Embora todos nós, de alguma forma o façamos, é importante conhecer as causas e evitar os excessos, sob pena de sofrermos consequências negativas e comprometedoras do nosso bem-estar físico e mental. Habituamo-nos desde cedo a fugir de nós próprios para evitar o confronto com aquilo que nos magoa.
«Se não sabemos quem somos e até onde chegamos, se não sabemos impor limites, questionar os outros ou reconhecer as nossas próprias necessidades e desejos, é provável que caiamos em relacionamentos dependentes, abusivos e nocivos», alertam os especialistas.
Segundo a ciência, a fuga de nós próprios é uma armadilha inconsciente que, não sendo a ideal, acaba por anestesiar-nos a dor em alguns momentos de vida. Queremos fugir da memória de uma infância dolorosa, de uma adolescência difícil, de uma separação complicada, de marcas de abandono, de solidão, de registos de maus-tratos, desprezo, entre outros e, recorremos à confluência que mais não é que uma aprendizagem adquirida quando não nos foi permitido sermos nós mesmos com os nossos desejos, vontades, sentimentos ou opiniões.
Silenciamos o que pensamos e sentimos pelo medo da rejeição, da reprovação, da crítica, do medo de perder os pais, porque fomos chantageados, porque sentíamos que iriam tratar-nos mal se mostrássemos quem realmente somos e acabamos por “sobreviver” ao invés de viver. Tal traduz-se num desligamento de nós próprios e, consequentemente à aquisição de um comportamento mais direcionado para o que os outros esperam de nós como forma de mantermos a relação de proximidade. No fundo, sabemos que, se nos mostrarmos tal como somos, seremos rejeitados, logo, escondemos a nossa verdadeira essência e limitamo-nos a ser e a fazer somente o que os outros esperam de nós, explicam os cientistas.
O problema é que, quando nos afastamos de nós mesmos, acabamos por sentir um enorme vazio que nos leva a ter mesmo de procurar os demais para que evitemos a solidão e o desconforto e podemos passar assim a nossa vida: sempre à procura de alguém que nunca nos consegue preencher porque esse equilíbrio psicológico só se encontra dentro de nós mesmos.
Habituamo-nos de tal modo a recorrer a mecanismos de fuga e a evitar o confronto com a nossa realidade que podemos nunca chegar a conhecer-nos e a viver só para quem nos rodeia, alertam os entendidos ilustrando que, é por isso que temos tantos casos de pessoas submissas, obedientes, dependentes e controladas pelos demais. É porque nunca tomaram consciência de si mesmas, porque nunca se afirmaram e acreditaram que só existe esse modo de vida, «mas nada está mais errado e, essas pessoas precisam de ajuda».
Na confluência, a pessoa não estabelece limites entre si e os outros e acaba por só corresponder ao que esperam dela, chegando ao ponto de não saber quem é. No entanto, é fundamental que cada pessoa saiba aquilo de que necessita, quem pode ajudar-nos e as pessoas de quem nos devemos manter próximas, de quem temos de nos afastar e as razões para essa opção. Quando tal não acontece, ultrapassa as diferentes etapas de vida e prolonga-se até à idade adulta, acaba por ser muito limitante e prejudicial para a pessoa e para os relacionamentos que estabelece, sublinham os especialistas.
Eis alguns exemplos de confluência:
• Aceitamos, sem questionar, as opiniões ou propostas do nosso parceiro sobre o relacionamento.
• Em grupo, não somos capazes de dar a nossa opinião sobre um assunto até vermos o que os outros pensam, porque tememos a rejeição e a crítica.
• Somos capazes de imitar os comportamentos dos outros só para que nos sintamos aceites. É comum consumos excessivos de álcool, comida, drogas , gastar dinheiro que não temos só para impressionar os demais, ir a locais de que não gostamos e daí por diante, só para corresponder ao grupo e ao que esperam de nós.
• No dia a dia, pedimos opinião para tudo, arriscamos pouco e até deixamos que os outros decidam o que vestimos, o penteado, a roupa, o que dizemos, acabando por nunca expressar a nossa opinião, desejos e vontades.
• Envolvemo-nos tanto nos problemas e nas emoções dos outros que nos esquecemos de nós mesmos e acreditamos ser empáticos, mas no fundo, estamos a fugir de nós próprios e a querer sentir a vida e as emoções dos outros.
Em vez de reprimir o que sentimos, devemos começar a questionar-nos em todas as situações. Temos que questionar as opiniões dos outros antes de assumi-las como nossas. Em suma, trata-se de começar a prestar atenção a nós mesmos, a recuperar essa identidade e esses limites que perdemos por medo de sermos rejeitados.
É absolutamente necessário que o façamos, sob pena de passarmos pelo mundo sem sabermos quem somos, sem libertarmos as emoções e sem momentos verdadeiros de felicidade, por isso, não hesite em pedir ajuda o mais rapidamente possível. O psicólogo é o profissional mais habilitado para orientá-lo sendo que, os resultados vão ser o produto do seu empenho e amor próprios.