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Pessoas que seduzem para ter o que querem

Foto - Depositphotos  
Mais comum do que possa parecer, há homens e mulheres que seduzem para obter o que pretendem nos mais variados contextos de vida.

O seu foco concentra-se numa enorme necessidade de chamar a atenção, pelo que usam de vários recursos para manipular os demais e para alcançarem o que desejam.
 
A ciência designa-o como um transtorno de personalidade histriónica e, de acordo com muitos trabalhos de investigação levados a cabo, pode ser mais comum nas mulheres, muito embora também tenham sido identificados casos no masculino.
 
Segundo os especialistas, estas pessoas apresentam um excesso de sensibilidade e emocionalidade, o que as leva a querer tudo no momento presente, à sua maneira e sentir que os outros lhes fazem todas as vontades.
 
Recorrem à sedução evidenciando as características físicas para chegar ao que pretendem, são manipuladoras, com um discurso apelativo, fazem-se de vítimas dramatizando as situações para chamar a atenção e não aceitam que outros tenham o que desejam e que não sejam elas o centro das atenções.
 
Estas cenas ocorrem em todos e quaisquer locais, sendo muito comuns na privacidade: com o cônjuge, com familiares, colegas de trabalho, grupos de pertença e outros contextos onde sintam essa necessidade infinita de “dar nas vistas”.
 
Trata-se de um transtorno de personalidade que prejudica muito o paciente, mas também as relações que estabelece com os demais, seja devido às artes de manipulação que usa, seja por causa dos muitos conflitos em que está sempre inserido, seja pelo afastamento de todos quantos se cansam de entrar no seu jogo de sedução e drama, explicam os entendidos.
 
Estas pessoas querem tanto ser o centro das atenções que acabam por sentir-se muito sozinhas e a precisar de ajuda, criando relações de extrema dependência. A sua fragilidade vai sendo percebida aos poucos e, quem está ao seu redor muitas vezes não sabe como agir, uma vez que, ao fazer-lhe as vontades, a pessoa vive uma explosão de alegria momentânea, ao negar-lhe, entra em depressão.
 
A ciência regista ainda que, este transtorno desenvolve-se em simultâneo com outros transtornos de personalidade: (antissocial, borderline, narcisista), sugerindo que «esses transtornos partilham uma vulnerabilidade biológica ou lançando dúvidas sobre se o transtorno de personalidade histriónico funciona em separado. Alguns pacientes também têm transtorno de sintoma somático, que pode ser a razão pela qual se apresentam para avaliação». Ao mesmo tempo, também é feita uma relação entre este transtorno e a depressão, completam.
 
Para identificar uma pessoa com transtorno de personalidade histriónica, certifique-se se a mesma costuma fazer dramas para conseguir o que pretende, se ameaça que vai desmaiar, que se vai sentir mal, se faz insinuações pouco adequadas à ocasião na tentativa de seduzir alguém, se apresenta comportamentos excessivamente entusiásticos ou se, pelo contrário, se mostra deprimida e triste até conseguir o que pretende. Anote que, é comum que estas pessoas se mostrem muito diferentes de um momento para o outro: se lhes fazemos as vontades, ficam muito contentes durante alguns instantes, se as contrariamos, entram numa escalada de tristeza e choro.
 
Também é comum que estes pacientes acreditem que estão a viver uma relação mais próxima do que aquela que na realidade estão, que se encantem por um desconhecido e que facilmente acreditem que vão iniciar um relacionamento, que mudem muito de parceiro, já que não conseguem levar as relações a sério e ainda menos prolongá-las no tempo porque se aborrecem com muita facilidade das pessoas, das situações e da falta de atenção resultante da rotina do quotidiano.
 
É como se tivessem de estar sempre apaixonadas para que não percam o entusiasmo, mas não levam o outro a sério e ainda menos a ideia de compromisso, explicam os psicólogos.
 
É comum que estes pacientes vistam roupas pouco adequadas às ocasiões só para chamar a atenção e que o façam em contextos também pouco apropriados de forma a saberem que todos “os olhares” vão na sua direção porque querem dar nas vistas e são conquistadores por natureza, pelo que não conseguem honrar a fidelidade num relacionamento, completam.
 
Gostam de usar da palavra também para envolver os outros e acabam por “dar nas vistas” por serem muito exagerados. Elogiam com tanta facilidade e leveza  que o outro desconfia, tal como mostram logo muita afetividade e interesse num primeiro encontro, o que não ajuda a que acreditem neles. Ao perceberem que não conseguem o que pretendem, facilmente desligam o interruptor e procuram um novo alvo para a sua sedução, explicam os entendidos nesta matéria.
 
São pessoas pouco claras e consistentes, pelo que geram muitos conflitos e lançam dúvidas sobre o que pensam e o que sentem, mas gostam de envolver-se nos mais variados temas, expressar a sua opinião até em assuntos complexos, para que possam chamar a atenção de vários públicos.
 
Tendem a confiar muito nos outros, basta que lhes inspirem algum tipo de interesse e, em figuras de autoridade, uma vez que sentem-se protegidas e acreditam que estão seguras, pois são pessoas muito frágeis e pouco confiantes, pelo que acreditam que os outros lhes podem resolver todos os problemas.
 
A satisfação imediata também é uma característica deste tipo de personalidade que valoriza o “aqui e agora” e que não tem tempo a perder, nem com muita conversa, muito menos com repreensões ou opiniões contrárias. Também é comum que manipulem os parceiros assumindo um papel de vítimas.
 
De acordo com o Clinical criteria (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition [DSM-5]), para se formalizar o diagnóstico do transtorno de personalidade histriónica, devem estar reunidos estes aspetos:
 
Padrão generalizado de emocionalidade excessiva e chamadas  de atenção
 
Este padrão caracteriza-se por ≥ 5 dos seguintes aspetos:
 
Desconforto quando não é o centro das atenções;
 
Interação com os outros que é inadequadamente sedutora ou sexualmente provocadora;
 
Mudança rápida e expressão superficial das emoções;
 
Uso consistente da aparência física para chamar a atenção;
 
Discurso extremamente impressionista e vago;
 
Autodramatização, teatralidade e expressão extravagante das emoções;
 
Sugestionabilidade (facilmente influenciados por outras pessoas ou situações);
 
Interpretação dos relacionamentos como mais íntimos do que são.
 
Além disso, os sintomas devem ter ocorrido no início da idade adulta.
 
Relativamente a tratamentos, os especialistas recomendam uma avaliação psiquiátrica e psicológica onde deverá ocorrer uma intervenção que assente na psicoterapia psicodinâmica,  que leve a pessoa a tentar elevar a autoestima, a conhecer-se melhor e a tentar depender menos da atenção dos outros, no entanto, é importante registar que se trata de um processo demorado e que, nem sempre surte os efeitos pretendidos dada a complexidade deste transtorno e a associação a outras comorbilidades, concluem os mesmos entendidos.