainda menos revele aspetos íntimos da sua vida a pessoas que não conhece bem e sobre as quais sabe pouco ou tem poucas provas de sinceridade e de lealdade. Se mantiver contactos menos profundos, certamente que terá menos desilusões, aconselham os entendidos.
7. Aprenda a perdoar-se
Perante uma traição, é comum que as pessoas se culpem ou sintam vergonha por confiar em alguém que as traiu. É importante lembrar que a responsabilidade pela traição é da outra pessoa, não sua. Permita-se perdoar a si mesmo por qualquer papel que tenha desempenhado na situação e evite culpar-se indevidamente.
Aceite que todos cometemos erros e que aprender com eles faz parte do crescimento pessoal. Cultive a compaixão por si mesmo e trabalhe para gostar mais de si e para melhorar-se, facto que igualmente irá facilitar a convivência com os demais.
Por fim, os entendidos recomendam o apoio de um psicólogo caso sinta necessidade de promover mais habilidades pessoais, de aprender a lidar melhor com a dor que sente e sempre que se sentir mal consigo mesmo.
Este profissional irá fornecer-lhe dicas valiosas para que entenda melhor o que aconteceu e para que se possa proteger em situações futuras.