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Porque nos tornamos mais introvertidos com a idade?

À medida em que amadurecemos, somos muito mais seletivos com as pessoas, razão pela qual também não é tão fácil construir amizades.
À medida em que amadurecemos, somos muito mais seletivos com as pessoas, razão pela qual também não é tão fácil construir amizades.  
Foto: Freepik
Segundo a ciência, com o passar dos anos, há uma tendência (natural) para nos tornarmos mais introspetivos, cautelosos, reservados e à procura de mais momentos de solidão.

A psicóloga Susan Cain, revela que, à medida em que amadurecemos e os anos passam, tornamo-nos mais introspetivos, fenómeno que se designa por “maturação intrínseca”.
 
Por trás das explicações para esta realidade, está o facto de sentirmos uma maior necessidade de estarmos connosco próprios e com menos disponibilidade para participar em tantos momentos sociais que nos exigem mais energia, partilha, empenho e até, em muitos casos, esforço. Com a idade, precisamos de mais tranquilidade, reflexão, ponderação porque o ritmo é menor e, quando estamos bem connosco próprios, sentimo-nos bem com aqueles que amamos e, acima de tudo, com a nossa companhia, afirma a mesma psicóloga, sublinhando que, a partir da meia idade, começamos a diminuir a impulsividade e até a curiosidade em saber mais sobre os outros.
 
Existe então um contraste entre os jovens e os mais velhos. Enquanto que os primeiros estão à descoberta do mundo, das pessoas e à procura de melhores oportunidades seja de emprego, de amizades e de acasalamento, os mais velhos, à partida, já têm um percurso estável e delineado, estão com quem amam, sentem-se satisfeitos e felizes, logo não sentem tanta necessidade de se projetarem no exterior e de procurarem tantos estímulos nos outros. Gostam de estar consigo mesmos, de pensar acerca do que já viveram e do que ainda podem viver, refletem acerca dos erros e querem corrigi-los, gostam de apreciar a vida, mas de dentro para fora, completa Susan Cain.
 
À medida em que amadurecemos, somos muito mais seletivos com as pessoas, razão pela qual também não é tão fácil construir amizades, somos muito mais exigentes, o que naturalmente nos orienta as escolhas e, apesar de nos tornarmos mais calmos, temos menos paciência para conversas sem conteúdo e sem que possamos partilhar aquilo que sabemos e que construímos ao longo do nosso percurso.
 
O National Institute on Aging, de Baltimore, evidencia que, a psicologia define como amadurecimento intrínseco as habilidades que se conquistam com a idade como sendo, bondade, consciência, equilíbrio e introspeção e que, esse processo faz parte da evolução do próprio ser humano.
 
A ciência já nos mostrou que podemos mudar, que certos elementos da nossa personalidade podem dar lugar a novos e assim evoluir. É verdade que nem todos o fazem, ou seja, nem todos atingem essa maturidade intrínseca, permanecendo nessa fase imatura e muitas vezes disfuncional.
 
De acordo com Susan Cain, tornamo-nos mais introspetivos com a idade porque também não precisamos de tantos estímulos exteriores para nos sentirmos bem e, ao mesmo tempo, queremos aproveitar o prazer de estar em casa, com quem amamos e a realizar aquelas tarefas para as quais nunca tivemos tempo ou disponibilidade. É comum que encontremos novos talentos e habilidades, novas formas de estar e de ocupar o tempo e, «isso é muito gratificante e positivo. Pode dizer-se que é o envelhecimento saudável», completa a mesma especialista.
 
“Se a tarefa da primeira metade da vida é  a exposição social, , a tarefa da segunda metade é entender onde estivemos, completa a psicóloga e autora de vários livros e artigos científicos.
 
É ainda de registar que, «a personalidade pode mudar, o temperamento não».
 
A maioria das pessoas torna-se mais introvertida com a idade, é verdade. Se já éramos, essas nuances apenas cristalizam-se, estabelecendo uma forma de ver o mundo, de direcionar a nossa energia, de nos relacionarmos e nos adaptarmos ao nosso meio. No caso de sermos extrovertidos, essa essência não muda, mas acrescentam-se aquelas nuances que, como novos ingredientes, irão enriquecer a nossa existência.
 
Isso porque, embora a nossa personalidade possa variar, o temperamento não. Lembremo-nos de que o temperamento é a nossa predisposição emocional congénita que orquestra o nosso humor e motivação. Portanto, o perfil extrovertido continuará a dar lugar a alguém muito sociável e muito habilidoso na sua interação com o meio. Ainda assim, acrescenta a mesma especialista, é natural que se note uma diminuição no interesse de conhecer novas pessoas, de estar em todos os momentos sociais, de conviver tanto e de nos mostrarmos aos outros, explica.
 
Contrariamente ao que se possa pensar, «esta forma mais reservada de ver a vida, é um ponto a favor da nossa saúde mental», sublinha a mesma psicóloga, evidenciando que, o facto de querermos estar com aqueles que amamos, com quem nos sentimos bem e até reservar mais tempo aos nossos pensamentos, é salutar e faz muito bem ao nosso equilíbrio em geral, conclui.