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Mas afinal, o que é a parentalidade gentil?

Mas afinal, o que é a parentalidade gentil?
Mas afinal, o que é a parentalidade gentil?  
Foto Freepik
Erradamente, muitos pais acreditam que ser compreensivo e gentil é deixar fazer tudo, mas a ciência clarifica.

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Os especialistas identificam quatro fatores como essenciais no desenvolvimento de uma criança: estrutura, calor humano, reconhecimento como indivíduo e uma abordagem parental idealizada para largos anos.

E se errar, não se recrimine assim tanto, porque as crianças não precisam de um modelo de um ser humano perfeito, precisam de quem admita as falhas, que as corrija e que igualmente aceite as imperfeições dos outros.

A educação gentil refere-se à capacidade de conversar, ouvir, estabelecer regras e limites, dar e receber respeito aos filhos sem recorrer a qualquer tipo de violência. 

Num artigo da CNN Portugal lê-se que, «a paternidade gentil é muitas vezes mal interpretada e tomada como significando mimo», explica o Brian Razzino, psicólogo clínico licenciado em Falls Church, Virgínia. Não é esse o caso.

Ser gentil com os filhos - ou o que muitas pessoas querem dizer quando falam sobre isto - é muitas vezes ensinar habilidades para a vida adulta e impor limites, e é algo que tem muito a oferecer às famílias, assegura.

Esta estratégia está a tornar-se popular, uma vez que quase metade dos pais afirmam que estão a tentar educar os filhos de forma diferente daquela em que cresceram, de acordo com um relatório de 2023 do Pew Research Center. Esses mesmos pais contam que procuram dar mais amor e afeto aos seus filhos, ter conversas abertas e honestas, gritar menos e ouvir mais, salienta o especialista ao canal televisivo.

O problema é que muitas pessoas, mesmo aquelas que se dizem pais carinhosos, divergem quanto aos pormenores. Eis o que precisa de saber sobre a última tendência da parentalidade:

Os investigadores psicológicos identificaram quatro estilos parentais principais: negligente, autoritário, permissivo e 'autoritativo'.

Os pais negligentes não têm níveis elevados de afeto para com a criança nem regras sobre o comportamento da mesma, afirma Nicole Johnson, conselheira profissional licenciada em Boise, Idaho. Uma criança pode fazer uma cena e partir um brinquedo e não obter grande resposta do seu pai negligente, que, de qualquer forma, pode não ter prestado muita atenção à forma como ela estava a brincar.

Autoritário refere-se a uma educação que se concentra na obediência e na resposta punitiva - pense “porque eu disse”, exemplifica Johnson. A criança que partiu o brinquedo seria provavelmente repreendida e mandada para o castigo pelo pai autoritário sem muita conversa para além disso.

A parentalidade permissiva centra-se no carinho para com as crianças, mas sem muita estrutura ou limites, acrescentou. Esse pai reconheceria que a criança provavelmente partiu o brinquedo por frustração, mas não lhe daria consequências.

A parentalidade 'autoritativa' procura encontrar um equilíbrio entre estrutura e carinho.

“Está mais centrada na ideia de melhorar a sua capacidade de compreender o que se está a passar consigo próprio, os seus próprios sentimentos”, esclarece Razzino. “Os pais estão realmente concentrados em ter empatia pela criança, em ter respeito quando falam com ela e compreendem que os seus sentimentos são válidos.” Ainda assim, “mantêm alguns limites muito firmes e claros”.

A parentalidade gentil não está entre os principais estilos parentais. Embora seja popular nas redes sociais, é um termo relativamente novo que não foi muito descrito na literatura científica, realça a CNN.

A parentalidade gentil, tal como a parentalidade 'autoritativa', realça a importância dos limites, mantendo o afeto e a empatia. No entanto, este conceito é aplicado de forma diferente em diferentes famílias.

Na sua investigação, Pezalla perguntou aos pais que se identificavam como pais gentis sobre as suas práticas. Enquanto alguns se assemelhavam a pais 'autoritativos', outros agiam de uma forma que se enquadrava mais num estilo permissivo, refere.

Em última análise, muito do que as pessoas chamam de paternidade gentil nos media sociais é apenas outro termo para paternidade 'autoritativa': manter a conexão com a criança, ensiná-la a regular as suas emoções e comportamento e impor limites como uma figura de autoridade atenciosa, resume Razzino, que também é o autor de "Awakening the Five Champions: Keys to Success for Every Teen".

Algumas pessoas criticam esta forma de educar como sendo demasiado branda para as crianças, dizendo que o mundo é duro e que as crianças têm de aprender a lidar com isso, acrescenta Johnson.

Mas o objetivo deste estilo parental não é proteger o seu filho da responsabilidade; é antes chegar a um ponto mais calmo para os pais e para a criança, dar às crianças ferramentas para fazerem boas escolhas e depois impor um limite com consequências lógicas, aponta.

As consequências lógicas são aquelas que se relacionam diretamente com um comportamento: se bater no amigo com o camião, a brincadeira acaba, explica Razzino.

Para as pessoas que entendem a paternidade gentil como uma forma de paternidade 'autoritativa', há duas partes: validar que se compreende os sentimentos que as crianças estão a sentir e ensinar que nem todas as formas de expressar esses sentimentos são aceitáveis ou produtivas, refere Johnson.

Esta abordagem tem se mostrado eficaz em pesquisas para criar adultos mais saudáveis, resilientes e bem-sucedidos, diz Razzino.

Um estudo de 2022 concluiu que as crianças criadas com um estilo parental 'autoritativo' tinham mais probabilidades de obter resultados académicos positivos, enquanto que, num outro trabalho verificou-se que, as crianças educadas por estes pais, apresentavam mais satisfação para consigo mesmas e para com a vida.