A investigadora da Universidade do Algarve Vânia Baptista vai receber 300.000 euros da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento para estudar a “fase perdida” das migrações de larvas de peixe, entre a desova e o berçário, foi hoje anunciado.
O projeto “Finding Home – Discovering the lost phase of fish species”, liderado pela investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMar) da academia algarvia, venceu a quinta edição do FLAD Science Award Atlantic, que garante financiamento de três anos para explorar, em quatro países banhados pelo Oceano Atlântico – Portugal, São Tomé e Príncipe, Estados Unidos e Dominica –, uma área de conhecimento ainda com muitas lacunas.
“O objetivo principal é estudar aquilo a que chamamos a fase perdida das larvas de peixe, no seu ciclo inicial de vida, entre a desova e a ‘nursery’, ou berçário, onde têm as condições ideais para se alimentarem, crescerem e tornarem-se adultos, ficando disponíveis para a pesca”, diz Vânia Baptista, em declarações à Lusa.
A investigação vai apurar as capacidades natatórias das larvas neste ciclo de vida inicial dos peixes e os processos e mecanismos que lhes permitem mudar das áreas de desova, “mais afastadas da costa”, para os habitats de berçário, “de que é exemplo a Ria Formosa”, no Algarve, através do possível uso de pistas olfativas ou auditivas.
“Queremos fazer isto aqui no Algarve para espécies importantes como a sardinha, biqueirão ou sargo, e também queremos fazer em São Tomé e Príncipe, usando uma espécie muito importante em termos económicos, meio de subsistência de localidades mais isoladas, o peixinho”, descreve a investigadora da UAlg, com estudos já realizados sobre este peixe, que no seu habitat “precisa de escalar cascatas”.
Este projeto combina análises comportamentais, moleculares, de modelação e de gestão, incluindo a utilização de uma câmara de natação à deriva, com recurso a tecnologia desenvolvida na universidade norte-americana de Miami, para perceber como é que as larvas de peixe se orientam.
Vânia Baptista reconhece que esta “é uma área muito pouco conhecida ainda” e uma “lacuna no conhecimento porque é muito difícil de estudar”, sendo necessário “ir passo a passo”, envolvendo “muito tempo e muitos testes” para validar os modelos utilizados.
Ao cabo dos três anos de projeto, que deve arrancar em janeiro de 2025, a especialista do CCMar espera “preencher essas lacunas” e ganhar um entendimento mais concreto da variabilidade das migrações das larvas de peixe e dos impactos das alterações climáticas, contribuindo ainda para estratégias de gestão sustentável, proteção e conservação destes recursos.
Neste âmbito, em São Tomé e Príncipe e na Dominica, “países em desenvolvimento”, serão envolvidas as comunidades locais no planeamento, recolha de dados, debate de resultados e elaboração de medidas de gestão.
“Uma coisa muito importante neste projeto é incluir as comunidades locais, partilhar o nosso conhecimento e incluir o seu conhecimento, que é muito valioso”, sustenta Vânia Baptista, licenciada em Biologia Marinha e professora convidada na UAlg.
O projeto vencedor do FLAD Science Award Atlantic 2024 “vai permitir aumentar o conhecimento” numa área científica “na qual há ainda tanto por explorar”, com “ganhos potenciais tremendos” para a investigação científica, “mas também para a gestão, proteção e conservação dos recursos e ecossistemas do Atlântico”, refere Michael Baum, membro do conselho executivo da FLAD com o pelouro da Ciência, citado em comunicado.
Este prémio pretende distinguir “a nova geração de cientistas portugueses” e “apoiar projetos com um grande foco na obtenção de resultados práticos, como a criação de engenharia e tecnologias, que facilitem” a compreensão e exploração dos ecossistemas atlânticos.
Lusa