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Pessoas que não se reveem no seu género

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Há pessoas que convivem diariamente com a sensação de terem nascido no corpo errado, o que lhes provoca muito sofrimento.

Não se trata de uma patologia, mas é preciso ajudá-las a minimizar a dor e orientá-las para que sigam um caminho mais livre e feliz.
 
Segundo uma publicação do Saúde Mental.pt, o termo transgénero refere-se a uma pessoa cujo sexo atribuído ao nascimento não corresponde à sua identidade de género isto é, à sua autodeterminação como homem, mulher, como ambos ou ainda com nenhum género em particular.
 
Algumas pessoas transgénero podem apresentar disforia de género. Isto significa a presença de sofrimento, mal-estar e desconforto psicológico persistente que resulta da incongruência entre a identidade de género da pessoa e:
 
• o sexo atribuído ao nascimento
 
• as características sexuais primárias e secundárias(genitais, mamas, pelos, formato do corpo, voz)
 
• o papel de género socialmente expectável em relação a esse sexo.
 
De acordo com a mesma publicação, «não existe uma perturbação da identidade, uma vez que é a própria pessoa que se autodetermina, pelo que, a pessoa com disforia de género frequentemente sente:
 
• uma marcada diferença entre a perceção intrínseca da sua identidade de género e os seus caracteres sexuais primários e/ou secundários muitas vezes descrita como a sensação de “ter nascido no corpo errado”
 
• um forte desejo de se libertar das suas características sexuais primárias e/ou secundárias, ou um desejo de prevenir o surgimento de caracteres sexuais secundários, no caso de jovens adolescentes
 
• um forte desejo pelas características sexuais primárias e/ou secundárias do outro género
 
• um forte desejo de ser de outro género e/ou de ser tratado/a como tal, clarifica.
 
Neste sentido, a disforia de género pode prejudicar os mais variados aspetos da vida da pessoa, dificultando-lhe o dia a dia nas mais variadas áreas, uma vez que, pode recear sair de casa, ir à escola, frequentar espaços públicos onde podem estar outras pessoas, ir aso supermercado e, no caso dos adultos, trabalhar pelo medo de não estar em conformidade seja na aparência, na postura ou no modo de vestir com o género que lhe foi atribuído no ato do nascimento.
 
Ao mesmo tempo, também são conhecidos relatos de pessoas que sentem dificuldades em lidar com os outros pelo medo da rejeição, da crítica e dos juízos de valor.
 
As pessoas com disforia de género podem desenvolver problemas de saúde mental, como por exemplo depressão, ansiedade, ideias ou tentativas de suicídio. Também as perturbações alimentares e o consumo de substâncias psicoativas podem acontecer, explica o Saúde Mental.pt.
 
Os problemas de saúde mental são muitas vezes precipitados pelo estigma, pela discriminação, e pelas mensagens sociais negativas sobre a diversidade de género, completa.
 
É, por isso, fundamental promover o acesso aos cuidados de saúde a esta população, adotando uma abordagem transafirmativa. Este acesso pode muitas vezes ser dificultado não só pelo receio de estigma, mas também pela ausência de profissionais de saúde com experiência na área, alerta a mesma fonte.
 
A não conformidade de género ou variabilidade de género referem-se a situações em que a expressão de género, ou seja, qualquer forma de expressão através da qual a pessoa pode manifestar a sua presença de género – como vestuário, penteado ou caracteres sexuais secundários estereotipicamente classificados como masculinos ou femininos, difere dos papéis de género social e culturalmente definidos como sendo femininos ou masculinos.
 
É ainda importante esclarecer que, quanto mais soubermos acerca deste tema, mais preparados estaremos para respeitar as características de cada pessoa, por isso, é de sublinhar que, a comunidade científica afirma não existir fundamento patológico (psiquiátrico ou outro) para uma identidade de género não congruente com o sexo biológico. A não conformidade de género é uma situação que é, em última análise, precipitada pela manutenção do estigma criado por aquilo que é considerado a norma relativamente aos papéis atribuídos a cada género e, consequentemente, pela perpetuação do modelo binário (homem/mulher).
 
