Para implementar o projeto, - o primeiro no ensino público em Portugal -, foi celebrado um protocolo de cooperação entre a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) e o Município de Loulé.
“Os meninos vestem de azul e as meninas de cor-de-rosa… Os meninos brincam com carrinhos e as meninas com bonecas…”. É este tipo de estereótipos sociais, “muitas vezes reproduzidos, alimentados e reforçados por práticas educativas frequentemente inconscientes, que se alicerçam na ideia de mundos separados para meninos e meninas”, que o projeto pretende também eliminar, como explicou Isabel Cruz, representante da CIG na cerimónia que decorreu em Loulé.
Esta iniciativa é “uma missão de toda a escola” e, nessa medida, visa o envolvimento de toda a comunidade escolar (docentes, pessoal não docente, professores e professoras das AECs, encarregados e encarregadas de educação e famílias), sendo os alunos e as alunas do pré-escolar e 1º ciclo as crianças destinatárias finais.
Integrado no Plano Municipal para a Igualdade e Não-Discriminação, “A Escolinha em viagem para a Igualdade” deverá constituir-se numa “dimensão permanente e transversal” nos diversos domínios da educação formal e não formal, proporcionada pela e na Escola EB1/JI Professor Manuel Alves, e na cultura organizacional daquele estabelecimento de ensino.
O projeto passa ainda pela “criação de ambientes educativos igualitários”, nas salas de aula e em todos os espaços da escola, tornando a linguagem formal e informal verdadeiramente igualitária.
Parte do pressuposto de que a cidadania “não se aprende apenas por processos retóricos, mas por processos vivenciais”, notou Isabel Cruz. De acordo com esta responsável da CIG, a Educação constitui uma “área estratégica para a igualdade de género”. “É um trabalho de enorme importância que agora se inicia e que irá certamente causar transformações visíveis nos comportamentos e atitudes de todas as pessoas que começam esta aventura”, adiantou.
Apesar dos progressos, “em nenhum país do mundo essa igualdade foi plenamente alcançada; serão as crianças e jovens de hoje que terão de consolidar as conquistas que receberam e continuar a alargar este espaço de partilha de direitos e de iguais oportunidades”, destacou ainda a representante da Comissão.
Este projeto aprofunda a parceria que, desde 2020, se estabeleceu entre a CIG e a Autarquia de Loulé, tendo em vista o desenvolvimento da igualdade de género no território deste município. Conselheira externa local para a igualdade, Helena Silva Gomes, falou desse caminho que está na génese deste projeto e que remonta a agosto desse ano, altura em que a Autarquia de Loulé e a CIG celebraram um protocolo para a igualdade e a não-discriminação. Foi então criada uma equipa local para trabalhar esta matéria, nomeadamente a elaboração de um Plano Municipal, que viria a ser aprovado em 2023.
“Pensámos que, para promover a igualdade de género de uma forma consistente, era necessário intervir na área da educação e o mais precocemente possível, ou seja, fazer alguma coisa ao nível do pré-escolar, tornar as crianças desde pequenas respeitadoras da igualdade de género”, explicou a conselheira.
Foi no Agrupamento de Escolas Padre João Coelho Cabanita que encontraram o maior interesse e relevância dada ao tema, bem como maior abertura em receber formação, daí a escolha da Escola Manuel Alves que inclui “um número significativo do pré-escolar e de alunos do 1º ciclo”.
O projeto terá a duração de 3 anos e, entretanto, outras escolas poderão vir a ser abrangidas faseadamente. Contará com o acompanhamento técnico da CIG e supervisão da Universidade do Algarve.
Frederico Escada, diretor do Agrupamento, agradeceu a escolha desta escola. “A minha expectativa é que esta seja uma viagem transformadora para alunos, para as suas famílias, e para os profissionais de educação envolvidos. Esperamos que todos eles possam disseminar essas mudanças junto dos seus pares”, frisou.
Já o autarca Vítor Aleixo mostrou-se satisfeito pelo facto do Município de Loulé, com o seu “ecossistema para a igualdade”, ser o anfitrião e o território que irá testar esta experiência-piloto que visa “desnaturalizar a desigualdade com que Homens e Mulheres se relacionam na sociedade contemporânea”.
“Temos um alinhamento dos astros propício a que esta experiência possa dar os seus frutos.”, reiterou o edil, que disse ainda que “uma sociedade capaz de desenvolver o seu potencial enorme é uma sociedade que obrigatoriamente tem que tratar em pé de igualdade homens e mulheres”.