A adoção de um coral para ajudar a financiar a sua investigação na costa portuguesa é o objetivo do programa Plant a Coral, criado por uma equipa do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), disse à Lusa o coordenador.
Segundo o investigador Márcio Coelho, coordenador do projeto que cofundou em 2021, no final de um programa de investigação do CCMAR, da Universidade do Algarve, dedicado aos corais, os espécimes capturados acidentalmente nas redes de pesca são recolhidos e podem depois ser adotados.
“O objetivo do programa assenta em dois pilares, um de literacia sobre os oceanos, neste caso sobre ‘habitats’ formados por corais em Portugal, que procura melhorar a perceção do público sobre a existência, função e importância destes ‘habitats’ e, no fundo, também divulgar um pouco a investigação que temos vindo a fazer no CCMAR”, afirmou.
Márcio Coelho adiantou que outra componente passa pela colaboração com pescadores locais “no resgate de organismos, para fazer investigação em várias frentes”, como o restauro de ‘habitats’, resgatando os corais que são capturados acidentalmente e transportando-os de volta ao ambiente marinho.
Até agora, o trabalho efetuado pelo CCMAR para aumentar o conhecimento científico sobre os corais existentes na costa portuguesa tem incidido sobretudo nas zonas de Sagres e Albufeira, mas há “o intuito de o expandir” para outras regiões, como a de Cascais, exemplificou, sublinhando que os corais não existem apenas em águas cálidas, como se costuma pensar.
“É uma perceção errada e é uma perceção que nós estamos a tentar mudar, criando essa consciência de que ‘habitats’ de corais existem por todo o mundo. A maior parte das espécies de corais não são tropicais, são de águas frias, águas temperadas, são de profundidade”, esclareceu.
Arrábida, Cabo Espichel e Sines são também zonas onde existem corais, que beneficiam de zonas rochosas e “têm um papel igual ao das plantas no ambiente terrestre”, ajudando à captura de carbono e formando “autênticas florestas marinhas” que favorecem a “colonização de muitos outros organismos”, destacou.
Márcio Coelho precisou que “muitas espécies exploradas comercialmente vivem associadas a estes ‘habitats’”, para alimentação ou para proteção na fase juvenil, mas os recifes ou jardins de corais têm também uma “função de regulação”.
Essa função existe porque são “organismos que estão a filtrar a coluna de água, alimentar-se de plâncton e, portanto, participam ativamente em vários dos ciclos de carbono de azoto”, esclareceu.
O trabalho efetuado pela equipa do CCMAR com os corais tem tentado, através da colaboração com os pescadores na recuperação de espécimes capturados, “mapear a diversidade” e “identificar ‘hotspots’ [pontos quentes, em inglês] de diversidade que possam vir a ser considerados para estatuto de proteção”, destacou.
Por outro lado, os investigadores trabalham para caracterizar a diversidade genética, fazem estudos de tolerância térmica e de biologia reprodutiva, passo que é importante para o restauro de ‘habitats’ e para o qual precisam de financiamento, tendo criado o programa de adoção de corais Plant a Coral.
“O objetivo é tentar resgatar o máximo de corais possíveis com a colaboração dos pescadores e oferecê-los para adoção. Portanto, as pessoas podem adotar os corais que nós resgatamos e transplantamos e esse dinheiro é depois utilizado para financiar projetos”, realçou Márcio Coelho, sublinhando a importância do mecenato no financiamento de projetos.
Lusa