Há pessoas que, pura e simplesmente acomodam-se ao sofrimento, que não procuram soluções para os seus problemas e que acabam por aceitar a adversidade como um modelo de vida.
Sabendo que só controlamos 70% dos nossos dias e que os restantes 30% resultam de imprevistos, faz todo o sentido que aprendamos a admitir que os obstáculos existem e que temos de aprender a lidar com as situações, sendo que, a forma mais simples é retirar as lições de cada incidente, dar-lhes um significado e tentar fazer de outra maneira. Segundo a ciência, senão realizarmos este processo interior de aceitação e, ao mesmo tempo, de mudança nos nossos comportamentos e forma de pensar a partir do que nos acontece, acabaremos por nada aprender e por repetir infinitas vezes o mesmo erro e sofrer com o mesmo problema.
Ao mesmo tempo, o que nos torna mais fortes não é só passar pelas situações, mas sim, a aprendizagem que fazemos daquilo que experimentamos.
Há pessoas que simplesmente bloqueiam e ficam presas ao problema e que acreditam que o tempo tudo cura, muda e melhora, mas os cientistas dizem que não é bem assim, pois se permanecermos na mesma situação e de modo idêntico, «acabamos por fazer sempre as mesmas coisas e do mesmo modo, facto que em nada nos acrescenta ou permite alterar o ocorrido».
A resiliência, de acordo com os especialistas, não é um processo automático que resulta do simples facto de passarmos por uma adversidade. Esta habilidade é uma consequência da nossa forma de pensar acerca do que nos acontece e das muitas tentativas que fazemos para modificar algo em nós, para depois podermos mudar aquilo que depende da nossa atuação, pelo que, esperar que passe ou aceitar que não correu bem, não basta para que possamos conhecer habilidades ou para que as coisas melhorem numa próxima vez, afirmam os entendidos nesta matéria.
Naturalmente que, nos tempos atuais em que as redes sociais nos fazem quase acreditar que tudo se resolve num ápice, pode parecer estranho que tenhamos de ir ao fundo de nós e das situações para entendermos o que se passou, mas «efetivamente, não há melhoria sem uma tomada de consciência, sem uma reflexão, sem um querer aprender com a adversidade, sem uma vontade para tentar novamente de outra forma», afirmam.
Frases como “vai ficar tudo bem, vamos acreditar, alguém vai ajudar-nos”, fazem cada vez menos sentido a quem admite que a vida tem altos e baixos, que temos de aceitar algumas situações para podermos seguir em frente, mas igualmente torna-se imperioso que alteremos o nosso modo de pensar para que façamos algo novo e para que consigamos manter viva a motivação, o entusiasmo e a vontade de tentar de novo, pois se não o fizermos, aos poucos vamos perdendo a esperança e a predisposição, garantem.
Quanto mais aceitarmos que a adversidade faz parte da própria vida, quanto mais aprendermos com experiências, mais aptos estaremos para “prever” outros cenários e para proteger-nos dos mesmos riscos e perigos”. Também nos faz bem aceitar que o erro é um direito de quem aprende, que todos falhamos, temos momentos positivos e negativos e que é preciso retirar as lições e a necessária aprendizagem de cada situação adversa, explicam.
Quem simplesmente atribui um rótulo de “bom “ou “mau” ao que lhe acontece e deseja que “isso passe”, acaba por nada aprender com a situação e por repetir infinitamente o mesmo erro e a mesma dor, sublinham.
Ao admitirmos que é difícil, dolorosa ou desafiante, mas que queremos entender a razão pela qual isto ou aquilo aconteceu, despertamos para uma tomada de consciência que, em muitos casos, pode ajudar a evitar que o mesmo lhe aconteça e da mesma forma, clarificam acrescentando que, as situações são realmente positivas ou negativas, mas se não as interpretarmos, contextualizarmos e admitirmos que fazem parte da própria vida, “acabaremos por lamentar, por chorar, mas por não modificar nem a situação, nem a nossa forma de a encarar e ainda menos poderemos melhorar algo”, alertam.
Entende-se que, perante algo doloroso, queiramos rejeitar o sucedido, que nos irritemos com a situação, mas depois temos de compreender as causas ou pelo menos sermos capazes de lhes dar uma explicação para conseguirmos prosseguir e alterar algo em nós, nem que seja o modo de encarar o ocorrido , pois já isso é o primeiro passo para termos a sensação de algum controle sobre a situação, o que diminui a culpa e dá lugar à responsabilidade sobre os nossos comportamentos; aquilo que podemos modificar para alterar.
De acordo com uma publicação na revista: “A Mente é Maravilhosa”, resiliência não é enfrentar a adversidade, é “navegar” com ela, sem recorrer à fuga, a atos heroicos, a medos ou bloqueios, mas sim, validar aquilo em que pode e consegue apegar-se, pois será isso que irá funcionar como uma âncora que o segura e protege numa tempestade que tudo arrasta, explica a publicação destacando que, “essa âncora constitui-se pelos nossos pensamentos, sentimentos e atitudes que nos ajudam a superar os mares revoltos sem que nos deixemos arrastar pelas correntes. Trata-se de uma âncora interna, que todos possuímos, mas que temos de descobrir dentro de nós, completa.
Para finalizar, é importante ter em conta que, todos temos momentos em que não conseguimos resistir à dor violenta, a situações que nos ultrapassam e fazem cair, mas não temos de envergonhar-nos, mas sim, aceitar que é normal, que é humano e que, para isso, existem profissionais na área da psicologia e da psiquiatria que podem ajudar-nos a recuperar o bem-estar, a prender com as experiências e a ressignificar a situação, mas não devemos acomodar-nos, bloquear ou desistir, aconselham.
Se preferir esperar que a situação passe e permanecer “em modo de sobrevivência”, a sua opção é tão aceite como a de quem preferir analisar a situação, aprender com a experiência e desenvolver habilidades para enfrentar a vida, mas o importante é saber que “ninguém é um herói que resiste a tudo, que não cai, que não sofre”, logo temos de encontrar a melhor fórmula interior para lidar com os problemas sem perder a esperança, a qualidade de vida e a saúde física e mental, sendo que, nem sempre o caminho mais fácil é o que nos faz vencer e enfrentar a realidade é sempre um porto-seguro para as adversidades, uma vez que nos permite pensar e reagir sem que nos acomodemos ao sofrimento.
Aprender com as adversidades é criar novas oportunidades, participar em novas experiências, manter-nos vivos e ativos, ao mesmo tempo em que aprendemos a lidar melhor com o que nos acontece; isso é resiliência.