Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro (CMF), marcou presença ontem na sessão de abertura da H2O & Sustainability Summit 2023, na Universidade do Algarve.
Na sua intervenção, o autarca enfatizou que é cada vez mais necessário «conjugar a água proveniente de origens naturais ou convencionais, com a água proveniente de produção "não convencional”, de modo a melhorar a gestão deste recurso vital à vida».
Lembrou a situação de seca extrema que se vive no sotavento algarvio e em grande parte do barlavento, cujo restante território está em seca severa. Perante este cenário, Rogério Bacalhau apelou a que se apliquem «medidas estruturais, que envolvam o Estado e a região», mas sem «morosidade ou dúvidas». O edil recordou as estratégias que estão em cima da mesa, nomeadamente a barragem da Foupana, a “Tomada do Pomarão” e a central de dessalinização, mas cuja implementação tarda e ainda gera indecisões.
O edil explicou que o país se rege, nas questões relativas à água, por dois vetores: a eficácia e eficiência, «ou seja, tudo o que diz respeito à gestão e controle da água; e a fé de que choverá e que, chovendo, se resolvem todos os nossos problemas», concluindo que «as alterações climáticas existem e não vão terminar; pelo contrário: acentuar-se-ão, pelo que se torna obrigatório encontrar as soluções que melhor poderão colmatar as dificuldades que vamos atravessar».
José Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) referindo-se aos níveis baixos das barragens, mencionou, igualmente, os aumentos dos consumos em 2023 (superiores a 2022 e 2019), potenciados também pelo aumento da temperatura. Considerou que a resposta a estas situações passa pela eficiência, pela poupança, por medir mais (pois só se consegue gerir o que é medido) e por «trazer mais água para o sistema», interligando «mais barragens» e olhando «para as ETAR's como uma oportunidade». Neste sentido, apontou o Algarve como a região que «vai à frente no país», já que é a que mais reutiliza estas águas, nomeadamente nos campos de golfe. A aposta na tecnologia é outra das soluções, tendo José Pimenta Machado dito que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prevê uma verba de “240 milhões de euros para investir na água, no Algarve.
Já António Pina, presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), considera que o país reagiu tarde, no entanto, «reagimos bem, mas o que temos não é suficiente», considerando que os «240 milhões de euros são pouco». Abordando a questão da dessalinização, voltou a considerar que se começou tarde o processo (pela mão dos autarcas algarvios, em 2019) e que é preciso «antecipar os próximos 20 anos», reafirmando que «a água que cai no Norte tem de chegar ao Sul». Argumentou que o Algarve, «vai passar muito mal; vamos ter de tomar medidas e não sabemos até que ponto o turismo não será penalizado. Imaginem se faltar água em agosto? Ou se só houver numa parte do dia?» E, continuou: «não podemos esquecer a agricultura».
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Alg), José Apolinário, enquanto entidade responsável pelo planeamento e coordenação de fundos europeus na região, informou que «até 2029 temos de executar 340 milhões de euros no tema de políticas públicas da água (verbas provenientes do PRR e do PT2030)», com o trabalho a desenvolver-se junto das empresas, para «introduzir mais economia circular aplicada à água, seja na agricultura, na indústria, no turismo» salientando que já há «bons exemplos no Algarve».