Dicas

Neurocientista explica porque temos “explosões de raiva”

Neurocientista explica porque temos “explosões de raiva”
Neurocientista explica porque temos “explosões de raiva”  
Foto - YuliiaKa / Freepik
As pessoas explosivas têm sempre um motivo para o ser. Descobrir as causas, ajuda a reduzir os ataques de raiva.

Numa entrevista aos Science of Us, o investigador norte americano,  R. Douglas Fields explicou os motivos que nos levam a sentir momentos de raiva intensa recorrendo ao seu novo livro, Why We Snap: Understanding the Rage Circuit in Your Brain ("Por que explodimos: entendendo os circuitos da raiva no seu cérebro".
 
Fields esmiuçou todas as causas que nos levam a "explodir" e agrupou-as em nove secções: integridade física, insulto, família, ambiente, sexo, ordem social, dinheiro, tribo e impedimento, esta última relacionada a tudo o que nos tolhe, física ou psicologicamente, e causa a sensação de  encarceramento. O neurocientista e investigador destacou que, sempre que nos sentimos ameaçados «é como se algo essencial para a nossa vida estivesse em risco –pelo que, o cérebro prepara-se para a discussão para defender-se.
 
"Todos temos esses 'circuitos' nos nossos cérebros, uma vez que, o ser humano desenvolveu-se numa natureza selvagem, num ambiente em que só os melhores sobrevivem e, os nossos cérebros são os mesmos desde os primórdios, mas o ambiente em que vivemos é muito diferente”, explicou Fields.
 
O mesmo cientista revelou ainda que, as pessoas ansiosas reconhecem as situações de perigo com mais rapidez, mas isso não quer dizer que reajam da melhor forma, na medida em que, a “explosão de raiva” não é consciente e acaba por ocorrer com muita rapidez, o que limita a capacidade de pensar antes de reagir e de medir as consequências dos nossos atos.
 
O processo é rápido porque, perante uma situação que nos desagrada, a área cerebral que é acionada é a mesma que interfere quando nos sentimos ameaçados por algo real ou imaginário. A resposta perante algo que nos assusta ocorre em segundos, razão pela qual é quase automática e difícil de controlar, explicou acrescentando que, curiosamente, a mesma área do cérebro que reage numa fila de trânsito ou quando algo não ocorre como gostaríamos, é a mesma que é acionada quando vemos alguém em perigo e sentimos uma forte necessidade de ajudar, sem que, muitas vezes pensemos nas consequências e como estivemos em perigo. É daí que surgem os atos heroicos, completou.
 
Tal como a resposta cerebral é subconsciente e automática, também a física o é, daí que assistamos a tantas situações de impulsividade, irrefletidas e que, em muitos casos, geram conflitos e até incidentes graves. Foi tudo numa questão de segundos e, depois da ação praticada, em muitos casos, nada há a fazer para remediar, sendo que, o segredo é aprender a detetar aquilo que nos provoca raiva, que nos “tira do sério” para, aos poucos, aprendermos a controlar esses impulsos, afirmou.
 
À mesma fonte, Fields admite que tentar acalmar alguém nervoso, muitas vezes, acaba por agravar a situação. "Mas identificando o que gera essa raiva, é possível virar o jogo", explicou. Quando a pessoa se torna consciente de que este gatilho vem de um instinto ancestral, é mais fácil perceber que reagir raivosamente pode ser um exagero. "De repente, percebemos que isso não é motivo para uma discussão – e o sentimento negativo desaparece, regista.
 
Para este autor e investigador, o segredo passa por compreender que, efetivamente, tendemos a reagir por impulso, automaticamente, tal como o fazíamos há 10  mil anos atrás, pelo que, temos de contextualizarmo-nos no tempo presente admitindo que não temos assim tantos motivos para agir de forma tão exagerada e que, na maior parte das vezes, acabamos por responder de forma exaltada por motivos fúteis. “Ao tomarmos consciência disso, aos poucos vamos aprendendo a lidar com as emoções negativas e a dar-nos oportunidade de entender um pouco o lado do outro, as razões que o levam a não fazer aquilo que queríamos, pois afinal, somos todos diferentes uns dos outros, ainda que a impulsividade seja comum.
 
Quando alguém reflete, acaba por minimizar o impacto da situação, reduzir a fúria e até acalmar naturalmente o outro e, este segredo estende-se a todas as áreas de vida em que participemos. O essencial é que não saiamos de casa com uma necessidade de descarregar sobre os outros aquilo que nos aflige, que nos magoa e que atuemos sem pensar. Parar, escutar, olhar e, muitas vezes, respirar fundo para que se analise a situação em si e o nosso comportamento, ajuda a evitar complicações e ataques de raiva desproporcionais à ocasião. “Entender como algo funciona é sempre a melhor forma  de controlá-la e de usá-la melhor, experimente”, conclui o especialista na mesma entrevista à Science of Us.