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Saiba se é viciado na Internet

O problema não é novo, mas a sua amplitude é crescente e preocupante.
O problema não é novo, mas a sua amplitude é crescente e preocupante.  
Foto Freepik
O problema não é novo, mas a sua amplitude é crescente e preocupante.

Considera-se como vício, o consumo excessivo, compulsivo e prejudicial de conteúdos de áudio e vídeo em streaming, que abrange ver TV em excesso, filmes, documentários, YouTube, Netflix, TikTok, Twitch, além de ouvir podcasts, rádio, música ou utilizar outras plataformas digitais.
 
O vício em streaming e televisão pode levar a alterações no cérebro que, com o tempo, comprometem-nos a concentração, o estabelecimento de prioridades, a capacidade de olharmos para nós próprios e também para os outros, o que nos remete para o isolamento e para alterações significativas de humor.
 
 Segundo os especialistas nesta matéria, as pessoas viciadas na Internet, não conseguem decidir o que querem ver porque se deixam levar por aquilo que lhes é proposto, não controlam o tempo e acabam por permanecer ligadas durante longos períodos, fazem diversas tentativas para realizarem outras tarefas, mas não conseguem reunir motivação para as iniciar, pelo que acabam por permanecer sentadas ou deitadas, ligadas e frustradas porque, quando chegam ao fim do dia pouco cumpriram daquilo a que se tinham proposto. Ao mesmo tempo, relatam que perderam o gosto por atividades com outras pessoas e por tudo o que se afaste dos ecrãs, incluindo também os cuidados de higiene pessoal, os momentos de prazer e de lazer «porque todos os caminhos vão parar à Internet e a outros dispositivos».
 
Estas pessoas confidenciam em consulta que, «mesmo sabendo as consequências e os riscos para a saúde, arriscamos permanecer junto aos conteúdos e, quando não temos ecrãs por perto, entramos num estado de ansiedade, falta de interesse por outras atividades, distração e irritabilidade».
 
São pessoas que confessam não conseguir aproveitar os momentos fora dos ecrãs «porque estamos sempre à espera de uma novidade, de algo que nos surpreenda, que nos envolva e que justifique estar ligado».
 
«Usamos o streaming para nos alterar o humor e fugir dos problemas. Os nossos comportamentos viciantes prejudicam-nos as relações pessoais, sociais, as oportunidades de carreira e a própria aprendizagem, na medida em que temos o cérebro tão cheio que não dispomos de capacidade para receber mais nada».
 
E acrescentam: «nos poucos momentos em que olhamos para nós mesmos, sentimos vergonha por estarmos a perder o tempo e a energia que poderia ser aproveitada para outras atividades e momentos de prazer com outras pessoas ou mesmo sozinhos, mas na realidade, não conseguimos ter força para sair do ecrã».
 
Para saber se é viciado em streaming, responda sinceramente a estas questões:
 
- Já me aconteceu ligar um dispositivo com o intuito de ver um programa, mas quando dou por mim, já se passaram horas?
 
- Ligo o ecrã com o objetivo de pesquisar um conteúdo, mas quando dou por mim já me perdi no tempo e acumulo pesquisas atrás de pesquisas?
 
- Digo a mim mesmo que são só uns minutos, mas não consigo cumprir o tempo em frente ao ecrã?
 
- Recorro ao conteúdo de streaming sempre que tenho um momento livre?
 
- Fico tão absorvido pelos conteúdos que me esqueço de cuidar da minha higiene, aparência e daquilo que me rodeia e que é da minha responsabilidade?
 
- Faço refeições em frente aos dispositivos porque não tenho tempo ou não consigo sair dali?
 
- Mesmo a trabalhar, não consigo fazer pausas nem que sejam de uns breves minutos porque quero estar sempre atualizado e a cumprir a minha tarefa?
 
- Quando não estou ligado aos ecrãs, sinto-me ansioso, irritado, ausente, isolado, vazio, sozinho e desmotivado?
 
- Desde que adotei este passatempo, vivo momentos de conflito com aqueles que me são mais próximos?
 
- Tenho tanto de estar ligado que até o faço durante as refeições, a qualquer hora e em qualquer lugar?
 
