O presidente da Câmara de Olhão, entende que a agressão de um grupo de jovens a um imigrante nepalês, ocorrida no final de janeiro, não se tratou de um caso de xenofobia, mas de uma questão de problema mental.
"É um caso isolado, porque Olhão é uma cidade segura e tem sido procurada por muitos que nos visitam e por outros que decidem viver cá, sejam nacionais ou estrangeiros e o que aconteceu é uma questão desgarrada daquilo que é o dia a dia da cidade e do concelho, no entanto, é preciso perceber o que afinal se passa na cabeça de jovens de 14 e 16 anos, que para se divertirem, agridem pessoas vulneráveis, tratando-se de uma questão de saúde mental", alertou.
Em declarações ao Algarve Primeiro, António Pina deu os parabéns à PSP, pela rápida identificação dos jovens envolvidos na agressão, realçando a ajuda das câmaras de videovigilância, que se revelou essencial para o desenrolar da investigação.
O autarca ressalva que no País, há mais realidades destas, que não foram tão mediatizadas, "sendo até à data um caso inédito no Algarve, mas, segundo a PSP, há outros grupos de jovens que rivalizam entre eles tentando demonstrar qual é o que faz a asneira maior. Como disse, é um problema de saúde mental da nossa juventude e é preciso estarmos atentos. Todos nós temos um papel importante, está a falhar a família, mas também estamos a falhar enquanto comunidade para percebermos o que se passa", advertiu.
A autarquia quer reforçar a rede de câmaras de videovigilância na cidade, passando das atuais 26, para 67, numa estratégia de segurança para a comunidade. As novas câmaras deverão ser instaladas na Av. Bernardino da Silva, na Av. D. João VI, (EN125), até à urbanização da Chasfa.
O edil recordou que o município, é o primeiro do Algarve a ter um circuito público de videovigilância, estando a decorrer um segundo processo para a expansão do sistema, "pedimos a urgência das autoridades para a aprovação, mais precisamente do ministério da Administração Interna, tendo ficado provado que é um elemento muito importante para as forças de segurança, enquanto meio de dissuasão e de investigação".
De acordo com os mais recentes dados de um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), Health Behaviour in School-aged Children – envolvendo 6 000 adolescentes portugueses – revelam «um preocupante decréscimo global da sua saúde mental e física», em comparação com anos anteriores, com mais mal-estar psicológico, tristeza, stress e insatisfação.
Tendo por base o mesmo trabalho de investigação que envolveu 44 países, apesar da grande maioria dos adolescentes se considerar feliz (81,7%), 27,6% sente-se preocupado todos os dias, várias vezes por dia. 21,8% menciona que quando tem uma preocupação intensa, esta «não o larga» e «não o deixa ter calma para pensar em mais nada»; 16,2% refere que, sempre ou quase sempre, «não é capaz de controlar coisas importantes da sua vida» e 17,1% refere que sempre ou quase sempre, sente que as suas dificuldades «se acumulam de tal modo que não as consegue ultrapassar». Além disso, 27,6% nunca ou quase nunca sente «que as coisas lhe correm como queria» e 26,2% nunca ou quase nunca se sente confiante com a sua capacidade para lidar com problemas pessoais.
A maioria dos jovens respondeu ser fácil conversar com os pais, em especial com a mãe (85,5%), mas um quarto dos inquiridos refere ter dificuldades em falar com o pai (25%). «Retém-se aqui a importância de (na família, na escola e na comunidade/autarquia), estarem disponíveis ações com crianças e adolescentes que promovam a gestão e autorregulação das emoções, a resolução de problemas, a autoconfiança», avança o estudo.
Segundo a OMS, em todo o mundo, cerca de 20% das crianças e adolescentes sofre de problemas de comportamento, desenvolvimento ou emocionais, sendo que um em cada oito apresenta uma perturbação mental. Em Portugal, entre os 5 e os 14 anos, o maior impacto negativo na qualidade de vida deve-se às perturbações mentais e comportamentais. Além disso, segundo uma pesquisa da Universidade de Calgary, um em cada quatro jovens desenvolveu algum tipo de ansiedade durante a pandemia da covid-19, enquanto a percentagem de crianças e adolescentes com depressão subiu de 12,9% a 20,5%.
Perante estes resultados, toda a comunidade tem de ser chamada a intervir e a dar o seu contributo, uma vez que se trata de um cenário preocupante. Uma das questões que se coloca desde logo é, até que ponto os pais estão preparados para ajudar os filhos nestas circunstâncias?