Tendo por base um apontamento de Vasco Névoa, Nutricionista, «Não existe uma alimentação que se adeque a todos», por essa razão e, numa altura em que já são conhecidos os (preocupantes) dados do Relatório de Nutrição Global, a Nutrição assume-se cada vez mais como área prioritária.
«Um alimento que é saudável para uns pode não ser para outros». As palavras são de Vasco Névoa, Nutricionista na Blueberry Clinic, e especialista em Nutrição Personalizada. E esta é uma regra básica para termos uma dieta adequada e, em última análise, para termos saúde.
Numa altura em que o Natal se aproxima, Vasco Névoa partilha algumas pistas para celebrarmos esta época festiva sem prejudicar a saúde. No entanto, não é preciso sermos fundamentalistas: «sou apologista de que no Natal podemos cometer alguns ‘abusos’».
Tem refluxo gástrico? A sua barriga tende a inchar?
Preste atenção aos sintomas, porque também eles são personalizados. Cada um de nós reage de forma diferente aos alimentos.
Por exemplo, para muitas pessoas a batata-doce, as castanhas, os cogumelos e os cajus são um problema, quer sejam consumidos inteiros e crus, ou em sopas, recheios e acompanhamentos.
Doces natalícios como as azevias de grão-de-bico ou de feijão também podem causar incómodo a nível do sistema digestivo. Uma boa alternativa para as poder consumir é fazê-las à base de amêndoa.
Opte pelos pastéis de bacalhau, aproveite os pratos acompanhados de batata branca, arroz, massas, e hortaliças, e vingue-se na Mousse de Chocolate e nos Papos de Anjo.
Sofre de artrite reumatoide?
Então deve ter cuidado com os laticínios, porque podem inflamar as suas articulações. Logo, o bacalhau com natas, gratinado, ou espiritual vai ser um problema. O mesmo se aplica aos pudins em geral, que contêm leite.
A proteína bovina também pode ser prejudicial. Por isso, é melhor evitar a picanha e o rosbife, mas fique à vontade com o bacalhau assado, à lagareiro, ou com todos. O polvo, o cabrito, o coelho e o peru também estão convidados para a mesa. E as trouxas-de-ovos podem perfeitamente juntar-se à festa.
Tem alguma doença autoimune?
Os doentes celíacos sabem perfeitamente que devem evitar o glúten presente nos típicos doces de Natal. Sejam tartes, sonhos, filhoses, coscorões, broas, rabanadas, fatias douradas, bolo-rei ou rainha, pão de rala, fios de ovos, folhadose vol-au-vent, azevias, pataniscas, pão ralado... a lista é longa, com tudo que tiver farinha.
Na verdade, as restantes doenças autoimunes também podem beneficiar da exclusão do glúten. Assim, o arroz de pato, o bacalhau à brás ou à Zé do Pipo, o peru ou borrego assados são receitas pacíficas.
À hora da sobremesa, um arroz doce ou torta de laranja são normalmente escolhas mais seguras.
Procure temperar com ervas aromáticas como o tomilho, alecrim, e orégãos, em vez das pimentas, pimentão, e piri piri ou malagueta.
Está com peso a mais? Tem pavor de engordar?
Vamos ser realistas: não vai ser no Natal e Ano Novo que vai conseguir perder peso, e a sua família e amigos vão ficar tristes se não partilhar da sua felicidade gastronómica. Aprecie as festas com os entes queridos, mas lembre-se: são só duas refeições (Natal e Ano Novo), nem mais, nem menos. Em todas as restantes, deve seguir o plano do seu nutricionista! Além disso, evite as sobras de doces fazendo apenas metade da receita. Já sabe que, se fizer três sobremesas diferentes para cada refeição, vão sobrar restos para a semana inteira...
Estes são alguns exemplos de como contornar eventuais problemas de saúde, para manter o espírito natalício. Afinal, conforme realça Vasco Névoa, «não existe uma alimentação única que seja saudável para todos. Cada pessoa, cada situação, cada histórico exigem uma adaptação individual para descobrir os alimentos que lhe são mais compatíveis».
No mesmo apontamento, o nutricionista resume o Relatório de Nutrição Global, que analisou 194 países e cujos resultados são, em seu entender, «preocupantes»:
- As mortes evitáveis relacionadas com dietas pouco saudáveis já são responsáveis por um quarto de todas as mortes de adultos, tendo aumentado 15% desde 2010;
- 40% dos homens e mulheres (2,2 mil milhões de pessoas) estão com sobrepeso ou são obesos;
- Quase metade da população mundial sofre de má nutrição, com consequências nocivas para a saúde, mas também para o planeta;
- As pessoas não estão a consumir as quantidades recomendadas de alimentos que promovem a saúde, como frutas e vegetais;
- Ao ritmo atual, não alcançaremos as metas globais de nutrição estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde para 2025. Ou seja, não estamos no caminho certo para cumprir as metas nas doenças não transmissíveis associadas à dieta: ingestão de sal, aumento da pressão arterial, obesidade em adultos e diabetes.