Em primeiro lugar, os investigadores afirmam que, as características cognitivas de uma pessoa agressora não se limitam ao género, pelo que são comuns tanto em homens como em mulheres. A diferença está no modo como o cérebro funciona.
No caso particular da violência doméstica, os aspetos sociais, culturais e psicológicos influenciam muito. No entanto, o recurso frequente desse tipo de comportamento forma conexões neuronais específicas e um processamento singular de pensamentos, o que leva a que os cientistas abordem as características cognitivas específicas de um agressor.
Um estudo realizado numa universidade do País Basco mostra que, «os agressores apresentam algumas distorções cognitivas como sendo esquemas mentais equivocados usados para interpretar as situações. A partir disso, foi elaborada uma lista das principais características cognitivas de um agressor que apresentaremos abaixo.
Note-se que, esses esquemas mentais próprios dos agressores funcionam como modo de racionalizar, justificar e minimizar tanto a violência que praticam, como as queixas e o sofrimento das suas vítimas. O agressor sabe que o que faz não é correto, muito menos aceite socialmente, pelo que recorre a explicações e justificações distorcidas para evitar a crítica e a punição, mas continuar a agredir, explicam os neurocientistas apresentando as principais distorções:
• A negação: negam que as agressões ou abusos são um problema que deve ser resolvido porque consideram-nos algo normal e passageiro.
• A minimização: minimizam a agressividade com expressões como “isso não foi nada”, “é ele /a que está a inventar, que exagera, que se queixa sem motivo. “eu nem pensei no que disse e acho que nem é assim”.
• A atribuição de culpa aos outros: dizem que o outro foi quem os levou a cometer determinados comportamentos.
• Inteligência verbal média ou baixa: em geral, os agressores são menos proficientes com a linguagem do que o grupo etário normativo.
• Memória: nas investigações realizadas, os agressores demonstraram uma menor capacidade de armazenar e recuperar informações não verbais. Por norma, não registam totalmente os rostos das pessoas nem certas particularidades do espaço em seu redor, aponta um outro estudo.
• Detrimento de funções executivas: têm a ver com o planeamento, execução e regulação do comportamento, apresentando-se mais fracas e ineficazes.
• Descodificação emocional: os agressores têm mais dificuldades em identificar expressões faciais e diferenciar emoções e sentimentos como o medo, ansiedade, angústia, entre outras.
Por fim, importa registar a importância de proporcionar um ambiente estável, saudável e seguro para educarmos as nossas crianças, na medida em que, os trabalhos de investigação demonstram uma forte ligação entre alguém que foi abusado e/ou agredido e a possibilidade de fazer o mesmo se não for tratado ou impedido.
O ambiente onde crescemos e estamos inseridos é um dos principais veículos para alimentar ou travar a violência doméstica e, esta não se restringe a homens, mas a ambos os géneros, como vimos acima. Assim, é fundamental que eduquemos para a harmonia, para o respeito, para as regras, com afeto, compreensão e diálogo e que, «mostremos claramente que a violência não é a melhor forma de resolver os problemas, muito menos de viver em família ou na comunidade».