O desapego não é ausência de sentimentos e vínculos com outras pessoas, mas sim, viver numa postura de responsabilidade pessoal.
O desapego nada tem a ver com egoísmo ou frieza, com o descarte fácil ou a substituição de uma pessoa por outra. Trata-se de desenvolver a habilidade de analisar as situações de forma consciente, realista, madura e responsável e de assumir a nossa posição perante as situações em que participamos. Com esta postura, concentramo-nos no que somos, temos e defendemos e colocamos para um segundo plano aquilo que os outros pensam a nosso respeito, as escolhas que fazem, os comportamentos que desenvolvem e daí por diante.
Viver de uma forma desapegada é, na posição de muitos autores, «a única forma que nos conduz à felicidade», seja porque desfrutamos mais da vida, das nossas qualidades e capacidades, seja porque não vivemos a realidade dos outros e ainda menos o que pensam a nosso respeito, pois cada um é livre de pensar, de opinar e de fazer de um modo diferente e, nós também o somos.
Quer queiramos quer não, preocupar-nos com o que os outros pensam a nosso respeito impede-nos de seguir em frente, de vivermos em liberdade, de conhecer-nos, mas também de respeitarmos aqueles que connosco convivem, pois estamos sempre em alerta e numa posição defensiva.
Com uma postura responsável, analisamos as situações, aceitamos que a vida tem momentos mais ou menos positivos e que, cabe a cada um de nós a liberdade para pensar sobre as soluções para os problemas que enfrentamos dentro e fora de nós.
O desapego permite-nos ver as situações com um grau de distanciamento que facilita a interpretação e o encontro da resolução, ajuda-nos a crescer emocional e espiritualmente, a dar e a receber liberdade, a permitir que os outros sejam como são porque também nos damos ao direito de assumir a nossa posição.
Segundo a psicóloga Ana Rita de Macedo Moura, “Desapego significa saber amar, apreciar e envolver –se nos relacionamentos com uma visão mais equilibrada e saudável, libertando-se dos excessos que o prendem”.
Os entendidos em desenvolvimento pessoal definem estas como as quatro leis do desapego que nos libertam emocionalmente e que nos permitem ser felizes porque, somos mais conscientes, tomamos as nossas decisões e não dependemos da opinião dos demais, mas sabemos ouvir os outros e acolher o que dizem. Respeitamo-los e damo-nos também ao respeito porque não dependemos.
1 – Responsabilidade pessoal
Cada um de nós é autor da sua própria história. Partilha com os outros, dá e recebe amor, compreensão e carinho, mas tem de confrontar-se com os seus dramas, as suas dores, desfrutar das suas alegrias e daí por diante. Somos responsáveis por nós próprios e isso tem de ser assumido para que possamos ser felizes e livres.
«Os outros não são responsáveis pela sua felicidade, simplesmente ajudam-no a ser mais feliz, alimentam a alegria que existe dentro de si, por isso, nunca deixe que a sua felicidade dependa da opinião alheia. Encontre-a dentro de si», sublinham os especialistas.
2 – Viva o agora
Aceitar e assumir a sua realidade neste momento é a base para que consiga desfrutar de bons momentos e de paz interior. Não se preocupe com o que já passou ou com o que pode ou não acontecer. Concentre-se no agora. Faça planos, analise o que já lhe aconteceu, mas o leitor está aqui no agora, não noutro tempo ou lugar imaginário.
Mesmo que seja doloroso, aceite, assuma o passado e aprenda a perdoar para que possa sentir-se mais livre e capaz de sentir e de concentrar-se no agora.
3 – Dê liberdade em troca dela
Ser livre não nos impede de criar vínculos com os outros. Criar vínculos, amar e ser amado, fazem parte do nosso crescimento pessoal. Contudo, o leitor deve assumir a sua responsabilidade pessoal e não entregar a sua vida em mãos alheias e, ainda menos, responsabilizar-se pelas escolhas dos outros. Cada um tem de ser responsável pelos seus atos e livre para tomar as suas decisões.
A necessidade de desapegar-se é fundamental: cada pessoa deve sair dos seus limites de segurança para enfrentar o imprevisto e o desconhecido.
4 – Nada é eterno
Por muito que não queiramos, nada é para sempre, pelo que vamos ter de aceitar as perdas e as mudanças como uma parte fundamental da vida e aprender a lidar com elas da melhor forma possível. Não é pelo facto de não querermos que, as perdas vão deixar de acontecer por isso, liberte-se desses medos, aproveite o agora e, quando a perda surgir, concentre-se em si, no agora e procure a melhor forma de minimizar o sofrimento. Até lá, aproveite o agora com serenidade, responsabilidade e em liberdade. Sinta-se em pleno nas mais variadas situações, encontre o prazer de estar consigo mesmo e com aqueles que ama, no agora.
Aceite que os filhos crescem, que mudam, admita que você também passa por alterações, que os objetos perdem o valor, que há pessoas, locais e momentos que perderam o sentido para si, assumindo que agora tem outros motivos para sorrir, mas não perca o seu agora, pois é isso que realmente interessa e onde pode sentir-se verdadeiramente em paz.
Na sua obra “O Poder do Agora”, Eckhart Tolle aprofunda a dimensão do desapego na perspetiva de uma melhoria da qualidade de vida. O autor discorre sobre a importância de vivermos o agora como um meio para nos desapegarmos dos excessos que nos rodeiam, constituindo uma fonte de libertação e de encontro connosco próprios, o que nos conduz à paz interior, a uma vida com menos ansiedade e mais capacidade para aproveitarmos cada momento, identificarmos os sentimentos e as emoções, ao mesmo tempo em que nos tornamos livres para fazermos as nossas escolhas.