Ambiente

Olhão prepara-se para enfrentar as alterações climáticas

Ricardo Calé - Vice-presidente do Município de Olhão
Ricardo Calé - Vice-presidente do Município de Olhão  
Fotos - Algarve Primeiro
Transformar o concelho de Olhão, num território resiliente e neutro em carbono até 2050, é um dos objetivos do Plano Municipal de Ação Climática de Olhão, apresentado ontem pelo Município.

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A sessão foi conduzida por Sérgio Barroso do Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano - (CEDRU), empresa de consultoria técnica nos domínios do território, economia, sociedade e cultura.

De acordo com o estudo, até ao final do século, o clima em Olhão será mais quente e mais seco. As temperaturas médias nos meses de verão podem aumentar até 5ºC, tornando os dias de calor extremo mais frequentes com noites tropicais mais comuns.

Haverá mais seca, com menos chuva ao longo do ano, mas com episódios de precipitação intensa que poderão ocorrer em períodos curtos, aumentando o risco de inundações. Também o nível do mar poderá subir até meio metro, ameaçando as ilhas barreira e as zonas costeiras, aumentando a erosão das praias. 

Devido à extensão do número de dias de calor extremo, as áreas urbanas de Olhão e Quelfes serão as mais afetadas. A seca será mais intensa, comprometendo o abastecimento de água em Pechão e em Moncarapacho, onde os recursos hídricos estarão mais vulneráveis. Também a subida do nível do mar, colocará em risco a Fuzeta e a ilha da Armona com inundações nas zonas baixas da cidade de Olhão, e cheias na ribeira de Bela Mandil. 

Ilha da Armona

Uma meta essencial que o estudo aponta para combater as alterações climáticas, passa pela redução das emissões de carbono. Em 2022, o município emitiu cerca de 232,4 GWh devido ao consumo de produtos petrolíferos, principalmente pelo setor dos transportes que foi responsável por 61% do total de emissões. Já o consumo de eletricidade foi de 127,4 GWh, com destaque para o setor doméstico. Como soluções para estes dois segmentos, é recomendada a aposta na mobilidade elétrica, nas bicicletas, nas deslocações a pé e mais transportes públicos, também a transição para edifícios energeticamente eficientes e o uso de energias renováveis, já que, Olhão, tem grande potencial para a energia solar e eólica, sendo necessário ampliar a sua produção, começando pelos edifícios públicos. Outra forma de capturar carbono, passa por preservar a Ria Formosa, as áreas florestais e aumentar os espaços verdes. 

O Plano Municipal de Ação Climática de Olhão, prevê a sua execução até 2050, com metas intermédias para 2030, 2035, 2040 e 2045

Estão previstas 17 medidas e 85 ações prioritárias para proteger o concelho das alterações climáticas e 12 medidas com 80 ações para chegar à neutralidade carbónica. 

No centro das preocupações deste plano, está a proteção das pessoas com a criação de uma rede de refúgios climáticos, a utilização de furos para fins não potáveis, uma área municipal de deposição de sobrantes, o mapeamento de percursos de evacuação em caso de fogos florestais, o condicionamento e interdição do uso e ocupação do solo, a manutenção de estruturas de proteção costeira, campanhas de sensibilização, restauros ecológicos das linhas de água e do cordão dunar da praia da Fuzeta. 

Há ainda a necessidade de adaptar os espaços urbanos para o calor e a escassez hídrica, as infraestruturas para eventos extremos de precipitação e secas, assim como para responder à subida do nível do mar. 

Um dado animador do estudo, é que de 2005 a 2022, as emissões de carbono têm vindo a diminuir com a capacidade de sequestro estabilizada. O esforço é continuar essa diminuição de carbono, tendo o Município de Olhão e as restantes Freguesias do concelho a tarefa de renovar as suas frotas por veículos elétricos. 

Na sessão de apresentação do plano, o vice-presidente da autarquia, referiu que nas sociedades mais desenvolvidas, as alterações climáticas não são encaradas como uma arma política ou dogma, «mas como algo que está presente, não apenas no agora, como também na nossa história, e nós aqui no concelho de Olhão, temos tido vários exemplos de como as alterações climáticas podem fazer uma diferença muito grande na alteração do próprio território». Ricardo Calé deu o exemplo da seca extrema que tem assolado o sul do País, que obrigou a que as políticas de intervenção do território, procurassem soluções de fornecimento de água potável, dando o exemplo da dessalinizadora, num momento em que a pluviosidade deste inverno já voltou a encher barragens. «Como se pode constatar, o que podemos fazer da nossa parte para enfrentar estas mudanças do clima, é prevenir e executar aquilo que estiver ao nosso alcance». O autarca falou do plano municipal de ação climática como «um ponto de partida» para se chegar à neutralidade carbónica, apostando na preservação e no estudo da Ria Formosa, «quando conseguirmos estudar e compreender a capacidade da Ria Formosa em captar carbono, podemos ser um dos concelhos em que mais rapidamente atingirá essa meta, para uma comunidade mais resiliente e preparada para o futuro», sublinhou. 

Refira-se que o plano agora apresentado, estará em consulta e participação pública a partir da próxima semana, no site do Município de Olhão.