A Associação Mundial de Saúde Transgénero (WPATH, World Professional Association for Transgender Health) defende assim a despatologização, com o objetivo de reduzir o estigma, o preconceito, a violência e a criminalização tantas vezes associados a estas questões. Em 2017, a mesma associação emitiu uma declaração promovendo a livre expressão identitária e remoção das dificuldades e barreiras que impeçam o acesso ao reconhecimento legal de género.
 
As recentes atualizações em manuais de diagnóstico médico sugerem, no entanto, que os diagnósticos associados ao género devem ser mantidos de modo a garantir o acesso aos cuidados de saúde e a mais facilmente identificar as situações associadas a sofrimento.
 
São atualmente classificadas, na 11ª Edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como “Condições Relacionadas com a Saúde Sexual – Incongruência de Género”
 
O mal-estar e sofrimento característicos da disforia de género podem prejudicar profundamente a vida pessoal, social, profissional e familiar destas pessoas. A realização atempada de um diagnóstico pode permitir à pessoa o acesso aos cuidados de saúde necessários, respeitando os seus direitos e a sua liberdade de autodeterminação.
 
Contudo, a maior parte do percurso de autoafirmação de identidade de género não é clínico. É feito no dia-a-dia, por exemplo, na escolha de nome e pronomes preferidos, na expressão de género que mais se adequa à vivência interna da pessoa, na relação com os outros, no trabalho, na família.
 
Adianta a Saúde Mental. pt que, no contexto clínico, a abordagem à disforia de género é feita por uma equipa multidisciplinar, de forma a adequar os cuidados às necessidades da população, tendo por base as normas de orientação da Associação Mundial de Saúde Transgénero. A abordagem clínica autoafirmativa pode incluir psicoterapia, psicofarmacologia. terapia hormonal, cirurgias afirmativas de género e de redesignação sexual.
 
O percurso de cada pessoa é individual, de acordo com a sua autodeterminação e objetivos próprios.
 
A família em geral, e os pais em particular, têm um papel fundamental na aceitação da expressão de género da pessoa.
 
No caso da disforia de género se manifestar durante a infância, é importante saber que a tentativa de reverter ou punir comportamentos de género em não conformidade com as expetativas sociais e culturais apenas promove mais o sofrimento e disforia. A criança interioriza um sentimento de rejeição e de inadequação junto da família, comprometendo o desenvolvimento da sua identidade e integração na sociedade (maior risco de bullying) com elevado impacto negativo significativo na saúde mental (ansiedade, depressão, suicídio).
 
Os pais devem seguir as orientações dos profissionais e  participar no Encontro de Pais de Jovens Trans (ex. Rede Ex Aequo)
 
• Mostrar-se disponível
 
• Participar de forma não-impositiva.
 
O apoio da Comunidade é fundamental. Procurar informação nos locais certos e entrar em contacto com pessoas que passaram pelas mesmas experiências pode ser um primeiro passo importante para o alívio do sofrimento. A lista que temos a seguir é de uma série de organizações cujo trabalho é focado nos jovens LGBTQ e que reúnem informações úteis:
 
Associação ILGA Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo - www.ilga-portugal.pt
 
Rede Ex-Aequo – Associação de Jovens LGBTI e apoiantes - www.rea.pt
 
AMPLOS – Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual  - www.amplos.pt
 
Associação Opus Gay - www.opusgay.pt
 
Também a consulta de Sexologia Clínica representa uma importante porta de entrada dos doentes com disforia do género nos cuidados de saúde, permitindo o acesso posterior a outras especialidades médicas ou cirúrgicas que possam, eventualmente, fazer parte durante o acompanhamento do doente, conclui a mesma fonte.