A Plataforma Água Sustentável (PAS) contestou hoje o reforço do abastecimento de água ao Algarve através da uma captação no Pomarão, considerando-a injustificável, seja qual for o ângulo pelo qual se analise.
“A PAS reafirma que fazer uma grande obra de engenharia, com enormes impactos ecossistémicos e sociais, para permitir o aumento a área da agricultura intensiva, poluente e gastadora do recurso escasso, que é a água, que todos os estudos apontam para que ainda o será mais no futuro, não é justificável”, refere a plataforma que agrega treze entidades.
O projeto que esteve em consulta pública até à passada semana prevê a captação de água superficial na zona estuarina do rio Guadiana, na proximidade da povoação de Mesquita, a montante do Pomarão, no concelho de Mértola (Alentejo), e a construção de uma conduta até à albufeira de Odeleite, no concelho de Castro Marim (Algarve).
Segundo a PAS, o Plano de Eficiência Hídrica do Algarve (PREHA) indica que a captação de água no Guadiana, a jusante de Alqueva, tem como objetivo criar condições para os novos regadios propostos que se situam no sistema Beliche-Odeleite.
A plataforma ambientalista considera que apresentar este projeto sem a prévia concordância de Espanha e da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), é uma “irresponsabilidade, quer pela perda de tempo, quer pelo desbaratar de oportunidades, quer ainda pelo desperdício de dinheiro público gasto no pagamento do ‘design’ do projeto”.
“Só após ter garantido que aqueles condicionantes, transfronteiriços e nacionais, seriam ultrapassados, o Estado português poderia ter avançado para a análise desta possibilidade e para o estudo do seu impacto ambiental”, afirma a plataforma no documento que enviou para o processo de consulta pública.
Segundo a PAS, o projeto vai “desperdiçar” um elevado investimento público para uma “solução” que depende de “chuva que é escassa, e de energia elétrica que é cada vez mais cara e impactante de produzir”.
A plataforma defende que o investimento seria melhor utilizado na restauração dos ecossistemas de forma a garantir as condições para o vapor de água atmosférico ser condensado na região das serras e cair na forma de chuva.
“Caso se mantenha este investimento, a primeira e única prioridade deve ser o abastecimento doméstico local e, sempre que necessário, o abastecimento doméstico à região do Algarve, excluindo assim, outros fins, nomeadamente a agricultura intensiva de regadio”, sublinha.
A PAS é uma plataforma que agrega treze associações, organizações não-governamentais e movimentos ambientalistas, principalmente do Algarve.
A captação de água no Pomarão é uma das medidas previstas no Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve, para o qual estão destinados 200 milhões de euros provenientes do PRR, além da futura estação de dessalinização, da produção de água para reutilização e da redução de perdas de água no setor urbano.
O Algarve está em situação de alerta devido à seca desde 05 de fevereiro, tendo o anterior Governo aprovado um conjunto de medidas de restrição ao consumo, nomeadamente a redução de 15% no setor urbano, incluindo o turismo, e de 25% na agricultura.
Lusa