A maioria das pessoas passa uma boa parte do seu percurso a pensar naquilo que deve mudar para ser mais aceite e feliz, mas será essa uma boa solução?
Na posição dos entendidos nesta matéria, existem aspetos que podemos alterar, aprofundar e melhorar na nossa personalidade, mas também muitos pontos que vão acompanhar-nos pela vida fora.
Há pessoas que desejam tanto mudar que se esquecem de quem realmente são e daquilo que podem fazer para se sentirem bem, mas conjugar este verbo parece ser um hábito de quase toda a população, uma vez que se acredita que, ao mudarmos podemos alcançar aquilo que desejamos, podemos sentir algo novo e até encontrar a desejada felicidade, mas as coisas não são bem assim.
É fundamental registar que, por muito que façamos alterações em nós próprios, vamos ter de confrontar-nos sempre com a insatisfação e o mal-estar, pois nem tudo depende de nós e, por muito que alteremos o que nos é possível, vão existir sempre aspetos que nos ultrapassam e que, efetivamente não conseguimos mudar.
O primeiro ponto a reter desde já é que, temos de aprender a aceitar-nos, respeitar-nos e sobretudo a conhecer-nos bem para que possamos saber aquilo com que podemos contar, o que realmente desejamos, para onde queremos ir e concretizar para depois nos posicionarmos melhor.
«Quanto mais partido retirarmos das nossas características melhor nos vai correr a vida», sublinham os psicólogos especialistas nesta matéria.
Ao mesmo tempo, anote que, o mal-estar por si só não é negativo, pois é quando percebemos que não estamos bem que ganhamos forças para lutar, para mudar de direção e para fazermos alterações no nosso modo de estar e de pensar, contudo, quando é persistente a sensação de que não estamos bem ou quando não nos conseguimos ajustar às situações e tirar o melhor partido daquilo que somos e que temos, devemos reformular algo e permitir-nos evoluir. Às vezes, basta mudar a forma de pensar para que tudo mude. Orientar o nosso pensamento ligeiramente para o lado direito, permite que vejamos algo noutra perspetiva e com mais clareza!
Na realidade, não se trata de mudar, de ser diferente ou de negar aquilo que somos. A questão vai mais pelo lado de assumir uma perspetiva mais inteligente e compreensiva connosco próprios para podermos aproveitar melhor os nossos talentos e limitações.
De acordo com os entendidos, «podemos mudar a nossa forma de agir, mas não o nosso modo de ser». Somos caracterizados pelo nosso temperamento, pelo nosso património genético e algumas condições socioculturais que marcam a maneira como nos desenvolvemos e posicionamos no mundo.
O temperamento e o caráter básico podem ser polidos, melhorados, potencializados, mas em termos essenciais, não é possível mudar. No entanto, existe uma espécie de “mercado da personalidade” que foi imposto e que insiste em promover a ideia de que há apenas «uma forma certa de ser» e «uma forma adequada de viver», mas seguir esta condição é construir uma negação de nós mesmos e uma ideia distorcida do nosso real valor e daquilo que podemos melhorar e permitir evoluir, explicam os especialistas.
«Somos todos diferentes uns dos outros e isso é que nos torna únicos e especiais. Não vale a pena tentarmos seguir um modelo ou padrão que, ainda por cima, em nada se ajusta ao que realmente somos, mas sim, devemos aceitar-nos, aprender o mais que conseguirmos e estar sempre prontos para crescer interiormente, pois é isso que nos valoriza e distingue nas mais variadas situações», completam.
Importa realçar que, «a opção de mudar só é válida no que se refere aos hábitos, aos aspetos da personalidade que não estão suficientemente cultivados, ou aos comportamentos que podem magoar a própria pessoa ou as outras». Quer isto dizer que, «o núcleo central do que somos deve ser preservado, já que, o mesmo é o que nos define», clarificam.
Idealmente devemos posicionar-nos naquilo que melhor se adequa às nossas qualidades positivas e negativas. Esta forma de estar refere-se ao emprego, aos grupos de pertença e às escolhas que fazemos, uma vez que, ao conhecermos bem as nossas potencialidades, seremos muito mais capazes de decidir e de procurar a necessária aceitação, o respeito e a reciprocidade. Com esta atitude perante a vida, «não temos de andar permanentemente preocupados em ter de mudar, mas sim, em pensar nas melhores estratégias para tirarmos partido daquilo que somos, sabendo que o empenho, o esforço, a determinação, a entrega, a disponibilidade e o querer aprender mais nos podem conduzir ao maior sucesso e bem-estar», evidenciam os mesmos entendidos.
«Ninguém tem que mudar para pertencer a um grupo, mas sim aprender a localizar-se para poder operar dentro dele», completam.
Aprenda a gostar mais de si, a cuidar-se, a estar disponível para ser mais e melhor e verá que é muito mais fácil estar satisfeito, dar o seu melhor e colher mais resultados positivos. Antes de pensar em mudar algo em si mesmo, pondere até que ponto é essa a melhor solução, qual é o benefício e se isso realmente é possível, pois poderá estar a perder tempo e energia que lhe vão ser úteis para afirmar-se, para aprender algo novo, para participar num grupo diferente e para aproveitar o seu potencial com pessoas que realmente gostam de si e que o valorizam.