Ao fazermos de conta que nada nos afeta, acabamos por andar sempre à procura de situações mais tranquilas e que nos alimentem a ilusão de que está tudo bem. Passamos por um divórcio, mas fazemos de tudo para evitar a dor, sofremos um acidente, mas fazemos de conta que está tudo bem, não dizemos o que pensamos e o que sentimos para que não tomemos consciência do que se passa e para que os outros não nos vejam como frágeis, evitamos falar sobre o nosso estado de saúde com medo de admitirmos que estamos doentes e, de um modo geral, passamos a vida a fugir do conflito e do confronto com a nossa própria realidade.
Muitos estudos sobre este assunto demonstram que é a acumulação de muitas situações, por muito pequenas que possam parecer que, dão lugar ao stress e à doença mental.
Os especialistas destacam alguns problemas do dia a dia que nos afetam a saúde mental e emocional e que que tentamos a todo o custo evitar que nos perturbem, sem que façamos algo para melhorar o nosso bem-estar:
- Necessidade de manter uma rotina oficialmente aceite, mesmo que não nos satisfaça;
- Necessidade de manter uma determinada imagem social, hábitos, compromissos e aparente normalidade pelo medo da crítica e da rejeição;
- Medo da mudança, da perda, de admitir que estamos mal e que algo nos provoca dor;
- Sentimento de obrigação face a uma determinada rotina.
De acordo com os investigadores, em muitos casos, não nos apercebemos do quanto essas rotinas instaladas são uma fuga ao sofrimento e medo do confronto ou do conflito, por isso, arrastamos essa conduta sem que façamos algo para mudar.
Os entendidos destacam algumas rotinas prejudiciais e stressantes que merecem uma reflexão e uma posterior mudança:
- Atitudes superprotetoras.
- Ciúmes do parceiro.
- Conflitos no trabalho, no casamento, com familiares ou amigos.
- Problemas de comunicação com os demais, com sentimentos de inadequação e incompreensão;
- Sentimentos de impotência e a sensação de que não somos suficientemente capazes de realizar algo em casa, na família ou no trabalho;
- Discussões e gritos que não o deixam descansar.
- Isenção de responsabilidades.
- Medo do compromisso;
- Não conseguir corresponder ao que os outros esperam de nós;
- Falta de controle e gestão emocional;
- Acúmulo de tarefas.
- Mau ambiente familiar;
- Conviver num clima de desconfiança;
- Sensação de desconforto constante;
- Sentimentos de incompreensão e de rejeição;
- Sensação de que não somos aceites, amados e respeitados;
- Sensação de dar e de não conseguir uma valorização e uma retribuição;
- Excesso de exigência seja para connosco próprios, seja por parte dos outros.
Não se esqueça de que, dependendo da pessoa, a situação pode ser mais ou menos stressante.
Reflita: até que ponto isto que aceito como normal está a prejudicar-me como pessoa? Como posso estabelecer limites para que os outros não me faltem ao respeito? Devo ou não priorizar os outros e colocar-me em segundo plano? Quem é que deve fazer as suas próprias escolhas e saber o que é melhor para mim? Como devo construir uma proteção que evite que abusem de mim? O que é que devo dar aos outros para que me respeitem? Posso admitir continuar a conviver com pessoas que não me aceitam e respeitam? Quem é que deve assumir o controle sobre a sua própria vida e ser responsável pelos atos que pratica?
Muitas vezes não alteramos o que está mal porque vivemos na memória de quando tudo nos era agradável, mas deixou de o ser, seja porque nós mudamos, a situação alterou-se ou as pessoas adotaram outro comportamento, logo, não podemos desejar que volte aquilo que já passou e ficar eternamente à espera desse retrocesso. No entanto, são muitas as pessoas que se sentem culpadas pelo que já tiveram, aquilo de que gostaram e face às pessoas que já não têm na sua vida.
A sensação de impotência por não conseguirmos mudar os outros e as situações, leva-nos ao sofrimento e ao stress. Contudo, é essencial que percebamos e aceitemos que as situações mudam e que, na maioria das vezes, nada fizemos ou podíamos ter feito para evitar essa alteração. A vida é dinâmica, tem altos e baixos, somos todos distintos, com interesses diferentes e, mesmo que não queiramos e que não nos apercebamos, todos mudamos, logo, não podemos estar sempre à espera que tudo permaneça tal como era. No meio de tudo, o importante é que consigamos passar pelas mudanças e encontrar sempre um porto seguro, onde nos sintamos estáveis, confortáveis e respeitados.
Caso não encontremos uma explicação para o que acontece, não saibamos ver a realidade noutra perspetiva, sabendo que há factos que temos de aceitar, outros que podemos melhorar e situações que tentamos ultrapassar, acabaremos por desenvolver stress crónico, por andarmos sempre mal humorados, irritados, a aceitar aquilo que não devemos, mas infelizes e desajustados, a conviver com pessoas que nos prejudicam, mas não acreditamos que merecemos mais e, em pouco tempo, a nossa vida torna-se infeliz, amarga e depressiva.
Não é a nossa capacidade de luta, entrega ou sacrifício que fará com que as coisas mudem para melhor, mas sim, a sua coragem para enfrentar aquilo que o magoa, faz sofrer e que precisa de ser corrigido; primeiro dentro de si, depois em tudo á sua volta. Desenvolver a inteligência emocional torna-se fundamental para aprender a não normalizar o que não é normal. É aprender a ver as coisas tal como elas são e a não aceitar aquilo que não lhe pertence, que não faz parte de si e que se afasta da sua qualidade de vida e bem-estar. Ninguém aguenta remar contra a maré durante muito tempo sem que isso provoque um profundo desgaste físico, mental e emocional.
Não deixe que as suas rotinas diárias o tornem prisioneiro e que o afastem dos seus desejos, dos seus sonhos e da liberdade para ser quem realmente é. Cabe a cada um de nós descomplicar a vida fazendo as mudanças necessárias no que está mal, que nos corrói e que não nos acrescenta nem valor, nem autoestima, fatores essenciais para uma vida com mais qualidade e sentido.
Reserve um tempo diário para si, analise-se frontalmente, identifique o que está mal, mude o que o incomoda, rodeie-se de pessoas que o aceitam, estimam e valorizam e deixe ir aquilo que não lhe faz bem ou que deixou de fazer-lhe sentido porque já não aceita ser maltratado.