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O que sente uma criança que não é amada pelos pais

Foto|Freepik
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Existem muitas diferenças entre uma criança que é amada de uma que, por algum motivo não recebeu o amor dos pais.

É um facto que poucos adultos assumem que não amam um filho, mas a situação não é assim tão incomum como possa parecer.
 
Há pais que não amam um filho porque não o desejaram, porque não estavam preparados para assumir a parentalidade, porque o casamento não estava bem, porque já tinham um filho e não queriam ter outro, porque não possuem habilidades afetivas à altura de ter uma criança, entre outros.
 
Segundo os especialistas nesta matéria, é fácil identificar os sinais  numa criança que sofre de falta de amor dos pais.
 
Uma criança que não é amada percebe o mundo como um lugar ameaçador, sente-se sozinha e faria qualquer coisa para mudar tudo o que está em seu redor. Vive uma permanente sensação de mal-estar e de desconforto e a tristeza faz parte do seu quotidiano.
 
Na maioria dos casos, os pais não assumem que não conseguem amar aquele filho ou filha, o que complica ainda mais a vida desse ser que, não tendo sido desejado, acaba por não conseguir encontrar o amor, o carinho, a compreensão e o apoio das suas figuras de referência.
 
Os adultos que não assumem essa falta de amor por um filho, culpabilizam-no de tudo, agridem-no física e psicologicamente e, em muitos casos, abusam das mais variadas formas, humilham, chamam nomes, ofendem e acabam por transferir para o mais pequeno a responsabilidade de tudo o que lhes acontece.
 
À medida em que vai crescendo, a criança acredita que é ela quem torna a vida dos pais num inferno, que tudo o que faz é reprovável, que a sua existência não faz qualquer sentido e habitua-se a sobreviver com a sensação de que tudo lhe pode acontecer, na sua maioria, situações desagradáveis. Tal sucede porque os pais não conseguem reconhecer a falta de amor e de interesse por aquela criança e acabam por dizer-lhe que a sua educação é assim e que é para o seu bem. Muitas vezes, existem irmãos, uns com o mesmo cenário de maus-tratos, outros menos e, na maioria das situações, há sempre o favorito cujo tratamento contrasta com os demais, o que aumenta a dor de quem não é amado.
 
Também é recorrente que estes pais não possuam capacidade de amar nenhum dos filhos, mas que consigam tratar melhor aquele que se identifica mais com eles.
 
Dentro destes pais, há problemas sérios de irracionalidade, imaturidade, ansiedade ou outros que os impedem de pensar de forma aceitável, de decidir se desejam ou não ter filhos e que nível de preparação sentem para o fazer.
 
Estas mães, não vivem uma relação estável e feliz com o companheiro e acabam por engravidar, muitas vezes para mostrar a fertilidade do casal à sociedade, porque não tomaram precauções, porque não pensaram nas consequências de um ato sexual desprotegido e daí por diante, mas acabam por culpar o filho ou a filha que nasce num ambiente devastador. A criança até passa a ser responsável por ter nascido e, muitas vezes, estas mães reproduzem fielmente aquilo que também já ouviram da sua mãe ou demais  familiares, pois tudo lhes serve de argumento para justificar a falta de paciência e de afeto.
 
Nas muitas afirmações que fazem ao filho ou filha, estas mães dizem frases horríveis como sendo: “tu irritas-me”, “odeio-te”, “não sei onde estava com a cabeça quando te fiz”, “nunca devias ter nascido”, “tu é que tens a culpa disto tudo” e daí por diante.
 
Algo parecido ocorre quando fazem exigências que as crianças não conseguem corresponder, seja porque são muitas, mal enunciadas, ou requerem mais habilidades do que as que correspondem ao seu grau de desenvolvimento e idade: querem que a criança fique quieta por muito tempo, preste atenção por um longo período ou arrume a mesa com a habilidade de um adulto. Nesses casos, são os próprios pais que, com a sua falta de visão, geram a sua própria frustração e o que é pior, fazem com que a criança se sinta frustrada e incompetente.
 
Uma criança que não é amada percebe que tudo o que faz irrita os pais e que não os consegue agradar de modo algum e, apesar de ainda não ter plena consciência disso, desenvolve um forte sentimento de culpa por tudo o que lhe acontece. Cria uma autoperceção negativa e desenvolve um desamparo aprendido: possui a sensação de que não importa o que faça, o resultado será sempre o mesmo e, portanto, incontrolável.
 
Ao não conseguir compreender o sentimento negativo que vivencia, esta criança que não é amada, desenvolve comportamentos ou ideias cuja função é libertar a angústia e a dor que sente.
 
Segundo os entendidos, estes são alguns dos comportamentos que revelam que uma criança não é amada e que sente uma dor profunda, apesar de não a conseguir verbalizar:
 
•Desenvolve medos e fobias: medo do escuro, de alguns objetos ou animais, de determinadas situações.
 
• Torna-se muito impulsiva. Não consegue conter a raiva, o choro, o riso ou qualquer emoção. As suas expressões emocionais são sempre muito exageradas.
 
• É instável. Hoje quer uma coisa e amanhã outra. Muda de comportamento de um momento para o outro, de uma forma mais pronunciada do que uma criança que vive num ambiente acolhedor.
 
• Desenvolve comportamentos ansiosos, não consegue estar quieta ou a desenvolver ações repetitivas que os pais desaprovam e que, em muitos casos não são corretas.
 
• Tem dificuldades de concentração, de estar atenta e de obter bons resultados escolares.
 
•Torna-se invisível ou, pelo menos, tenta. Está lá, mas é como se não estivesse. Tenta esconder-se, proteger-se, “não existir”.
 
• Tem poucas habilidades sociais: sente-se desconfortável ou muito agressiva quando está com outras crianças ou adultos.
 
Evidenciam ainda os especialistas que, uma criança que não é amada e que não recebe carinho, torna-se muito desconfiada e mostra muitos sinais de confusão e inquietação. O seu comportamento varia muito entre uma grande maturidade para a sua idade e, ao mesmo tempo, uma profunda infantilidade em certas circunstâncias. Por norma, são crianças tristes, sempre prontas a ajudar os outros e, sobretudo, a servi-los e muito carentes de afeto e de atenção, o que as pode tornar “alvos fáceis” para pessoas mal intencionadas.
 
De acordo com os entendidos, é importante registar que, o ser humano, desde muito cedo, precisa de carinho, de atenção, de palavras afetuosas e encorajadoras para que se desenvolva de forma estável e saudável, quando tal não faz parte do seu desenvolvimento, é natural que surjam problemas associados a essa carência e maus-tratos. É fundamental que os pais planeiem cuidadosamente a gravidez, que avaliem as suas capacidades, possibilidades e habilidades para que possam evitar que crianças venham ao mundo para sofrer.
 
Nunca é demais registar também que estas crianças vão precisar de muito apoio no futuro e que um bom acompanhamento psicológico as pode ajudar a minimizar a dor de terem nascido sem amor, mas há marcas que não desaparecem, sublinham os entendidos.
 
Fátima Fernandes