Segundo o Awdhesh Singh, um homem feliz é aquele que equilibra bem o apego e o desapego para que a sua felicidade seja maximizada.
Partindo deste pressuposto, pode afirmar-se que, a resiliência está diretamente ligada à forma como os nossos pais e cuidadores nos transmitiram a noção de apego.
O termo apego foi desenvolvido pelo psicólogo John Bowlby, na década de 1950 e envolve os vínculos afetivos desenvolvidos entre as pessoas, principalmente durante as relações da primeira infância com os principais cuidadores.
Por sua vez, o apego é considerado parte fundamental do desenvolvimento humano, pois desempenha um papel crucial na construção da personalidade, nas relações interpessoais e no bem-estar emocional. Bowlby argumenta que os seres humanos têm uma necessidade inata de estabelecer laços afetivos e seguros com os outros.
Na mesma sequência, existem vários tipos de apego: seguro, ansioso ou ambivalente, evitativo e desorganizado. Tais estilos são gerados em resposta a interações e experiências precoces de apego, que influenciam a forma como estabelecemos relacionamentos e enfrentamos desafios na vida adulta, explica o mesmo psicólogo.
É importante ressaltar que o apego não se limita apenas aos vínculos da infância, pois também afeta a idade adulta e a maneira como nos conectamos com os outros ao longo do nosso percurso. Um bom apego caracteriza-se pela proximidade, sensação de segurança, exploração/autonomia e regulação emocional. Além disso, segundo um estudo divulgado pela Revista Latino-Americana de Psicologia, no apego seguro há maior confiança, alegria, prazer, calma e tranquilidade.
No que se refere à resiliência, esta é a capacidade de uma pessoa lidar, adaptar-se e recuperar-se de situações adversas, desafiadoras ou traumáticas. Envolve a capacidade de manter um funcionamento emocional e psicológico saudável perante a adversidade. Da mesma forma, significa recuperar e crescer a partir dessas experiências difíceis.
A resiliência é dinâmica, podendo conhecer vários contornos ao longo da vida e ser desenvolvida num qualquer momento do nosso percurso, desde que haja essa vontade. É também de evidenciar que, as pessoas apresentam diferentes níveis de resiliência, dependendo das suas características individuais e experiências passadas.
Aprendemos a ser resilientes através do desenvolvimento de estratégias e fatores de proteção, sem esquecer que, por si só, o apego seguro dá lugar a essa proteção individual, no entanto, é necessário que sejamos capazes de interpretar bem as experiências, as aprendizagens e de nos adaptarmos o melhor possível às diferentes exigências a que estamos expostos. O ambiente social e os recursos pessoais são também determinantes para que sejamos mais resilientes, completam os especialistas, reforçando a importância do autoconhecimento, da gestão emocional, a aprendizagem contínua e a capacidade de olharmos para dentro de nós para que depois possamos observar e interpretar melhor o mundo que nos rodeia.
Sublinham os especialistas que, as pessoas que experimentam um apego inseguro ou adversidade podem desenvolver resiliência através de várias intervenções terapêuticas, habilidades de enfrentamento e construção de relacionamentos de apoio na vida adulta, o que traduz que, ninguém está condenado ao seu percurso, mas é imperioso que desenvolva uma vontade profunda para que o possa ultrapassar.
O apego seguro caracteriza-se por relações estáveis, consistentes e amorosas e são a base para que se desenvolva uma boa resiliência. Pelo contrário, os demais tipos de apego dão lugar a relações instáveis, uma vez que a sua base é abusiva, pouco ou nada consistente, muitas vezes marcada por um ou mais tipos de violência e constituem um perigoso aspeto no que se refere à resiliência, devido à baixa autoestima, a problemas de regulação emocional, desconfiança nos outros, pouca entrega emocional e dificuldades em enfrentar a realidade e superar desafios.
Por fim, os especialistas ressalvam que, a resiliência não é determinada apenas pelo apego, pois é um processo complexo e multifatorial. Existem outros fatores, como suporte social, experiências de vida, personalidade e habilidades de enfrentamento, que desempenham um papel crucial na capacidade de uma pessoa lidar com a adversidade.
Neste sentido, os vínculos emocionais de cada pessoa têm um grande impacto no desenvolvimento da resiliência, sendo que, o apego seguro é decisivo para essa conquista. Uma pessoa que cresceu num ambiente pouco dado ao afeto, sem compreensão, carinho, suporte emocional e que até sofreu algum tipo de violência física, psicológica ou emocional, pode passar por um processo terapêutico que lhe devolva a autoestima perdida na infância, pode ressignificar a sua existência e construir um núcleo familiar consistente na idade adulta, mas forçosamente terá de iniciar essa nova abordagem de si mesma, conhecer-se, saber aquilo com que pode contar e, naturalmente, estar integrada num ambiente seguro e confiável, concluem os especialistas.