Gabriel Albuquerque estreou-se em Jogos Olímpicos com o melhor resultado de sempre de Portugal nos trampolins, com o jovem ginasta a ser quinto após uma rotina ‘improvisada’ em pleno ‘voo’.
Aos 18 anos, o ‘caçula’ da Missão portuguesa não se deixou perturbar pela importância do momento e, depois de “sentir-se à rasca” no quarto salto da rotina da final, optou por agarrar-se “à série mais simples”, naqueles “milésimos de segundo” em que estava no ar, somando 59.740 pontos para superar o sexto lugar de Nuno Merino, em Atenas2004.
Nascido em Almada e ‘naturalizado’ algarvio, Albuquerque recebeu 18.000 pontos para a dificuldade, 15.500 para a execução, 17.240 para o tempo de voo e 9.000 para deslocamento horizontal.
Último ginasta a saltar na Arena Bercy, o português teve de esperar, ao som do bater de um coração, para ver confirmado o seu histórico resultado, ao qual o seu antecessor, Nuno Merino, assistiu ‘in loco’ – os dois abraçaram-se e Albuquerque atirou-lhe um “já foste”.
O bielorrusso Ivan Litvinovich (63.090), a competir sob bandeira neutra, revalidou o título olímpico, sendo seguido pelos chineses Wang Zisai (61.890) e Yan Langyu (60.950), prata e bronze, respetivamente.
A qualificação para a final do mais novo da Missão portuguesa ficou fechada ainda antes de todos os ginastas terem concluído a segunda rotina, quer pelo excelente nota que conseguiu no exercício inicial, como pelas erráticas prestações dos menos bem classificados no final da primeira ‘ronda’.
Antes de estrear-se em Paris2024, alguém gritou “Gabriel” das bancadas para o jovem luso, que não retirou os fones antes de iniciar a sua rotina, avaliada em 59.750 pontos (17.100 para a dificuldade, 15.900 para a execução, 17.450 para o tempo de voo e 9.300 para deslocamento horizontal).
Na estreia no maior dos ‘palcos’ desportivos mundiais, Albuquerque levantou-se antes do tempo, depois de conhecer a sua nota, e desculpou-se para as câmaras, aparentemente tranquilo com aquilo que acabava de ver.
A pontuação, que o deixou provisoriamente no quarto lugar, parecia deixar o português bem colocado para avançar para a final, um feito que se foi tornando cada vez mais real à medida que os ginastas foram completando a segunda rotina.
Foram vários os que erraram ou caíram, como Brock Batty, o primeiro a ‘aterrar’ fora do trampolim – o australiano foi, contudo, muito aplaudido pelo público que lotou as bancadas, tal como o espanhol David Vega que precisou de sentar-se antes de retomar o ‘voo’, não evitando uma queda logo a seguir.
Com as notas a demorarem mais do que as rotinas, o desfecho do apuramento foi, por vezes, um jogo de suspense, menos imprevisível à medida que todos iam saltando e os ginastas menos bem classificados (e mais pressionados) arriscavam e a falhavam, deixando a qualificação do português mais próxima.
Apenas o neozelandês Dylan Schmidt, bronze em Tóquio2020, conseguiu superar o ginasta da Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé (APAGL) na segunda rotina, ao somar 60.810 pontos.
Assim, foi já qualificado para a final que o quarto classificado dos Mundiais Birmingham2023 cumpriu a segunda ‘ronda’, na qual falhou a aterragem.
Embora as pontuações ‘limpassem’ na final, o ginasta da Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé (APAGL) pode orgulhar-se de ter avançado para a fase decisiva apenas atrás de Ivan Litvinovich (63.420), o bielorrusso a competir sob bandeira neutra e campeão olímpico em Tóquio2020, dos chineses Zisai Wang (62.230) e Yan Langyu (62.220), respetivamente prata e ouro nos últimos Mundiais, e de Schmidt.
Com o neozelandês a cair fora do trampolim, os horizontes do luso ampliaram-se: os chineses estavam na liderança e festejavam como se a medalha fosse certa, até Litvinovich cumprir irrepreensivelmente a sua rotina.
Enquanto o bielorrusso saltava, Albuquerque andava para trás e para a frente entre as filas de cadeiras onde os ginastas estavam sentados e, quando o agora bicampeão olímpico soube a sua nota e comemorou o ouro, ainda o português estava a entrar no trampolim.
Nem os festejos antecipados dos três medalhados perturbaram o português, que hoje deu uma lição de maturidade: perante a adversidade, corrigiu a sua rotina e foi quinto, atrás do britânico Zak Perzamanos (59.840).
Lusa