- Negligencio o meu trabalho, as minhas responsabilidades, estudos ou tarefas?
 
- Minto sobre o tempo que estou ligado aos ecrãs?
 
- Digo que estou a trabalhar quando na realidade estou ligado aos conteúdos que me interessam?
 
- Sinto necessidade de esconder o que estou a ver e durante quanto tempo?
 
- Sinto culpa ou vergonha em relação aos meus comportamentos de streaming?
 
- No fundo, sei que não estou no caminho certo, mas já não estou a conseguir ter o controle sobre os meus comportamentos?
 
A ciência diz que, «ninguém deve sofrer por causa do uso da tecnologia. Se respondeu sim a várias das perguntas acima, recomendamos que considere a possibilidade de obter apoio».
 
É importante lembrar que, o vício em streaming é um subconjunto do transtorno de dependência da Internet (IAD), que foi investigado pela primeira vez pela psicóloga Kimberly S. Young, que publicou o artigo original sobre este vício com os respetivos critérios de diagnóstico para esse transtorno de saúde mental em 1998.
 
Atualmente, ainda há uma discussão aberta na comunidade científica sobre como definir, qualificar e estudar as várias formas de transtorno de dependência da Internet, e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR) da Associação Americana de Psiquiatria começou a reconhecer a gravidade dessa classe de vícios através do transtorno de jogos na internet. Há consenso generalizado de clínicos e investigadores «que o uso excessivo, problemático e compulsivo da Internet, da média digital e de dispositivos inteligentes vem aumentando nas últimas duas décadas e que a prevalência desse vício comportamental está associada a uma variedade de problemas mentais, emocionais, físicos, interpessoais e profissionais».
 
O problema central reside no facto de que, a libertação de dopamina desencadeada pelo vício em internet e tecnologia «causa mudanças estruturais no cérebro muito semelhantes às mudanças ocorridas em pessoas com dependência de álcool ou drogas».  Completam ainda os cientistas que, «essas alterações levam a dificuldades no que se refere à tomada de decisões, raciocínio, expectativa de recompensa, função executiva, função cognitiva, processamento emocional e memória de trabalho».
 
Contudo, os impactos negativos do vício em Internet e tecnologia não se refletem apenas na estrutura dos nossos cérebros, mas também na nossa vida diária. O vício em Internet e tecnologia está fortemente associado a transtorno de controle de impulsos, Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade, aumento do uso de substâncias e depressão. Além desses transtornos concomitantes, existe um risco maior de sofrer de obesidade e doença cardiometabólica, alterações no sono, aumento da fadiga que, no seu conjunto, podem fazer aumentar a taxa de mortalidade precoce, muito devido ao suicídio.
 
É de anotar que, «o vício em Internet e tecnologia altera-nos o cérebro de modo semelhante aos efeitos produzidos pelo vício em álcool, heroína ou outras drogas», alertam os investigadores.
 
O vício em streaming é uma condição que pode afetar pessoas de todas as idades, desde crianças e adolescentes até pessoas mais velhas, pelo que é tempo de pedir ajuda, começando por um psicólogo e, mediante a dimensão do problema, o psiquiatra será o profissional mais capacitado para ajudar quem está a passar por esta situação que, pode iniciar- se de forma subtil, mas caminhar rapidamente para um problema grave que vai muito além da saúde, na medida em que nos compromete as demais áreas de vida, recomendam os cientistas, lembrando que, os estudos demonstram que este vício inclui pessoas que trabalham, mas que, mesmo no período laboral estão ligadas aos seus dispositivos, estudantes que, cada vez mais se ausentam das matérias escolares porque estão ligados, aposentados que, como forma de preencher o tempo, acabam por consumir estes conteúdos sem que procurem alternativas, crianças muito pequenas que, em vez de brincarem estão ligadas e daí por diante.
 
«Tratando-se de um problema transversal, faz sentido que todos estejamos atentos e que façamos alguma coisa por nós próprios, mas também por aqueles que amamos, porque não é hnormal dedicar tanto tempo às tecnologias, há vida para além dos ecrãs», concluem.