Ambiente

Seminário no Algarve defende equilíbrios para contrariar a degradação do solo

Seminário no Algarve defende equilíbrios para contrariar a degradação do solo
Seminário no Algarve defende equilíbrios para contrariar a degradação do solo  
Foto - wirestock / Freepik
O equilíbrio entre a agricultura intensiva e outra mais sustentável, que proteja o meio ambiente, foi hoje defendida em Alte, no Algarve, por responsáveis políticos e técnicos da região preocupados com a degradação dos solos.

“As práticas utilizadas pela agricultura intensiva estão a degradar os solos, mas também não podemos diabolizar esta atividade económica, que é fundamental”, disse o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, José Apolinário.

Técnicos, investigadores e também representantes institucionais analisaram o estado atual dos usos do solo em territórios de baixa densidade (pouco povoados) e debateram medidas que promovam a sua valorização.

Para José Apolinário, é importante partilhar conhecimento sobre esta matéria em seminários que não servem para nada se não se atacar o empobrecimento dos solos causado, principalmente, com a agricultura intensiva que utiliza produtos químicos que empobrecem os terrenos.

“Temos de ter estruturas técnicas para passar à ação, porque, caso contrário, vamos continuar apenas a fazer seminários como este”, alertou.

O seminário “Usos Sustentáveis do Solo em Regiões de Baixa Densidade: Coesão Territorial” realizou-se em Alte, no concelho de Loulé, numa parceria entre a Escola Profissional Cândido Guerreiro e a Universidade do Algarve (UAlg).

“Não é por não haver verbas”, nomeadamente de fundos comunitários, assegurou o presidente da CCDR algarvia, insistindo que o essencial é criar “estruturas técnicas para passar à ação”.

José Apolinário também referiu os problemas criados pelo aumento da construção de casas ilegais em espaços agrícolas e as consequências para os solos, principalmente com o aumento da sua impermeabilização.

“Eu sei que é preciso mais espaço para habitação, mas também precisamos de mais agricultura sustentável”, afirmou.

Também presente no seminário, o reitor da Universidade do Algarve, Paulo Águas, alertou que a agricultura, nomeadamente a intensiva, que tem uma maior produtividade, procura responder a necessidades básicas das populações.

“Há aqui um conjunto de equilíbrios que temos de tentar alcançar, porque, se não houver rentabilidade, não temos emprego”, afirmou.

O reitor da UAlg recordou que o famoso economista inglês John Keynes dizia que a sociedade tem de pensar no médio e longo prazo, mas se falhar no curto prazo não irá chegar a prazos mais dilatados.

Por seu lado, o presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, recordou que “o solo é um recurso essencial para a humanidade”, referindo que no seu concelho há exemplos de solos tratados de forma sustentável e outros em que, “em nome da economia, são arrasados e maltratados”.

“A situação [dos solos] é má, é grave, e é preciso que as pessoas falem a verdade. Todos nós somos responsáveis pela situação”, disse.

Vítor Aleixo criticou o facto de se estar a ser “totalmente liberal, em nome de princípios económicos irresponsáveis”.

Enquanto o liberalismo se concentra na confiança no mercado para autorregular a economia, o keynesianismo destaca a necessidade de o governo ter um papel importante na gestão das flutuações económicas, priorizando o bem-estar social e a estabilidade macroeconómica.

“Eu fico admirado por as pessoas não se oporem mais a um certo tipo de explorações agrícolas” pouco amiga do solo e do ambiente, Vitor Aleixo.

Para o autarca, a sociedade está “a dar passos importantes para a desertificação apressada do território”.

O presidente da Câmara de Loulé também alertou para “o excesso de urbanização”, principalmente a que está ligada ao turismo, e pediu para se refletir sobre a questão.

O professor universitário Amílcar Duarte afirmou que o Algarve tem “clima e calor, mas os solos são pobres”, estando os melhores no litoral que está a ser “invadido” por habitações, com a agricultura a deslocar-se para territórios interiores de baixa densidade populacional.

Lusa