Sendo um processo natural, não deixa de causar alguma instabilidade aos progenitores. Há coisas que os filhos não contam aos pais seja por medo, seja por vergonha ou necessidade de afirmação.
Os pais não devem ter ilusões de que os filhos lhes contam tudo, até porque seria impossível que os mais novos conseguissem fazer um registo diário de todas as suas ações e pensamentos, no entanto, quando os adultos são abertos á conversa e estão disponíveis para ouvir, é natural que as crianças e jovens lhes abram o coração e que desabafem o que estão a pensar e a sentir.
É importante que os pais nunca percam de vista a importância de criarem um espaço de diálogo, seja à hora da refeição, seja num qualquer momento do dia onde todos possam falar acerca de si mesmos, pois é nesse tempo de encontro que os mais novos dizem o que lhes passa pela alma, relatam os seus dramas, alegrias e medos.
Na posição dos especialistas, há temas que os filhos têm receio de abordar com os pais, sobretudo devido ao medo da crítica e da rejeição, pelo que, quando os adultos evitam o julgamento e se mostram recetivos para aceitar, compreender e ouvir os filhos, a relação flui com naturalidade e abertura.
Está provado que os filhos têm medo de contar aos pais que têm um/a namorado/a. Nos primeiros tempos da adolescência, quando os mais novos começam os primeiros namoricos, é natural que se fechem mais e que temam contar esse facto pelo medo da crítica e de mostrarem aos pais que já estão mais crescidos e que, provavelmente já não precisam tanto da sua atenção.
Ao desconfiarem do que se possa estar a passar, os pais devem mostrar-se disponíveis para conversar e para entender que a natureza humana é mesmo assim e que esse será mais um desafio e uma etapa de desenvolvimento. É fundamental que os pais, de forma tranquila e serena, forneçam algumas dicas e cuidados para que o filho se saiba proteger, por exemplo de uma gravidez indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis, mas que sinta que os pais continuam ao seu lado para o apoiar.
Os filhos também têm medo de dizer aos pais que começaram a consumir algum tipo de drogas e, normalmente não pedem ajuda porque sabem que os adultos lhes vão apontar o dedo e, em muitos casos, castigá-los ou agredi-los. A situação é delicada e é fácil que os pais percam a calma, mas é crucial que conversem com o filho, que se mostrem disponíveis para ajudá-lo e que mantenham o amor e a compreensão por ele, pois só assim ele poderá libertar-se dessa fase negativa.
Muitos jovens também sentem receio de contar aos pais que se sentem atraídos por uma pessoa do mesmo sexo. É evidente que a abertura dos adultos sobre a homossexualidade poderá minimizar esse medo e transformá-lo em compreensão. Os pais não são donos nem do corpo, nem dos sentimentos dos filhos, por isso, devem procurar entender e ajudar no que for necessário.
Os filhos têm muito medo de assumir uma posição diferente da dos pais, sobretudo porque temem ser rejeitados, pelo que, acabam por esconder tudo o que se afasta daquilo que aprenderam em casa.
Na mesma sequência, os jovens receiam contar aos pais que consumiram álcool com os colegas ou amigos ou que experimentaram algo que sabem que é contra a vontade dos progenitores.
Também temem dizer aos pais que faltaram a uma aula ou que chegaram atrasados à escola porque fizeram outro trajeto ou perderam tempo com colegas ou amigos. Os jovens também evitam dizer aos pais que sofrem de bullying na escola, que se sentem deprimidos ou com qualquer problema, que estão a sofrer por algum motivo ou que são alvo de abusos por parte de alguém, mesmo que seja um familiar.
É ainda muito comum que os jovens não digam aos pais o tipo de pesquisas e sítios que consultam na Internet, que falem pouco sobre os seus amigos, sobretudo quando estes são muito diferentes do modelo que receberam de casa e que temam a observação de outros adultos que possam ir falar deles aos seus progenitores.
Regra geral, os filhos sentem medo de dizer aos pais tudo o que sabem que se afasta da educação e das orientações que os mais velhos lhes forneceram, por isso, é importante que os pais evoluam também à medida em que os filhos vão crescendo, pois só assim os conseguem entender, respeitar e aceitar.
O desafio é grande, mas os adultos têm de assumir e aceitar a importância que têm ao longo do desenvolvimento dos filhos. Ao não acompanharem os jovens, estes acabam por não ter ninguém em quem confiar e a quem recorrer quando precisam de ajuda, daí ser fundamental que os pais mantenham uma relação de proximidade com os mais novos e que construam um vínculo de qualidade.
Fátima Fernandes