Ambiente

Investigador da UAlg alerta que clima mudou no Algarve, chegou a desertificação

 
Apesar da chuva que tem caído nos últimos dias em todo o país, o Algarve continua em situação de seca severa e o cenário nas barragens e outras reservas de água na região, pouco ou nada se alterou. Especialistas alertam para a gravidade da situação e afirmam que se não chover em abundância nos próximos meses, o Algarve só terá água até abril.

A Antena 1, dá conta que de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, (APA) "as 6 barragens da região juntas possuem apenas 24% de capacidade total".
 
Segundo o investigador da Universidade do Algarve, Nuno Loureiro, "gastamos entre 100 e 120 milhões de m3 por ano, o que significa que neste momento já não temos reservas para 1 ano, estamos sumariamente dependentes do que chover agora e se não chover, entramos numa situação de crise profunda de falta de água e o mesmo acontece com as reservas subterrâneas, que estão também num momento de exaustão". Em declarações à Antena 1, o investigador sublinha que este não é um problema de consumo imediato mas de um problema ligado ao clima que mudou, "deixou de chover no Algarve".
 
Feitas as contas, chovem menos 120ml por ano do que chovia há 30 anos na região. "Estamos a assistir a uma mudança estrutural, falamos de desertificação", alerta Nuno Loureiro, que considera a construção da dessalinizadora no Algarve, uma solução para o consumo humano, mas não para outros setores: "não é solução para a agricultura, para o golf, nem para o território, de maneira nenhuma o custo da água dessalinizada permite utilizá-la para esse tipo de utilizações".
 
António Pina - presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, defende que uma solução é transferir água do Norte para o Sul, "é algo que o País tem de estudar". O responsável admite que se a situação não melhorar poderá haver um aumento significativo para os consumidores de grande consumo, "não estamos a pensar afetar a família média que consome até 15m3, mas começar a racionar água, se calhar temos de racionar pela via do preço". 
 
Outra questão que focou tem a ver com o tipo de agricultura que a região pode ter em função dos recursos hídricos existentes, "acima de tudo a captação de água não pode ser completamente desregulada, o acesso às águas subterrâneas é hoje completamente desregulado, cada um retira aquilo que entende e esse equilíbrio entre o que há para uns para a agricultura e pode não haver para o vizinho do lado, que também quer ser agricultor, tem que se estabelecer". Sobre esta matéria, António Pina defende que seja criado um sistema de cotas para a agricultura.
 
Pedro Coelho, diretor da APA, defende que se deve permitir plantações mais adequadas às disponibilidade hídricas da região, "não é possível não existir um controlo prévio na agricultura e acho que esta é uma mudança para as novas gerações que tem de existir. Não vamos conseguir um território e atividades agrícolas ou recursos em escassez com os atuais instrumentos", esclarece.