Em nota divulgada na plataforma da UAlg, lê-se que este biomarcador está associado às mutações mais comuns do cancro da mama e poderá ajudar a identificar o tratamento mais adequado para cada paciente.
Estamos na era de "personalizar" os tratamentos do cancro, o que só poderá acontecer se compreendermos melhor o modo como os tumores se desenvolvem e comportam durante a terapêutica. Seguindo esta linha de raciocínio, um grupo de investigadores, liderado por Ana Teresa Maia, docente da UAlg e investigadora do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), acaba de publicar um artigo na revista "npj Breast Cancer" que identifica um novo biomarcador para prognóstico em pacientes com cancro da mama.
A investigadora Ana Teresa Maia refere: “Neste trabalho olhámos para o gene PIK3CA, que é o mais frequentemente mutado em tumores da mama, e tentámos perceber a sua importância clínica, que até agora era bastante elusiva”. Os investigadores descobriram que quando avaliam estas mutações de modo diferente do que é feito atualmente elas têm um carácter clínico importante, sendo indicadoras do prognóstico de cada paciente. “É como se olhássemos a mesma coisa, mas com óculos diferentes”, refere a investigadora. Ana Teresa Maia explica ainda: “Das várias moléculas que existem numa célula, o ADN contém a informação básica acerca do funcionamento celular, incluindo as mutações responsáveis pelos tumores. Mas o ARN revela a expressão dessa informação, ou seja, representa a forma como a informação é lida. Foi ao olhar para o ARN de tumores de diversos centros clínicos que identificámos uma relação entre a expressão das mutações e a probabilidade de sobrevivência destas pacientes, as características clínicas e moleculares dos tumores, assim como os mecanismos que pensamos estar subjacentes a estas associações.”
Este trabalho contou com a colaboração de parceiros da University of Cambridge e do Netherlands Cancer Institute, entre outros.
Questionada sobre o impacto que esta descoberta poderá vir a ter na comunidade ou na vida das pessoas, Ana Teresa Maia explica que “desde o ano passado que foi aprovado o uso de um fármaco específico para tratamento de tumores com estas mutações. Nós acreditamos que estudos como o nosso vêm ajudar a identificar com alta precisão as pacientes que podem beneficiar deste tratamento inovador”.
Os resultados alcançados são cruciais para pacientes e médicos. “As pacientes porque veem melhorias na compreensão da doença e na sua gestão clínica, o que leva a um aumento da qualidade de vida e das chances de sobrevivência. Os médicos, porque vão ter mais uma peça do puzzle nas mãos, que lhes vai aumentar a confiança nas suas decisões clínicas”, conclui a investigadora.
Este trabalho já deu origem a um pedido de patente para o desenvolvimento de testes para integração na prática clínica e foi também premiado pela Agência Nacional de Inovação (ANI), através do concurso Born from Knowledge (BfK) Ideas, que pretende promover uma cultura de valorização do conhecimento científico e tecnológico em Portugal. Atualmente, foi criada uma spin-off instalada na UALG TEC START, incubadora da UAlg, para licenciamento e desenvolvimento da tecnologia.