Ao longo dos últimos anos, tem existido uma enorme confusão relativamente à forma de educar.
Se há quem não queira imitar a educação autoritária que recebeu e tenta aplicar um modelo mais adequado à realidade e aos desafios atuais, respeitando os filhos, apoiando-os, motivando-os, mas também fornecendo-lhes regras e compromissos, são muitos os pais que optam por “deixar fazer tudo” como forma de aproximar os mais novos de si e de evitar os conflitos, as tensões, as chamadas de atenção, diminuindo a exigência natural que faz parte do processo educativo.
É importante reter que, não há pais nem filhos perfeitos, mas existem valores, regras de boa convivência social, uma organização normal na sociedade que deve ser mantida e transmitida aos mais novos, sob pena de ocorrerem desvios graves, comportamentos abusivos, violência, faltas de respeito, intolerância, imaturidade e daí por diante.
A disciplina faz parte, tal como as regras são essenciais para o bom funcionamento de uma família e comunidade. Os pais têm de ser uma referência de autoridade e não de autoritarismo e perceber onde devem ser estabelecidos os limites, onde é que a criança pode ir, o que pode ou não fazer e ajudar os filhos a tomarem decisões capazes de respeitarem os seus interesses, sem ultrapassar o respeito pelos outros.
A educação consciente surge como um modelo que pretende mostrar que é possível conciliar um conjunto de fatores e alcançar resultados positivos. Contrasta com o passado, mas não perde de vista a exigência do tempo presente e, segundo a psicóloga Filipa Rouxinol, deve contemplar os seguintes pontos: positiva, respeitosa e não violenta, neurocompatível, intencional e responsiva, como “forma de estar”, de se relacionar com o bebé, criança e adolescente, baseada no respeito, equilíbrio, empatia, compaixão, segurança.
De acordo com a mesma especialista, a parentalidade consciente é uma abordagem baseada em evidências científicas para criar crianças felizes e confiantes, composto por quatro elementos principais – empatia, respeito, compreensão e limites – e centra-se na promoção de competências de forma compassiva e estabelecimento de limites claros e consistentes.
Esta forma de exercer a parentalidade não é um método ou uma estratégia parental, é mais uma maneira de ser e que exige que os pais olhem profundamente para si mesmos e para a sua própria educação, identifiquem as suas feridas/mágoas internas, compreendam os seus gatilhos e trabalhem ativamente em si mesmos para quebrar padrões que considerem desajustados, explica a mesma psicóloga.
Desta forma, desenvolvem competências e criam ligações relacionais, emocionais e cerebrais, nos seus filhos que os ajudam a tomar melhores decisões e a serem mais bem-sucedidos no presente e no futuro.
Pretende-se ajudar a criança a desenvolver 4 características importantes:
Equilíbrio: lidar com as emoções e comportamentos para que diminuam a probabilidade de perderem a calma e controlo.
Resiliência: capacidade de recuperar/ superar de situações difíceis.
Discernimento: ser capaz de olhar para dentro de si, compreenderem-se e usarem a aprendizagem para tomarem as decisões mais acertadas.
Empatia: capacidade de perceber/compreender a perspetiva do outro.
Ressalva a mesma especialista que, esta abordagem de parentalidade pode não ser a melhor opção para todas as situações, pais ou crianças, dependendo da visão e princípios educacionais e da personalidade dos pais. A maioria dos pais aplica uma mistura de filosofias parentais na educação dos seus filhos e baseia as suas ações numa combinação complexa de fatores.
Assim, esta forma de exercer a parentalidade poderá ser mais desafiante e/ou difícil para pais que:
Procuram uma solução rápida e clara para os desafios impostos pelo desenvolvimento dos seus filhos. Esta abordagem exige disponibilidade e tempo para atingir a autorreflexão e o controlo interno necessários para lidar com as situações mais exigentes.
Fazem tudo aos seus filhos e não lhes dão oportunidades para tentar lutar e falhar. Para alguns pais pode ser difícil assistirem às dificuldades que os filhos sentem e podem tentar “salva-los”, não os ajudando verdadeiramente a lidar com as dificuldades e ensinarem-lhes as competências necessárias.
Gostam de respostas diretas (tudo ou nada, branco e preto) para lidar com problemas com os filhos. Esta forma de parentalidade não endossa uma abordagem de causa-efeito direta, exige que os adultos cedam algum controlo aos filhos na medida em que permite que haja escolhas,. Os adultos precisam de trabalhar com as crianças para resolver os problemas à medida que surgem e a permanecer no momento.
Quando aplicada corretamente, a parentalidade consciente tem inúmeros benefícios para pais e filhos, destacando-se estes:
Ajudar a criança a desenvolver confiança, independência, autoestima e fortes competências de regulação emocional, tornando-a mais resiliente e empática
Aumentar o desempenho escolar: a criança torna-se mais disponível para a aprendizagem, melhora a capacidade de gerir a frustração
Ajudar a modelar comportamentos: reduz a agressividade, aumenta a capacidade de tolerância à frustração, aumenta a flexibilidade, promove o autocuidado.
Promover a reflexão em vez da reação imediata, perante comportamentos intensos, através de uma postura curiosa, calma e empática.
Para desfrutar deste estilo de vida que se vai melhorando e ajustando aos desafios, é necessário que os adultos tomem consciência do que desejam, que sigam uma linha orientadora onde estejam incluídas estas dinâmicas, que tenham tempo e disponibilidade. É ainda fundamental que queiram mesmo que este seja um modelo que se alarga ao estilo de vida e de convivência diária, sob pena de assistirmos ao “deixa andar” e a crianças que podem fazer tudo porque os pais não sabem distinguir o que deve ou não ser aceite, não conseguem estabelecer limites e ainda menos aplicar regras e uma disciplina eficaz, realça a mesma especialista.
Para finalizar registe que, muitas das discussões e do mau ambiente que vivemos com os nossos filhos não é o resultado daquilo que se passa no presente, mas a memória que carregamos do nosso passado, em muitos casos, perturbadora.
Com a adoção deste estilo de vida, torna-se essencial que cada adulto trabalhe o seu passado e que saiba estar no presente consigo mesmo, com o cônjuge e com os filhos, que seja capaz de distinguir o que faz parte deste tempo daquilo que ficou lá atrás e, a partir daí, conseguirá ser melhor pessoa, melhor pai, melhor mãe, mais livre, justo e muito mais feliz.