Dicas

Porque dependemos (tanto) da opinião dos outros?

Porque dependemos (tanto) da opinião dos outros?
Porque dependemos (tanto) da opinião dos outros?  
Foto Freepik
O problema começa quando deixamos de ser nós próprios e passamos a depender da opinião dos outros.

A necessidade de sermos aceites, reconhecidos, de evoluirmos e de integrarmos um grupo persegue-nos ao longo da história.
 
Na posição dos especialistas em comportamento humano, é importante que saibamos ouvir os demais, aprender com eles, mas «que consigamos encontrar dentro de nós as razões para fazermos as nossas escolhas, pois é só assim que podemos valorizar as conquistas, idealizar sonhos e concretizações com a desejada alegria».
 
O medo de dececionar os outros e de ser colocado de parte, pode levar-nos a seguir um caminho oposto às nossas reais necessidades  e dar lugar a uma vida sem sentido. São muitos os relatos de pessoas insatisfeitas com o seu percurso, «porque ouviram os conselhos dos outros, não atenderam às suas prioridades e interesses e acabam por fazer um balanço negativo da sua existência». Tal acontece com muito mais frequência do que se pensa e tem uma razão de ser:
 
- a culpa, a vergonha e o medo.
 
A culpa experimenta-se inicialmente na família, em que acabamos por direcionar a nossa vida para um sentido oposto ao que queríamos para não dececionar os nossos pais que, em muitos casos, esperam algo específico para nós, mas que não incluem os nossos desejos, habilidades, gostos e características.
 
Há pessoas que relatam sentir muita culpa pelo parceiro que escolheram, pela profissão que não era a desejada pelos pais, pelo estilo de vida e hobbies, porque se afastam da vontade dos pais. Em muitos casos, acabam por decidir em função do gosto e da vontade desses adultos porque não suportam a culpa em contrariarem os progenitores.
 
Também há quem assuma as suas decisões, tente explicar as suas opções aos pais e liberte-se, sendo que, na posição dos especialistas, «esta é a escolha mais acertada, ainda que difícil em muitos casos».
 
Há ainda quem tenha de mudar de país, por exemplo, para poder viver “em liberdade” e de acordo com as suas escolhas, o que «efetivamente não tem de ser a solução, pois todos devemos sentir-nos livres para tomar as nossas decisões e, quando os pais não as aceitam, teremos mesmo de “desobedecer-lhes, porque eles não sabem o que é melhor para nós», realçam alguns psicólogos.
 
Tal como a culpa, a vergonha é uma das emoções autoconscientes porque o seu propósito é permitir-nos desenvolver um sentido de identidade e de vida em sociedade levando em conta as reações dos outros em relação a nós. O problema surge quando, longe de cumprir essa finalidade sob o nosso controle, elas acabam por ser “as orientadoras das nossas vidas”. É comum a sensação de que, se falharmos, os outros vão deixar de gostar de nós, se não correspondermos ao que desejam, rejeitam-nos, se não lhes seguirmos o exemplo, criticam-nos e desvalorizam-nos.
 
Finalmente, o medo de dececionar os pais, muitas vezes esconde um temor latente de abandono. Este nasce na infância, quando somos totalmente dependentes dos adultos e assumimos que temos que agradá-los para não nos retirarem o seu afeto e partirem, porque a nossa sobrevivência depende disso.
 
Muitos adultos continuam a ter essa crença irracional; sentem um medo muito intenso de não alcançarem o horizonte que os outros traçaram para eles, sejam familiares, amigos, parceiros ou colegas de trabalho. Dizer “não” implica correr o risco de incomodar o outro, e isso é intolerável. Para que não se sintam abandonados pelos outros, acabam por deixar cair os seus sonhos, desejos e características; abandonam-se a si mesmos.
 
Registe que, ao vivermos em sociedade, a gestão das relações é essencial para manter o nosso círculo de apoio povoado. No entanto, podemos  reeducar-nos para superar o medo e mostrar aos que nos rodeiam que também temos voz e que, ser diferente é um direito de todos.
 
É fundamental ter em conta que, as relações só são positivas quando permitem que sejamos livres, que tenhamos a nossa opinião, que sejamos respeitados e que igualmente saibamos transmitir essa base aos demais. Para chegar aqui, é imperioso que tenhamos uma boa dose de responsabilidade para assumirmos as escolhas, mas também as obrigações, que sejamos conscientes de nós próprios e que saibamos colocar limites nas nossas ações pessoais e sociais.
 
Todos precisamos de conviver com pessoas, necessitamos de afeto, carinho e compreensão, de saber conversar, ouvir, dar e receber, mas é profundamente essencial que saibamos valorizar-nos e manter a nossa identidade, pelo que, devemos optar por relações que nos ofereçam uma boa margem de liberdade para tomarmos as nossas decisões e que saibamos fazer o mesmo.
 
Por fim anote que, é muito mais prejudicial viver em função da opinião e desejos dos outros do que ter de escolher as pessoas com quem se sente bem e com quem vale a pena conviver, pois, «quando os outros nos abandonam, a dor é grande mas tolerável, quando nos abandonamos a nós próprios, essa dor torna-se insuportável», Augusto Cury.